quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Palavras 22


FIM: todo o fim pressupõe um recomeço, um novo desejo de ser, como se, ao nos atirarmos num voo cego em abismo, desconhecêssemos o que lá embaixo nos espera. Engano, tudo é sempre, e apenas, esperança. Ela, sim, se destruída, certeza do fim.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Por um Brasil Literário

Recebo manifesto Por um Brasil Literário, de Bartolomeu Campos de Queirós:

Caio, hoje, me vi pensando como seria viver em um país de leitores literários. Pode ser apenas um sonho, mas estaríamos em um lugar em que a tolerância seria melhor exercida. Praticar a tolerância é abrigar, com respeito, as divergências, atitude só viável quando estamos em liberdade. Desconfio que, com tolerância, conviver com as diferenças torna-se em encantamento. A escrita literária se configura quando o escritor rompe com o cotidiano da linguagem e deixa vir à tona toda sua diferença – e sem preconceitos. São antigas as questões que nos afligem: é o medo da morte, do abandono, da perda, do desencontro, da solidão, desejo de amar e ser amado. E, nas pausas estabelecidas entre essas nossas faltas, carregamos grande vocação para a felicidade. O texto literário não nasce desacompanhado destes incômodos que suportamos vida afora. Mas temos o desejo de tratá-los com a elegância que a dignidade da consciência nos confere.A leitura literária, a mim me parece, promove em nós um desejo delicado de ver democratizada a razão. Passamos a escutar e compreender que o singular de cada um – homens e mulheres – é que determina sua forma de relação. Todo sujeito guarda bem dentro de si um outro mundo possível. Pela leitura literária esse anseio ganha corpo. É com esse universo secreto que a palavra literária quer travar a sua conversa. O texto literário nos chega sempre vestido de novas vestes para inaugurar este diálogo, e, ainda que sobre truncadas escolhas, também com muitas aberturas para diversas reflexões. E tudo a literatura realiza, de maneira intransferível, e segundo a experiência pessoal de cada leitor. Isto se faz claro quando diante de um texto nos confidenciamos: "ele falou antes de mim", ou "ele adivinhou o que eu queria dizer".Caio, o texto literário não ignora a metáfora. Reconhece sua força e possibilidade de acolher as diferenças. As metáforas tanto velam o que o autor tem a dizer como revelam os leitores diante de si mesmo. Duas faces tem, pois, a palavra literária e são elas que permitem ao leitor uma escolha. No texto literário autor e leitor se somam e uma terceira obra, que jamais será editada, se manifesta. A literatura, por dar a voz ao leitor, concorre para a sua autonomia. Outorga-lhe o direito de escolher o seu próprio destino. Por ser assim, Caio, a leitura literária cria uma relação de delicadeza entre homens e mulheres.Uma sociedade delicada luta pela igualdade dos direitos, repudia as injustiças, despreza os privilégios, rejeita a corrupção, confirma a liberdade como um direito que nascemos com ele. Para tanto, a literatura propõe novos discernimentos, opções mais críticas, alternativas criativas e confia no nosso poder de reinvenção. Pela leitura conferimos que a criatividade é inerente a todos nós. Pela leitura literária nos descobrimos capazes também de sonhar com outras realidades. Daí, compreender, com lucidez, que a metáfora, tão recorrente nos textos literários, é também uma figura política.Quando pensamos, Caio, em um Brasil Literário é por reconhecer o poder da literatura e sua função sensibilizadora e alteradora. Mas é preciso tomar cuidados. Numa sociedade consumista e sedutora, muitos são leitores para consumo externo. Leem para garantir o poder, fazem da leitura um objeto de sedução. É preciso pensar o Brasil Literário com aquele leitor capaz de abrir-se para que a palavra literária se torne encarnada e que passe primeiro pelo consumo interno para, só depois, tornar-se ação.
Caio, o Brasil Literário pode, em princípio, parecer uma utopia, mas por que não buscar realizá-la?
Com meu abraço, sempre, Bartolomeu

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Que venha 2010!

Mais um ano finda, ano bom, cheio de atividades e de bons projetos. 2010 acena com outras tantas possibilidades, e a vida vai se fazendo mesmo de ciclos, a necessidade de cada vez mais lançarmos metas, buscarmos sonhos, arquitetarmos palavras.
Muito andei pelo RS (algumas vezes também fora dele). E não quero que este post seja um elenco do feito. Mas dia 10 de dezembro encerrei atividades em escolas, visitando o Colégio Mario Quintana, em Pelotas. (foto de Paulo Rossi)

No link que segue há matéria jornalística sobre minha visita.

http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=3&noticia=10412

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Quinze anos

14 de dezembro de 1994: lançamento de meu primeiro livro. O infantil Um palito diferente, publicação da editora Interpretavida, na Casa de Cultura Mario Quintana. Emoção muita. Minha história ali, virada livro, meus personagens prontos para ganhar os leitores e eu desejoso de mais livros pudessem vir após aquele.

Ontem, 14 de dezembro de 2009: no Teatro Renascença, na Noite do Livro, comemoro os 15 anos com o Açorianos de melhor livro infantil para minha coleção Historinhas bem... Autoria dupla, surgida do convite da Márcia Leite. Parceria vencedora.

E não posso deixar de olhar para trás, de perceber que a espera e o trabalho, de certa forma, deram frutos. Hoje, algumas editoras, muitos livros. Para os mais diferentes públicos. Mas a primeira vez que um texto meu, feito para crianças, recebe destaque da crítica. Fico feliz. Bem feliz. A coleção Historinhas bem — composta por quatro diferentes títulos: apaixonadas, assustadoras, asquerosas, medrosas — também tem feito trajetória bacana rumo ao coração dos leitores. Legal também ontem poder compartilhar alegria com pessoas que me têm afeto. Essa talvez a maior premiação: poder agregar parcerias pela vida a fora.

Os premiados

(Foto: Ricardo Chaves/Zero Hora)

Abaixo link com matéria da Zero Hora sobre a Noite do Livro: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2749561.xml&template=3898.dwt&edition=13731&section=999

domingo, 13 de dezembro de 2009

Caio Leitor 13: O hobbit e mais alguns

Leituras sempre têm seu tanto de subjetividade. Difícil mesmo é passar sem ler. Ando com vários livros começados à espera de um tempo maior para que a completude se faça. Alguns esperam mais, outros menos. No momento, concluí O hobbit, do J.R.R.Tolkien. Livro fundante do que se convencionou chamar de alta fantasia. O autor cria um universo repleto de seres fantásticos, um mundo à parte, um universo que se sustenta a partir da palavra fundadora. Confesso que não foi leitura das mais prazerosas, leitura realizada com o intuito do debate no 32º encontro da Reinações (Vida longa a ela!), leitura meio lenta em virtude das constantes descrições, talvez com o objetivo maior do autor de construir com maior concretude seu mundo mítico. Mas há momento bons. Bons não, muito bons no que diz respeito ao fascínio que um texto literário pode provocar em seu leitor. Li com prazer o encontro do protagonista com o "espelhado" Gollum. Ecos de Édipo em seu conflito com a Esfinge (Decifra-me ou te devoro): o jogo de adivinhas e suas possíveis respostas como condição essencial para a permanência da vida. Vivemos assim mesmo: prontos a dar respostas, sendo desafiados o tempo todo a desvendar enigmas. No fim, livro que vale a pena ser lido.
E me envolvo com outras leituras também: Reparação, de Ian McEwan, Precisamos falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver, O fio das missangas, de Mia Couto e, ainda, A paixão pelos livros (texto de ensaios e contos em que a relação com os livros é revelada por diferentes autores, desde filósofos até escritores, quer narradores, quer poetas).

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Caio cronista 6: Ler: para que mesmo?

LER: PARA QUE MESMO?
Caio Riter

Uma criança sem livros é o prenúncio de um tempo sem idéias
Maria Dinorah

A pergunta-título parece desnecessária. É claro que conhecemos sua resposta: ler para socializar, para desenvolver a sensibilidade, a criatividade, a imaginação criadora, a compreensão do mundo, a competência lingüística. Afinal, diz o senso comum, a leitura ensina a escrever. Inexiste um bom conhecedor da língua que não seja leitor. Assim, leitura e escrita se interpenetram. Professor que quer ensinar a escrever, deve antes ensinar a ler.
Até aí, tudo bem. O problema é que a atividade da leitura na escola, na maioria das vezes, tem-se baseado em alguns pré-conceitos. O maior deles é que ler é prazer. Só prazer. Destituído de qualquer atividade intelectual. Pensar assim, parece-me perigoso, pois reforça uma postura de lazer em relação à leitura, sendo que lazer, convenhamos, varia conforme o “gosto do freguês”. Outro senão é que, geralmente, no ensino fundamental, a leitura é uma atividade, com exceção de algumas iluminadas famílias, essencialmente escolar. Ler livros passa a ser atividade da “hora do conto”, momento em que um professor “especializado” faz uma rodinha, lê algum texto e propõe algumas atividades lúdicas que, muitas vezes, não tem nada a ver com o que está sendo realizado em sala de aula. Por exemplo: desenhar a parte do livro que chamou a atenção ou, ainda, inventar um outro final para a história.
Tal postura, apesar de muitas vezes bem intencionada, pode levar a criança a concluir que existe um espaço reservado para o livro: o educacional. É na escola, com a profe da hora do conto, que se lê “livrinhos”; em casa o lazer ou o prazer pode se dar de outras formas. As mais comuns: televisão, jogos eletrônicos, computador, skate. Ora, tal concepção, longe de formar leitores, cria esferas próprias para a leitura. E, creio, não adianta o professor dizer para seus alunos como é bom deitar-se com um livro ao lado e mergulhar num mundo desconhecido, abrindo mente e coração para a fantasia do universo que se descortina. Neste caso, parece-me, a fala não basta. Carecemos de atos e de exemplos.
O que quero dizer, enfim, é que lugar de livro não é só na escola. Não deve ser. Defendo a indicação de leituras extraclasse, defendo o resgate de textos clássicos da literatura universal, defendo a realização de um trabalho fruitivo-intelectual com os textos indicados, assegurando a consciência de que o livro traz prazer, mas traz também conhecimento; e que a minha casa é também lugar de livro. Leio em casa, na escola, no lotação, na praia, em qualquer lugar. Leio porque sei que a leitura é caminho para meu crescimento cognitivo e social. Leio porque tenho livros à minha disposição, aos montes. Quer na escola, nas bibliotecas, em casa: local em que, ano após ano, vou, assessorado e motivado por meus professores, criando minha biblioteca particular. Afinal, a leitura de um bom livro não é atividade única ou isolada. É retorno, é releitura e motivo para novas descobertas. Enfim, como diz Marly Amarilha, “que a busca por livros não seja um hábito apenas, pois já nos ensina a cultura popular que o hábito não faz o monge, mas que seja o encontro de um leitor com o seu tempo interior, no interior de uma biblioteca”.
E que bom se essa biblioteca for sua, resultado de seu crescimento como leitor. Para tal, a partir do momento em que a criança é capaz de decodificar o código lingüístico, a indicação e cobrança de leituras extraclasse é fundamental e deve ser encarada como uma das prioridades para a formação de um leitor crítico e permanente.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Um livro para professores

Pois é, aconteceu em minha vida de escrita o que vinha, de certa forma sendo soprado em meu ouvido há certo tempo. Mas negado: a escrita de um livro para professores. Na verdade, não é bem livro no sentido didático do termo. Não teço grandes teorias. Não uso linguagem acadêmica, naquela linha de usar palavras inacessíveis ao leitor comum ou termos especializados. Procurei escrever um livro que, como os de literatura, pudesse suscitar desejo de leitura, pudesse ser prazeroso e, ao mesmo tempo, suscitar algumas indagações. Queria escrever um livro que fosse gostoso de ler e que, ao mesmo tempo, pudesse ter uma discussão consistente. Discussão nascida não da teorização acadêmica, mas da experiência, da vida, do contato com livros em casa e na sala de aula. Assim surgiu A formação do leitor literário em casa e na escola. Livro nascido de um convite que a Eny Maia, editora da Biruta, me fez. Mais desafio do que convite. E eu, meio quixotesco, sem saber se teria condições de dar conta do recado, aceitei. Na Biruta, também publiquei o Meu pai não mora mais aqui, livro que me tem trazido alegrias muitas, quer pelo olhar positivo da crítica especializada que o tem feito participar de vários concursos literários, quer pelo retorno de leitores de todo o país, graças à sua indicação ao PNBE (Prova, aliás, de que a gurizada tá fazendo uso dos livros que o Governo Federal tem destinado às bibliotecas escolares).
Pois foi assim: a Eny convidou, cutucou, e eu aceitei o cutuco.
Escrevi um livro que quer dialogar, numa linguagem simples, com os professores. Livro que quer ser troca de experiências entre pessoas que curtem a leitura e que acreditam nela como fator de transformação. Dessa forma, optei em dividir o livro em três grandes momentos: minha experiência de leitura (como fui me transformando em leitor), minha experiência como pai que pretendia ter filhas leitoras e minha experiência como professor na formação de alunos-leitores. Há experiência, há reflexão construída a partir dos tantos anos de sala de aula e das tantas palestras, oficinas, e etc, que tenho realizado, há busca de apoio teórico, há sugestão de metodologia. Há.
Espero que esse livro possa ser carinho no coração de cada professor ao mergulhar em suas páginas (o que significará, também, mergulhar um pouco em minha vida). E logo logo ele estará por aí.

Outras Palavras 16 - Orígenes Lessa

Eu parto da fagulha inicial e o que acontece é que, quando a coisa pega fogo, começam a chegar ideias novas e fatos por explodir, que vou anotando às carreiras, para não perder a embalada,mas nem sempre volto a essas anotações, mesmo porque elas vão sendo superadas pelo qua vai acontecento... Eu reescrevo sempre, não há linha no mundo que não possa ser melhorada.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mergulho no cenário...

A professora Marli Fiorentin e suas ideias. Amante da literatura e da informática, ela, que já ganhou vários prêmios pelo uso da informática na educação e que é uma expert em blogs, este ano leu com seus alunos de 8ª Séries, lá do Colégio Pe. Colbachini, o meu livro Debaixo de mau tempo (Artes e Ofícios) e resolveu — além de criar um blog, em que seus alunos interagem nos mais diferentes níveis com meu livro e com outros textos, numa teia intertextual muito rica — propiciar a seus alunos (e a mim!) um mergulho pelo cenário do meu livro. Assim, em plena feira do livro, fizemos um passeio pelo Guaíba: eu e meus leitores, numa tentativa bacana de penetrar, de verdade, no ambiente das palavras. Todos, olhos curiosos, talvez na tentativa de encontrar o Renato debaixo de alguma ponte. E até o tempo ajudou: o sol se escondendo e deixando muitas nuvens cinza darem o clima para o cenário. Momento ímpar. Valeu, pessoal!








Ah, o endereço do blog criado pela prof.Marli é http://debaixomautempo.blogspot.com/

Nele, quem quiser pode dar uma passeadinha com a gente pelo Cisne Branco. Há um vídeo-diário de nosso passeio.

domingo, 15 de novembro de 2009

Palavras 21


AMADA: Ela é o tudo, aquela que vem de mansinho e toma de súbito. E, uma vez tomados, nada nem ninguém nos libertará. Prisão desejada, repleta de surpresas, no dia que se faz, na cama que se desfaz.

Um e-mail de Teresina

Ao escrever um livro, nunca se sabe realmente onde ele vai chegar, que corações vai tocar, que relações estabelcerá com os leitores. Aí está, quem sabe, a mágica da escrita: as palavras são lançadas,voam, e o pouso jamais se tem muita clareza onde será. Assim, quando um e-mail como o da Bruna Campos chega até nós, vindo de longe, lá de Teresina (PI), a alegria se torna muita.

Nem sei direito como começo um e-mail ao autor do meu livro predileto (até agora). Se é vc que lê as mensagens do seu site eu não sei... mas de qualquer forma...!
Olha li o livro MEU PAI NÃO MORA MAIS AQUI. Realmente meu pai não mora mais comigo, e eu achei estranho porque esse livro (meu pai não...) tava na casa dele, junto com um montão de outros livros que ele me deu! Mas eu pensei: \"Meu pai, vai me dar um livro desse, sabendo do óóódiiio imeenso que eu tenho da esposa dele? Hmm, estranho?! MUITO. Eu odeio ela. Ela me odeia...♥\'Mas voltando ao livro.Levei o livro pra minha casa, (eu não moro com meu pai), passaram dois dias e eu nem tive coragem de pegar no livro; mais aí, o marido da minha mãe veio me tentar\"EU JÁ LI 39 LIVROS ESSE ANO!E VOCÊ BRUNA?\" eu respondi com a maior raiva do mundo que só li 11. É sério.EU li mesmo.Não perdi meu tempo com a coleção Twiligh, pelo menos, ainda não. Mas aí depois que ele falou aquilo, eu me senti TÃO analfabeta, e saí pela prateleira de livros procurando um decente pra ler.E vi o seu livro.Com um montão de bolinhas bonitinhas na capa.Eu não tava com nem um pouco de vontade de lê-lo.Mais ai, li o primeiro diário da Leticia.Gostei, eu tava me sentindo do jeito que VC escreveu, DESABANDO, mas era de raiva. =D
Li o primeiro do Tadeu, gostei muito. Bah, acredite ou não eu li aquele livro de 200 páginas numa madrugada! Eu pensei em parar e dormir, mais sabia que eu ia perder a imagem daqueles dois retardados, que quase me fizeram chorar, quando o pai do Tadeu morreu. Depois de falar tudo isso, quero dizer OBRIGADA, eu acho...Obrigada por ter me feito raciocinar que pelo simples fato da decisão do meu pai se separar (FAZ 4 ANOS MAS EU NÃO ACEITEI), não pode me fazer ficar de cama chorando. Eu li esse livro na madrugada de ontem. Dormi depois. A tarde eu saí, fui na casa das minhas amigas, e voltei a falar com amigos que estavam distantes de mim. OBRIGADA!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mais um patronato...

Para quem escreve, a homenagem de uma cidade em sua feira de livro é honraria maior. Afinal, ser patrono, escolhido entre tantos autores e autoras que se dedicam com maestria à arte de escrever, acaba sendo marca na história daquele que resolveu criar mundo fictícios, ou poemas, ou ilustrações, ou reflexões... A vida de escrita tem seu tanto de sacrifícios (os inícios sempre são difíceis, e se não são apenas existem para confirmar a regra), mas também tem seu muito de alegrias, de trocas, de fantasias e de sonhos: mundos possíveis que se vão construindo a partir do desejo e da emoção de quem os cria.

Pois dia 06 de novembro fui homenageado na cidade de Presidente Lucena, em sua 8ª Feira do Livro. Momento de encontro com outros autores, mas sobretudo momento de ver meus personagens circulando pelo lonão. Felicidade sempre.


Agora, a minha história e a história da leitura no município de Presidente Lucena estão entrelaçadas. E isso é bom.


domingo, 8 de novembro de 2009

Dose Tripla

Nos últimos dias, que foram de bastantes viagens, de muitos eventos em Feiras, pouco tempo tive para postar alguma coisa por aqui. Quebro o jejum para partilhar a alegria se ser triplamente finalista em dois prêmio literários aqui do Sul.
Meu livro Meu pai não mora mais aqui é finalista, na categoria juvenil, dos prêmio Açorianos e AGES - Livro do Ano. E a Coleção Historinhas Bem, cuja autoria divido com Márcia Leite, é finalista na categoria Infantil do Açorianos.
Bacana ver que minhas histórias não tocam apenas o coração dos pequenos leitores.
Agora é aguardar os resultados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pedido inusitado

Abaixo segue e-mail-convite-desafio que me foi enviado pelo amigo e escritor Vítor Diel. Achei a ideia por demais interessante e já fiquei querendo ver o resultado. Se alguém se habilitar a ajudá-lo, leia o texto que segue:

oi, caio! tudo bem?

cara, preciso da tua ajuda! tua e de muita gente!

tô escrevendo um novo livro de crônicas, o sucessor de "Granada", no qual, em um dos textos, faço uma análise bem humorada dos spams que recebo diariamente. mas tenho recebido sempre os mesmos e preciso de outros, diferentes e esquisitos. publiquei no meu blog o pedido abaixo. saca só: Quero o seu lixo: colabore com meu novo livro! Quer participar da produção do livro que estou escrevendo? É facinho! Basta encaminhar para vitor.diel@gmail.com spams com texto em inglês, quaisquer que eles sejam: aumento peniano, venda de produtos, correntes que solicitam depósito monetário — qualquer coisa, desde que seja em inglês e sem alteração no título ou no corpo da mensagem. Se o lixo eletrônico encaminhado for utilizado na obra, os contribuintes terão seus nomes mencionados em agradecimento.
E, ah!, quanto mais inusitado forem os spams, melhor! Pronto! Que comece o envio!
P.S.: É sério! é isso. se puderes dar uma força citando meu desespero no teu blog e encaminhando esta mensagem, seria o máximo! abração! até mais!

Vitor Diel
http://bumerangue.tumblr.com
http://twitter.com/vitordiel

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Caio Leitor 12: Alguns caminhos

Muito tenho lido, mas não como gostaria. Falta o tempo para aquela entrega necessária, a gente dentro do mundo urdido em palavras sem chamado de volta. Leitura sendo sempre interrupção acaba criando hiato entre o lido e o ainda por ler. Faz com que me sinta pouco participante daquele mundo no qual mergulhei. Além das leituras da Confraria Reinações: Meu pé de laranja lima, Isso não é um filme americano, O mistério das aranhas verdes, A ilha do tesouro, O jardim secreto, Foguinho, entre outros, pouco tenho lido. Cada mês, uma leitura que, por vezes, se revela boa surpresa, como ocorreu com A história sem fim, mergulho viceral no universo de Michel Ende, e com O gato malhado e a andorinha sinhá, do Jorge Amado, sensível fábula sobre o amor e a morte.
E no momento, me divido em três: Reparação, Crepúsculo e O menino do dedo verde. Este com maior necessidade de leitura, é o livro da Reinações de outubro.

Notas sobre Meu Pai...

Um diário escrito como um trabalho textual, proposto pela professora, é a tarefa que os alunos precisarão realizar em casa, até o fim do ano:
... Pode? Tá, ela disse que a intenção é a gente poder escrever todos os dias, nem que seja uma linha... Mas por que um diário? ... É uma oportunidade de vocês treinarem caligrafia...
A solução literária encontrada por Caio Riter para compor a forma de Meu Pai não Mora Mais Aqui demonstra a criatividade do autor. Diários não são mais novidades, como leitura para jovens ou adultos. Há muitos, mas concebido como tarefa escolar é novidade sim, e das boas.
O autor criou um espaço tempo de monólogo interior, onde dois protagonistas elaboram suas vivências emocionais, em uma linha de pensamento jovem, reflexiva, própria daqueles que estão descobrindo a vida. O vocabulário é peculiar. Cheio dos jargões da idade, quentes, emocionados.
Caio Riter tem um lindo estilo literário, fluente. Suas frases recheadas do modo de falar dos gaúchos nos trazem o sabor do sul. Aproxima os leitores pelas diferenças lingüísticas e pelos sentimentos iguais.
Os tipos criados ganham forma, ficam em pé, aparecem em carne e osso e nos dão a sensação de poder abraçá-los, tão vivos estão nas páginas, na profunda imersão no universo da adolescência.
O Sentido da ausência do pai de Tadeu - a personagem principal - é tão forte, quando ele sai de casa para viajar. Rodar pelas estradas do mundo para sustentar a família.
As visitas rápidas, nos fins de semana, a casa que se enche e se esvazia da figura masculina que passa e deixa saudades, frustrações, e o desenrolar de uma vida que não é aquela que se quer viver em companhia, pelo escasso tempo juntos, e insuficiente para saciar a fome de ternura.
Há também, a Letícia. Os dois vivem a mesma problemática da ausência paterna. Os motivos são diferentes, o e sofrimento de abandono, o mesmo. Essa dualidade, na trama, tão bem tecida, faz do livro uma leitura primorosa. Prende o leitor pela temática das incertezas, das dores do crescimento que fervem nas entranhas dos jovens, até que eles descobrem o amor.
O ciúme, as disputas iradas. Os hormônios falam, o corpo muda. É difícil aprender a ser homem e mulher. Conviver com as diferenças. As circunstâncias que não são as ideais, mas humanas.
Há o recolhimento. O clima de escrever sozinho e tocar no mais profundo de si mesmo. Um momento único e atemporal. Há perdas, algumas irreparáveis, definitivas. Há recuperação no reencontro com a harmonia de viver, quando os conflitos encontram um ponto de equilíbrio e a vida segue em busca da maturidade emocional.
Caio Riter é um autor que se renova a cada publicação. Premiado várias vezes, tem elaborado muito o seu oficio de escrever, e o faz cada vez melhor. Ele mesmo, assim como as personagens que retrata, em permanente processo de crescimento literário, o que salta aos meus olhos de leitora.
Ísis Valéria, membro da FNLIJ

domingo, 27 de setembro de 2009

Felipe na Zero Hora

Lidando com descobertas

Obras para crianças e jovens têm sessões de autógrafos hoje

Para desatar os nósA literatura é uma desatadora de nós, diz o escritor gaúcho Caio Riter. Não à toa, chama-se “Nós” a coleção juvenil da editora Projeto que será lançada hoje com dois títulos “desatadores”: Viagem ao Redor de Felipe, de Caio, e A História de Clarice, da carioca Anna Claudia Ramos.Em comum, os dois livros apresentam um adolescente diante um problema de família e que, para enfrentá-lo, começa uma jornada guiada por um livro. Felipe um dia vê o pai chegar com um menino pela mão, um irmão que ele sequer sabia existir e com quem agora dividirá seus pais, o quarto, a escola e até o cachorro. Então, encontra refúgio nas aventuras de Júlio Verne, em Viagem ao Centro da Terra. Já Clarice, que nunca teve pai, um dia descobre que a mãe foi embora. E quem parece saber como assimilar a situação e se adaptar à vida ao lado da Tia Lu é Raquel, a protagonista de A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga. Ao fim, mais do que desatar nós, os personagens descobrem outras nuanças de ser parte do “nós” em uma família”.
Fonte: Jornal Zero Hora, de 26 de setembro de 2009.

sábado, 19 de setembro de 2009

Dia 26, encontro comigo e com o Felipe



Fusquinha vira teatro

Bacana quando as histórias que a gente inventa ganham outros olhares. O Fusquinha cor-de-rosa (ed.Paulinas), história despretensiosa, tem ganho o coração dos leitores e até decora as paredes da biblioteca Caio Riter, em Morro Reuter. Bom ver também os personagens ganhando vida a partir da representação de pessoas que fazem um trabalho bonito e sério, como o da Cia Ckakety, que deu corpo e voz à minha história.
Na foto, a atriz Cris Clezar, com figurino, cenografia e direção de Rosane Gomes, tem levado meu Fusquinha ao encontro de mais e mais crianças. Vale a pena ver!

Cia Crakety - Teatro de Palco e Bonecos
Contato: (51) 3471.2589

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Debaixo de mau tempo em São Leopoldo

Meu livro Debaixo de mau tempo (Artes e Ofícios) tem atiçado o coração de jovens leitores da EMEF Salgado Filho, de São Leopoldo. Indicado pelas professoras, ele tem feito com que muitos adolescentes me escrevam mensagens falando sobre o livro e sobre a expectativa de se encontrarem comigo. Gosto destes encontros, afinal, todo o escritor deve ir aonde seu leitor está, ainda mais quando esses leitores são um grupo de pessoas a fim de entender mais um pouco os caminhos da ficção. Abaixo, transcrevo a cartinha que recebi da Dhéssica Stoffel, que mostra a necessidade de que a leitura orientada pela emoção invade as salas de aula.

Oi, na minha escola, com a professora Luciane, estamos lendo o livro DEBAIXO DE MAU TEMPO. Ela nos falou que virás visitar nossa escola. Estamos à sua espera. Nós, jovens, hoje em dia, não somos mais tão motivados. Me interessei pelos teus livros, pois eles fazem termos vontade de ler mais e mais. A professora Luciane sempre está nos motivando e o jeito como ela conta as histórias faz como se estivéssemos vivenciando esta situação. Bom, estou cvuriosa para te conhecer e saber como consegue fazer como jovens como eu tenham vontade de ler mais e mais. De um jeito encantador, faz como se a gente tivesse entrado na história.Te agradeço desde já. E estamos a sua espera em nossa escola. Dhéssica Stoffel.

domingo, 13 de setembro de 2009

Felipe e suas viagens

Nas oficinas literárias que ministro e nos encontros com leitores de que participo, muitos me perguntam sobre como nasce a tal da inspiração. Difícil de responder. Geralmente digo que o desejo de escrever determinada história vem de um chamado da vida. Algo que está fora de mim me atiça o desejo e a história vai se fazendo: primeiro o tema, o conflito central; depois surge o protagonista, aquele que dará voz ao tema, ao conflito, e este vem trazendo atrás de si outros e mais personagens.
Pois no dia 26 de setembro, um novo livro meu ganhará as prateleiras em busca do coração dos leitores. Viagem ao redor de Felipe, editado pela Projeto, aqui de Porto Alegre. E este livro surgiu, se interessa a alguém, de um sonho. Ou de uma imagem após um despertar. Acordei e me veio a cena de um homem entrando em sua casa trazendo um menino pela mão. Quem seriam eles, me perguntei. E dessa pergunta, foi nascendo a história de Felipe, que ganhará um irmão de cuja existência ele não tinha a menor noção. O que fazer? Como repartir seus espaços com este desconhecido irmão? Paralelo a isso, o garoto mergulha no Viagem ao centro da terra, clássico de Julio Verne, e, durante a leitura, vai reescrevendo o livro e a sua vida.

Dia 26/09 (sábado), na Livraria Moliterno, a partir das 16h, estarei autografando e conversando com leitores e amigos sobre essa minha nova invenção.

A Livraria Moliterno fica na Rua Tobia da Silva, nº 22 - Loja 2.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Palavras 20


CHUVA - No cinza do dia, ela. Na umidade que aproxima, ela. Nas marcas (rugas) da água pelas calçadas, e paredes, e portas, e rostos, ela. Manhã plena em sua procissão de guarda-chuvas.

Literatura reinando...

E a literatura infanto-juvenil segue reinando nas terceiras terças-feiras. O confraria Reinações segue em frente, sempre buscando debater elementos estruturais, efeitos, etc e tal. Sempre aberta a quem quiser falar sobre literatura ou ouvir algumas opiniões. Na verdade, os olhares não importam, o que se busca mesmo é a diversidade. Momento rico de troca, de convencimentos (ou não), de prazer estético com a literatura. Encontros com, geralmente, umas 14 pessoas, entre confrades fundadores, confrades que entraram no decorrer das atividades e confrades curiosos.
O bom mesmo é ver que a literatura infanto-juvenil atrai por sua qualidade. Bom também saber que a Reinações, desde julho, estendeu-se para Caxias. Agora são dois encontros simultâneos. Mais e mais ideias a partilhar. O blog da confraria dá um pouco conta disso: confrariareinacoes.blogspot.com

Abaixo os convites:


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Teiniaguá em Dois Irmãos

Minha salamandra encantada, princesa moura, que é tão menos minha e mais do coração dos leitores que se encantam com ela, assim como eu me encantei com a lenda tantas vezes recontada por este Rio Grande, versão mais bela ainda a do Simões: A salamanca do Jarau. Mas o que é uma lenda senão recontar constante? Pois foi isso que os alunos da professora Maria Bianca, da escola Matheus Grimm, de Dois Irmãos, fizeram, usando poesia e ilustrações computadorizadas.




Eu olhando o livro de releituras e o pessoal atento ao meu olhar



Aqui a turma toda em nosso encontro na Feira do Livro

Abaixo, recadinho da professora que bolou a atividade:
Bom dia Caio Riter!
É com imenso prazer que lhe envio o material digital e ilustrativo do livro Teiniaguá A Princesa Moura, que foi produzido pelos alunos do 6º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Matheus Grimm de Dois Irmãos e apresentado para você na Feira do Livro.O trabalho foi de caráter interdisciplinar, desenvolvido nas aulas de Informática Educativa e Português.O material está em formato de gif animado, poderá ser publicado no blog com animação.Assim que divulgares no seu blog por favor me avise, para que os alunos possam acessá-lo.Obrigada! Sucesso!
Profª. Maria Bianca Henrich

domingo, 30 de agosto de 2009

Entrevista na Rádio Unesp FM

No înício do mês, concedi entrevista para o Oscar D'Ambrosio, da Rádio Unesp FM. O programa Perfil Literário tem por objetivo apresentar a história de escrita de um autor. A entrevista está disponível para ser ouvida ou baixada no endereço:

http://aci.reitoria.unesp.br/radio/perfil_literario

A entrevista está numerada como 236.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Retratos de Caio 9


Ao lado, eu no traço de um guri muito legal, pessoa super do bem, que, às vezes, deixa a imaginação fluir e vai criando personagens nas folhas do caderno. Um dia desses, resolveu desenhar seu sor: eu. Quem é ele? André Matturro.

sábado, 22 de agosto de 2009

Os gaúchos no Jabuti

Matéria na Zero Hora de hoje

Três autores do RS concorrem a melhor romance no tradicional prêmio literário

A lista dos indicados ao Prêmio Jabuti, divulgada na quinta-feira, destacou o trabalho de 16 escritores e artistas gráficos gaúchos. Só na categoria romance, são três autores do Estado na disputa da mais tradicional premiação literária do país.São eles o músico e escritor Vitor Ramil (Satolep), Altair Martins (A Parede no Escuro) e Moacyr Scliar (Manual da Paixão Solitária). Há ainda Daniel Galera (Cordilheira), nascido em São Paulo, mas que viveu a maior parte da vida em Porto Alegre (confira no quadro ao lado os demais concorrentes).Nas categorias contos e crônicas, livro infantil e reportagem, repetem-se dobradinhas de gaúchos. Lya Luft foi indicada pelo livro de narrativas curtas O Silêncio dos Amantes, ao lado de Fabrício Carpinejar, com Canalha!. Era Outra Vez um Gato Xadrez, de Letícia Wierzchowski, concorre, entre outros, com E Um Rinoceronte Dobrado, de Hermes Bernardi Jr. Os jornalistas Eliane Brum e Luiz Cláudio Cunha disputam, respectivamente, com os livros-reportagem O Olho da Rua: Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real e O Sequestro dos Uruguaios – Uma Reportagem dos Tempos da Ditadura.
Caio Riter está entre os indicados na categoria juvenil com Meu Pai Não Mora Mais Aqui, e Daniel Kondo recebeu duas indicações como ilustrador de livro infantil ou juvenil. Gaúchos concorrem em outras quatro categorias. A premiação será dia 29 de setembro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Meu pai não mora mais aqui" é um dos indicados do Jabuti


A notícia boa me veio por telefone: Meu pai não mora mais aqui foi indicado ao Prêmio Jabuti/2009. E mais uma vez, trazida pela minha amiga escritora Socorro Acioli. Amiga, meio fada, sempre fazendo com que boas novas cheguem até mim. Bom saber que, lá do Ceará, ela agora está na torcida. Claro que ser um dos dez finalista já é prêmio, afinal, o Jabuti envolve muito e muitos inscritos e, apesar de saber que todo o julgamento é subjetivo, ver o nome do meu livro (e o meu também) na lista da CBL é sensação boa, de vitória. Crença de que a literatura que venho construindo, além de agradar ao leitor, tem qualidade. Talvez seja isso que sempre tenha buscado ao lançar minhas palavras literárias ao encontro de meus leitores.

Este meu livro recebeu o Selo Altamente Recomendável, da FNLIJ, e foi selecionado pelo PNBE.

Agora, só me resta torcer! Afinal, sempre amei as tartarugas. Jabutis são parentes próximos, não?

Ainda a FLIP

Localizo notícia sobre minha passagem pela Festa Literária de Paraty.

Caio Riter e Rosana Rios prestigiam a 7ª Festa Literária de Paraty
25 junho, 2009 por
redacao

Reconhecida internacionalmente, a Festa Literária de Paraty (Flip) contará com a presença de dois autores de Edições SM, Caio Riter e Rosana Rios, que participam da programação infantil, a Flipinha, entre os dias 1 e 5 de julho. Os livros dos autores publicados por Edições SM estarão disponíveis na Livraria da Vila do evento.
Em Mavutsinim e o Kuarup, Rosana Rios trata de temas relacionados a diversidade cultural, ao meio ambiente e aos mitos indígenas para leitores iniciantes (a partir de 6 anos) e em processo (a partir de 8 anos). A obra é uma narrativa primordial da nação indígena Kamayurá, do Xingu, que conta como foi criada a humanidade pelo primeiro homem do mundo, Mavutsinim, e também como ele instituiu a festa dos mortos, chamada Kuarup, em que estes poderiam reviver. No entanto, devido à transgressão de uma ordem de Mavutsinim, esse ritual passou a apenas ser uma festa em homenagem aos mortos.
Já para leitores fluentes (a partir de 10 anos), a autora apresenta A história de Gilgamesh, rei deUruk, da mitologia dos povos da Mesopotâmia, que teve grande influência nas culturas egípcia e grega. Gilgamesh tinha um temperamento bélico. Cansado disso, o povo queixou-se aos deuses, que então enviaram à Terra o guerreiro Enkidu para duelar com o rei. Suas aventuras são tidas como um dos primeiros registros escritos da história da humanidade.
Vencedor da primeira edição do Prêmio Barco a Vapor, Caio Riter dialoga com leitores críticos (a partir de 12 anos) em O rapaz que não era de Liverpool, que trata de temas como amadurecimento, autoconhecimento, primeiro amor e relação familiar. Marcelo tem quinze anos e vive uma vida de “comercial de margarina”, como ele costuma dizer. Este mundo perfeito, porém, vai por água abaixo quando, numa aula de biologia, o garoto conclui que foi adotado. Tal descoberta põe sua vida de pernas para o ar. Entre trechos de canções dos Beatles, a criança vai acompanhando seu processo de amadurecimento.
Ainda para os jovens leitores, Riter apresenta a obra O tempo das surpresas. Internado há meses em um hospital, Alexandre lembra-se de vários acontecimentos e reavalia sua vida à luz do impasse da doença e do risco de morte iminente. A partir do relato em primeira pessoa do rapaz, o livro explora o contraste entre as descobertas, os sonhos e aspirações característicos da adolescência e a ruptura angustiante (para o doente e para os que o cercam) imposta pelo combate ao câncer.

domingo, 16 de agosto de 2009

Palavras 19



MULHER - Olhos outros de ver. Matriz fundante. Força a originar a vida. Avó, mãe, filha; amor, amante, companheira. Tantas outras facetas que o maior dos poetas ainda não cantou.
(Mulher escondida, de Van Gogh)

sábado, 8 de agosto de 2009

Gente Nova 11: Anne Minuzzo

Anne Minuzzo é graduada em Letras e atualmente cursa Literatura Brasileira na UFRGS. Iniciou no teatro em 1994, participando de oficinas-montagens e espetáculos infantis. A partir de 2000, ao escrever e dirigir o espetáculo Badalas Mortais, descobriu na dramaturgia o seu verdadeiro caminho: escrever e adaptar textos para teatro. Recebeu prêmios pelos textos: Badaladas Mortais e Paixão Latina. Anne também circula pela crônica e pela poesia.



Water lillies, de Monet




Creio que foi Foucauld ( cito de segunda mão, não consegui ainda passar das primeiras páginas) que falou a respeito de "acreditar no discurso". Isso me leva à idéia de aceitação do pacto ficcional. Aquela coisa de comprarmos a idéia do que lemos, compactuar com o autor, aceitar o que se lê como real.Mesmo que se saiba que é ficção, que não é real ( e mesmo o relato de experiências verídicas, quando escritas, são sempre uma representação), compactuamos. Sentimos, sofremos, rimos, especialmente com aqueles escritores bruxos ( do Cosme Velho ou não). As personagens se tornam quase que pessoas reais e palpáveis.
Mas falo de literatura. E ponto.
Nova linha, parágrafo: a vida não é literatura, aliás, Pessoa disse, o sol doura sem ela. Eu não vivo sem, mas não espero que outros sejam como eu. Gostaria até, mas não espero mais. Mas: a vida é isso aí, do cotidiano, de abrir os olhos, sair pra rua, coexistir - pelo menos em teoria.Então chego onde eu queria realmente chegar e não conseguiria sem uma básica introdução: é possível aceitar o pacto ficcional, acreditar no discurso da vida chão-chão?Antes de ser possível ou não, deve-se fazer isso? É assim mesmo que tem que ser?
Devo estar sendo naive ( french words em tua homenagem, Nisemblat), mas, eu ainda não sei jogar o jogo. Esse grande teatrão que virou a vida, desde o sorriso falso, a aquiescência forçada, as amabilidades fúteis ( até então, digamos, estaríamos no terreno "soft", talvez) ao engolir sapos que ficam trancados na garganta.Porque o bizarro, o irreal, o absurdo, o insuportável, tudo vai virando discurso que se aceita, pacto ficcional que saiu da literatura pra vida-vida mesmo. Aquela de ir trabalhar, pegar ônibus, atravessar avenidas, frequentar o comércio. Digo: não é possível que as pessoas não percebam que tudo é, cada vez mais, uma representação e a gente é, na maioria, aqueles extras que passam ao longe na cena e que nunca levam o nome nos créditos. Que tudo é uma grande manipulação.
Cada um escuta, acredito, o eco da verdade em uma altura diferente. Eu, às vezes, quase me ensurdeço - mas fico pensando se eu mesma não estou fabricando esse efeito sonoro pra me candidatar ao Oscar desse categoria imaginária pra esse filme extenso e incompreensível do qual eu faço parte. Da qual a comida, a cor em voga, a marca, a bebida mais nova, o arremedo de moda que respinga nos balaios e liquidações das lojas de departamentos, fazem parte.Tudo vira camada sobre camada de algo genuíno, primevo, que vai desbotando, vai esmaecendo.
É, talvez, uma tentativa de buscar o meu primitivo. Bonito dizer que a arte, a literatura, salva. Salva porque ilude. E ilusão é proteção. A arte imita a vida, lembra? Mas quando a vida começa a imitar a arte, e o surrealismo, que devia estar dentro da moldura daliniana, por exemplo, começa a invadir e transformar a vida-vida nessa representação esquizofrênica, nesse frenesi de mentiras e discursos que de tão falsos são críveis, eu quero que a arte seja mais arte e menos vida.
A vida, esse negócio genuíno e primevo.
E escrever, esse é o meu genuíno e primevo. Mesmo que seja um tatear na neblina, ainda é o espaço em que o pacto ficcional está em seu lugar à parte: no seu verdadeiro lugar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Alice e eu

Há livros que ficam tatuados na alma da gente e, por vezes, nem sabemos os motivos. Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, é um destes livros apaixonantes, pelo tanto de magia que possuem e pelo tanto de enigmas que o circundam. fico lendo e relendo, fico colecionando suas diversas edições, traduções, adaptações, talvez como tentativa de, cada vez mais, me assenhorar dele. A menina mergulhada naquele mundo regido pelo inusitado, pelo inesperado, é sempre susto e desejo de quero mais. Parece aquela sensação que se tem naqueles grandes parques de diversões, ao se observar as pessoas rindo e sofrendo ao mesmo tempo. Tensão e festa.

Pois vi, dia deste, um breve vídeo sobre a versão cinematográfica que Tim Burton está realizando para Alice. Com certeza, o diretor reforçará no texto de Lewis seu universo grotesco e bizarro. A espera já é ansiedade. Varro a internet à procura de notícia, de traillers (originais ou não), de imagens ou da data de estreia no Brasil. O filme vai usar computação gráfica, captura de movimentos e animação stop-motion (como em A Noiva-Cadáver).

Caso você ainda não tenha lido Alice no País das Maravilhas, a melhor edição é da Zahar, pois ela traz comentários interessantes sobre as intenções do autor ao usar determinadas referências ou poemas no texto, além de trazer também a sequência Alice através do espelho. Outra tradução adequada é a de Ana Maria Machado, para a coleção Eu Leio, da editora Ática, que "abrasileira" os poemas, usando textos do folclora nacional e fazendo com eles o mesmo que Lewis propôs no original.



Mia Wasikowska será a Alice



O Chapeleiro Maluco será vivido por Johnny Depp
Rainha Branca, por Anne Hathaway

Caio Leitor 11: Alice no país das maravilhas


Um périplo no território da desrazão

A loura e pequena menina perdida num mundo repleto de fantasia já deu muito pano para manga, desde versões cinematográficas — a mais famosa talvez seja a da Disney (1951) — até reflexos na própria literatura. Depois da Alice de Lewis Carroll, nenhum outro personagem homônimo poderá fugir de refletir-se no espelho daquela que sonhava com um mundo onde os animais falam, as rainhas são enlouquecidas, o real não tem espaço. Personagens como, por exemplo, a protagonista de Reunião, de Lya Luft, ou a do conto Emanuel, de Lygia Fagundes Telles. Ambas perdidas, exiladas da realidade. Enfim, seres em busca.
Alice no país das maravilhas foi publicado em 1866, pelo jovem Charles Dogson, que se escondeu atrás do pseudônimo famoso, a fim de relatar as aventuras imaginadas e contadas para Alice, a predileta entre as três filhas do diretor da Universidade de Oxford. Andávamos, então, pela segunda metade do século XIX. Época em que subia ao trono e implantava um estilo marcante de governo, por mais de 60 anos, a rainha Alexandrina Vitória, mulher extremamente austera e obstinada que conduziria a Inglaterra a inúmeras conquistas e ao patamar de grande metrópole.
E o texto, que em princípio surgira com o intuito de agradar à pequena amiga, acabou por tornar-se um dos maiores clássicos da literatura infantil e a obra-prima de Carroll. A quem, hoje, alguns acusam de pedófilo por fotografar meninas seminuas, entre elas, Alice. Postura, no mínimo, ousada para uma Inglaterra de princípios morais extremamente rígidos. Mas isto é outra história. O que nos importa a biografia do autor, quando nos deparamos com um objeto singular em sua construção estética?
Embora este livro tenha entrado para a história da literatura como uma obra infantil, não se pode deixar de ver nele uma profunda crítica à sociedade inglesa e às suas estruturas. Carroll cria um mundo fantasioso e fantástico, em que se encontra a desconexa peregrinação da menina em busca de algum sentido para aquele universo, em que inexiste espaço para a razão. Imersa num mundo insólito, vítima da própria curiosidade, Alice tenta racionalizar, procura compreender as razões que organizam aquele ambiente confuso. Razão que parece ser a desrazão, a própria falta de limites racionais. Como encontrar outra resposta? Não estaria o autor querendo, exatamente, problematizar a questão, relativizando as fronteiras que separam real e sonho? Alice está perdida, longe de casa, da família, da gata Dinah. E longe de seu mundo organizado pela mão-de-ferro do estado, a pequena vaga meio tonta, sem saber direito para onde ir, mas percebendo que a única coisa que lhe resta é caminhar. Sempre.

Nessa verdadeira via-sacra é que ela encontra os seres mais grotescos, desde a Duquesa que nina um bebê-porco até a Rainha, cuja ânsia por ver-se respeitada e não contestada, faz com que repita incontinenti a mesma ladainha: — “Cortem-lhe a cabeça!”. Não podemos esquecer de referir a crítica à instituição escolar, presente na conversa com o Grifo e com a Falsa Tartaruga, ou a figura atarracada do Rei. Um ditador até certo ponto patético, que busca a execução de uma sentença a qualquer custo. A cena do tribunal, no final da narrativa, aponta também para o absurdo. Um verdadeiro pandemônio se arma, um leque de situações inverossímeis passa ante os olhos pasmados da menina que procura, a todo custo, organizar aquela loucura. E ali, no julgamento, encontram-se todas as criaturas que cruzaram por Alice durante seu périplo. Todos que interagiram com ela agem como se desconhecessem sua presença; mascaram-se a fim de se protegerem da fúria vingativa dos monarcas. Família, corte, escola e justiça revelam-se, na leitura de Lewis Carroll, como instrumentos não meramente coercitivos, mas, sobretudo, inverossímeis, ilógicos.
Em sua visita ao País das Maravilhas, a pequena Alice abre os olhos para o fantástico. Assim, real e fantasia se confundem. Sua aparente pureza inicial está agora maculada pela percepção da falta de racionalidade das estruturas mantenedoras do mundo regrado em que ela se vê inserida ao acordar do sonho. E fica a dúvida: sonho ou pesadelo? Sonho ou apenas reflexo invertido da realidade?
Alice tenta racionalizar, porém está imersa num mundo regido por outras razões. Um lugar mágico (ou louco) em que as falas e os atos mais simplórios são recobertos por uma aura de importância sem par, importância que parece querer justificar a incoerência das situações fantásticas. Sem resultado, já que os diálogos soam estéreis, ficando muitas vezes inconclusos, ou por iniciativa da menina, que foge, ou dos habitantes do mundo onírico, que — e isso é uma constante — desaparecem ou se negam ao discurso.
Ora, se pertencemos à sociedade enquanto portadores de linguagem, o discurso é condição de manutenção da vida, à medida que construímos o mundo através da fala. Assim, os diálogos sem sentido que Alice mantém com os estranhos seres que cruzam seu caminho são reflexos daquele desconhecido e bizarro mundo.
Muito se fala, pouco se compreende. A linguagem que deveria ser a ponte que ligaria Alice ao mundo sonhado é sempre fonte de incompreensão, isolando-a cada vez mais. Fazendo com que ela busque adaptar-se, apesar de suas tentativas sempre resultarem inúteis. Alice não entende aquela incoerência, aquela confusão. Vem de um mundo aparentemente regrado, em que é nutrida pela família, onde há espaço para cenas amorosas, quer no ato de ouvir sua irmã contando-lhe histórias, quer no carinho e dedicação à sua gatinha. Entretanto, procura ajeitar-se à ilogicidade do mundo das maravilhas, num encolhe-estica que reflete a inutilidade de suas tentativas e, ao mesmo tempo, a sua desestruturação interna. Crise existencial? Tudo indica que sim. Afinal, não é à toa que a pequena se questiona, a todo momento: — “Pois eu não sou eu mesma, como a senhora pode ver (...) eu mesma não consigo entender o que se passa”.
Alice é posta em xeque e, pode-se ver, em seu mergulho, um ritual de passagem. Menina, ela tem de deparar-se com o mundo adulto, a fim de assumir seus valores. Porém, para Alice, este mundo adulto surge como grotesco, como alheio às suas expectativas, incompreensível. Daí, a condição de exilada em que se vê e o desejo de sentir-se novamente segura no seu tranqüilo universo infantil.
Alice no País das Maravilhas, nesta perspectiva, é um livro que busca desvendar as incoerências do mundo adulto, numa construção ficcional que remete à estrutura multifacetada de um espelho caleidoscópico, que será retrabalhada de forma menos implícita, em Alice através do espelho, o novo mergulho da mesma personagem no universo onírico.

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu no Tigre Albino

O site Tigre Albino (http://www.tigrealbino.com.br/), editado por Regina Zilberman, Maria da Glória Bordini e Sérgio Caparelli, publicou artigo meu, em que busco discutir o que é, afinal de contas, a poesia. Meu artigo chama-se Sabiá com trevas: três diálogos sobre a poesia moderna. Nele, dou voz a alguns poetas mortos e a outros vivos e os faço — através de comentários ficcionais e de seus próprios poemas, recorrendo, algumas vezes, à crítica — discutirem sobre o poetar. Eu, que de poesia pouco sei e pouco me aventuro em suas teias, busquei retomar a estrutura clássica dos diálogos, utilizada por Platão e por Cícero, pois julguei que seria a mais adequada para se falar sobre poesia. Um texto que fosse pulsante, como a própria poesia se pretende ser.

A introdução:

A poesia infantil só pode ser medida pela destinada aos adultos, com a reserva das características etárias. Caio Riter, em Sabiá com Trevas: Três Diálogos Sobre a Poesia Moderna, proporciona aos interessados em poesia para crianças um interessante confronto de idéias e posições dos maiores poetas brasileiros sobre seu ofício e sobre a poeticidade. Simulando uma entrevista com Drummond, Bandeira, João Cabral, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Mario Faustino, Ferreira Gullar e Manoel de Barros, com citações diretas e incluindo comentários de seus críticos, seu texto apresenta linhas-mestras também para o juízo sobre o valor do poema dirigido ao público infantil. Riter é escritor, Doutor em Literatura Brasileira pela UFRGS e professor da FAPA.

Para ler os diálogos na íntegra, acesse: http://www.tigrealbino.com.br/texto.php?idtitulo=b011ca96013c5b236955d2c52f084337&&idvolume=27de74a255dc6167e97ea35762ae4f17

Outras palavras 15: Cristovão Tezza


Escrever não é catarse, é um ato de distanciamento à moda do que pregava Brecht (...) Escrever é uma viagem meio sem volta. É preciso um bom lastro na alma, porque absolutamente nada garante coisa alguma nesse ramo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Caio cronista 5

Mães contadoras de histórias

Ando pelas ruas, pelos parques de minha cidade. Observo nos pátios das escolas, nos recreios. Onde estão as brincadeiras de rodas? As cantigas, as parlendas, os trava-línguas, as adivinhações? Mergulho nos dormitórios dos tantos condomínios e não vejo mães debruçadas sobre os leitos de seus pequenos a entoarem canções de ninar. Por onde anda o Boi-da-cara-preta que pegava menino que tinha medo de careta? Onde o anel da Ciranda, que por ser de vidro se quebrou? Onde os chapéus que acenavam para Teresinha de Jesus?
Crianças não existem mais? Será preciso reinventá-las?
Minha mãe, ao cair da tarde, sentava-se na calçada em dias de verão. E eu e meus amigos a cercávamos para ouvirmos histórias de medo, em que seres do Além se tornavam protagonistas e nos enchiam de um medo tão sedutor, que, a cada fim, exigíamos — corpos paralisados, olhos no escuro da esquina, ouvidos escutando os sons do pavor — uma outra narrativa. De preferência, mais assustadora que a anterior. E não interessava se já a conhecíamos, o susto se renovava. Sempre.
Minha mãe, todavia, não apenas gastava aquelas últimas horas do dia como contadora de histórias. Gastava-as também com desafios. E o maior deles, a brincadeira do “Chefe-manda”, era instituído através de um ritual. Bastava ela gritar a primeira fala: “Bento que é bento?”, para que nos perfilássemos, sabedores que éramos de que tarefas impossíveis seriam dadas. E aqueles que não as executassem, ou as fizessem por último, receberiam bolinhos: alguns tapinhas na palma da mão, a qual estendíamos sem medo, cientes de que devíamos pagar tal prenda.
Minha mãe:
— Bento que é bento?
Nós:
— Frade.
Ela:
— Na boca do forno?
Todos nós:
— Fogo.
Ela, de novo, com olhos de expectativa sobre nós, aguardando a resposta:
— Soubesse mandar?
A gurizada:
— Queremos todos.
E bastava dizermos isso, que queríamos ser mandados, para que as tarefas, feito gincana, fossem sendo pronunciadas; a criançada correndo para cumpri-las.
Era bom aquele tempo de liberdade, aquele tempo em que as palavras mágicas de minha mãe instituíam um universo fantástico, em que tudo se tornava possível, especial, desejado.
Mas minha mãe era também mulher de surpresas. Houve uma vez em que nos ordenou correr ao encontro do vizinho mais mal-humorado, que descia do ônibus. O homem sério foi susto ao ver aquele universo de pequenos a cercarem-no e a darem-lhe boa-noite. Até sorriu. Primeiro sorriso dele, talvez, naquela rua.
Mães que brinquem, que contem histórias, que nanem seus rebentos, que poetizem a vida, que riam adivinhas, que proponham enigmas, que encham seus filhos de fantasias (pais também) são necessários. Em qualquer época, em todo momento. Criança que brinca é ser que sonha. E o sonho, tenho certeza, é condição para o existir.
“O peito do pé do Pedro é preto, diga rapidinho, sem gaguejar”, ouço a voz da Aurora, que vem de um tempo primeiro. E sorrio, e repito rápido, sem vacilar.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Meu tempo...

Faz tempo que não entro aqui para postar algo mais pessoal. Creio que os blogs carecem um pouco disso: a marca da pessoalidade. (ontem li na ZH que até o Saramago enveredou pelos blogs, afinal é meio que democratiza a escrita e a leitura, embora seus comentários estejam virando livro de papel também. Ah, a sensação de ver-se publicado em papel, ela ainda é máica, é desejo.) Eu até criei alguns marcadores, dei certa periodicidade a eles, mas, depois, a loucura do dia a dia vai nos envolvendo e um tanto daquilo a que nos propomos acaba sendo deixado para depois e o para depois sempre fica para depois. Sinto a necessidade do retorno aos marcadores, ao mesmo tempo que sinto a necessidade de me dedicar a tantas e outras escritas.
Em agosto, sai livro novo pela Projeto: Viagens ao redor de Felipe. Ando a mil na revisão, nos últimos acertos, para que entre em gráfica. O texto mantém uma relação intertextual com um clássico da literatura juvenil: Viagem ao centro da Terra, de Júlio Verne. Daqui a pouco, posto aqui capa e primeiro capítulo, apenas para troca com leitores, a fim de que possam partilhar comigo de mais este início.
Livro novo é sempre novo início. A expectativa da sessão de autógrafos, a angústia de se saber-se lido (até que ponto este livro irá ao encontro do leitor?). Tantas são as dúvidas, tantos os chamamentos para o mundo.
E eu escrevo.
Sempre querendo ser mais escrita.
Sempre querendo ser mais dono de meu tempo.

Caio Riter no Divulga Leitura 2


terça-feira, 21 de julho de 2009

Prêmio para a Coleção Leituras Descoladas


A Editora Biruta me manda e-mail comunicando que a Coleção Leituras Descoladas, da qual meu livro Meu pai não mora mais aqui faz arte, foi selecionada para aparecer no anuário 2009 da revista americana Communication Arts, um dos prêmios mais bacanas do design gráfico mundial. Parabéns ao pessoal da Rex Design que bolou o visual da coleção.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Fusquinha vira teatro de bonecos

A Cia Cráketi, de Cachoerinha, tornou o meu livro O Fusquinha cor-de-rosa uma peça de teatro de bonecos bem bacana. Já assisti e gostei muito. Abaixo o folder e os contatos, caso elguém se interesse em levá-la a feiras e eventos que envolvam a leitura.

domingo, 12 de julho de 2009

O Fusquinha vira trabalho acadêmico no Piauí

Bacana quando as histórias escritas pela gente ganham o coração dos leitores, bacana também quando ganham os corações de que estuda a literatura infanto-juvenil. Foi o que ocorreu com o meu livro O Fusquinha cor-de-rosa, que virou dissertação de conclusão de curso da Joanna Caroline Pontes Vilanova, cujo título é A quebra dos padrões impostos nas identidades de gênero na Literatura Infnato-juvenil contemporânea. A seguir, o resumo do projeto:

Resumo:
Este trabalho é composto de uma análise das obras: O fusquinha cor-de-rosa, de Caio Riter; e Menino brinca com Menina?, de Regina Drummond, sob a perspectiva da representação da identidade de gênero na literatura infantil. Para concretizar esse propósito, foi necessário, previamente, um embasamento teórico que expõe como a ideologia age em meios como a cultura, identidade, gênero e na formação do leitor infantil na escola ocultando as múltiplas realidades existentes na sociedade, a fim de constatar com a evolução dos tempos, a desmistificação de padrões de gênero que a sociedade estabelece. A partir da análise das obras selecionadas percebeu-se que a representação da identidade de gênero não tem intenção de determinar papéis inquestionáveis ao ser humano, mas sim desconstruir conceitos estereotipados, permitido que o leitor infantil torne-se, desde cedo, crítico diante da realidade que o cerca. Com essa nova perspectiva que é abordada no trabalho, o leitor criança ampliará sua visão de mundo e terá menos tendência de tornar-se um adulto preconceituoso e discriminador.

domingo, 28 de junho de 2009

Eu na FLIP

De 1º a 5 de julho, em Parati, ocorre a FLIP: Festa Literária Internacional de Paraty, com a presença de muitos autores de peso, gente como Milton Hatoum e Chico Buarque. Entre bate-papos, shows, encontros com leitores, mais uma festa irá se fazendo entre as fronteiras de uma cidade que hoje é referência quando se pensa em Literatura. Serão cinco dias de muitas atividades, diversos autores, muitos falares, tantos livros.

E este ano, estarei participando da FLIPINHA, num bate-papo com a ilustradora Ana Raquel, cujo tema é Leitura e Brincadeira. Sou só expectativa. Quero andar por ruas como as aí abaixo e respirar ares literários.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu no salão da FNLIJ

Há alguns anos tenho andado pelos corredores do Salão da FNLIJ, que ocorre anualmente no Rio de Janeiro. Momento de encontro com autores, ilustradores, editores, contadores de histórias e, também, com leitores. Palestras, contações de histórias, bate-papos, entrega de premiações. No dia 11, estarei autografando o meu livro Meu pai não mora mais aqui, que recebeu o Selo Altamente Recomendável para Jovens, uma referência bem bacana pra quem escreve para este público. Escrever sempre é possibilidade de encontro com o leitor e, quando o escrever recebe o aval da Fundação, torna-se possibilidade de maiores voos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Encontro sobre Eduarda

Dia 02 de junho, às 18h, encontro do Casarão Verde, com contação de EDUARDA NA BARRIGA DO DRAGÃO por Raquel Gabrauska. Na ocasião, estarei ministrando oficina sobre este meu livro.

Sessão de afetos

O final de semana foi momento de encontro. Não só meu com meus afetos, amigos queridos que não me desamparam numa sessão de autógrafos, que não me deixam sozinho atrás da mesa. Sessões de autógrafos, alguém já disse, são rituais meio medievais, meio anacrônicos. Pode até ser. Mas também são bons momentos de encontro, para mim pelo menos. Momento de rever amigos, rever carinhos; momento de estender uma história produzida por mim, fantasiada por mim, às mãos de um leitor. Cada vez que um livro brota, cada vez que uma história vira livro, instaura-se a condição necessária para a sua existência. Mas depois desta, carece-se de leitores. De gente que abra aquelas páginas e que aceite o convite.
Sessões de autógrafos sempre são expectativa e medo.
Pois sábado, dia 23 de maio, ocorreu a da coleção Historinhas Bem..., (Escala Educacional) com seus quatro títulos, seus quatro temas. E o receio da solidão foi aos poucos se tornando uma festa de encontro. Muitos amigos, muitos leitores, muitos afetos, e em suas mãos meus mais recentes livros. Um outro sonho realizado de ter produzido uma coleção.
A meu lado, a Márcia Leite, ainda deslumbrada pelo tanto de atividades literárias que o Sul propões. E realiza. Ela mesma demonstrando desejo de aportar por estes pagos. Presença amiga também do Leonardo Chianca, escritor e editor da coleção.
Momento bom. Sempre.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Palavra: alegria da influência

No próximo sábado, dia 16, na PALAVRARIA, estarei participando, convidado pelo escritor Leandro Dóro, do projeto PALAVRA, ALEGRIA DA INFLUÊNCIA, uma iniciativa do Jornal Vaia, que vem realizando encontros entre escritores, em que um escritor é convidado para responder questões sobre seu processo criativo, além de ter sua obra comentada pelo autor que realizou o convite. Momento bom para pensar a arte da palavra e também para congregar diferentes histórias de escrita e gerações de escritores.