domingo, 23 de março de 2014
Palavras 40
SOLIDÃO - Nos olhos que olham para dentro de si, a presença ausente de quem um dia aqui esteve. Nem sempre o vazio representa estar só. Somos habitados por todos os que deixaram suas marcas em nós.
domingo, 9 de março de 2014
Gente Nova 20: Davi Kinski
Davi Kinski é ator, escritor e apaixonado por arte. Já fez teatro, dirigiu cinema e lançou, aos 25 anos de idade, seu primeiro livro de poesia, "Corpo Partido", Editora Patuá.
(Femme aux Bras Croisés, de Picasso)
Não deixe vazar
O desejo
Pela fresta do tempo
Acariciando o vento
Para amanhecer
Em paisagem
Azul e íntima
Desses teus
Segredos
Submersos
Avessos
Versos
Sem o teu
Pretexto
Que palpita
Na ilha
Dos meus
Pensamentos .
segunda-feira, 3 de março de 2014
Algumas dores
Nos dois últimos dias, vi dois
filmes que concorreram ao Oscar: “Philomena” e “12 anos de escravidão”. E o que
doeu, o que abriu buraco no dentro de mim, é saber que tudo aquilo aconteceu.
Em ambos, a crueldade que humanos são capazes de impetrarem contra seus
semelhantes; em ambos, os algozes justificavam
suas ações em crenças inabaláveis. Uma mulher e um homem, uma branca e um
negro, os dois vítimas de um sistema que oprime em nome de uma verdade
discriminatória, segregadora.
Segunda dor
Dor outra, maior quem sabe, foi
perceber que o discurso do dominador foi assumido pelas vítimas, como se toda a
desgraça que se abateu sobre elas fosse natural. Até quando o oprimido fará
isso? Até quando aquele que padece de uma realidade cruel acreditará na própria
culpa do mal, julgando que tudo ocorre como deve ocorrer? Acuados pelo medo,
temerosos da mudança, a ação sendo inibida pelo receio de uma verdade mais
sofrida ainda. Assim, calam, assumem o verbo do outro, do dominador.
Terceira dor
Esta vivida, sobretudo ao
assistir “12 anos de escravidão”. Na plateia do GNC Moinhos, um nada de negros;
nos rostos dos que saíam, em sua maioria, uma expressão despreocupada, um ou
outro riso, como se não tivessem sido tocados pela dor pungente expressa na
tela grande, tudo talvez não passando apenas de um espetáculo cinematográfico. Como
não se deixar tocar, como sair incólume, como ter palavra leve, quando fomos
premiados com a possibilidade de repensar a vida passada, a fim de que
situações como as retratadas nos filmes jamais ocorram novamente? Pergunta que
ainda reverbera em mim.
E pensar que depois de assistir
a esse filme, depois de aprender nos bancos escolares o que foi a escravidão, há gente que segue acreditando que o sistema de cotas raciais é injusto. Ora, por
favor.
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