domingo, 3 de janeiro de 2016

Pessoas e traduções

As pessoas:
2015 foi-se. Muito trouxe de polêmica que aproximou-me de tantas pessoas, que confirmou olhares semelhantes, mas que também abriu olhos sobre pessoas que pensam a vida sob uma ótica díspar da minha. Difícil este dar-se conta, afinal todo o relacionamento, pelo menos para mim, se estrutura na base do afeto e da confiança. Assim, quando alguém revela a verdadeira face, quando alguma máscara cai, impossível que a relação não se estremeça ou acabe. Fidelidade é palavra necessária, creio, para que algo consistente se construa. E há pessoas que não sabem ser fieis ao outro. Somente a si. Seu interesse particular fica acima de qualquer outro e ela se alia a quem quer que seja, desde que tenha seu desejo satisfeito. O bom mesmo são os afetos construídos sobre bases sólidas: fidelidade, carinho, sinceridade, parceria. Aqueles relacionamentos em que o que importa é o outro, ou o nós. Jamais o eu. Estes são para serem alimentados, nutridos com mais e mais carinhos. Os outros, como já disse o poeta, "eles passarão".

As traduções:
Traduzir o outro na gente é condição para a amizade. Verter-se em outro idioma é condição para que as palavras cheguem a mais e mais leitores. Pois este ano foi bom: meu livro "Sete Patinhos na Lagoa" foi traduzido para três idiomas: francês, coreano e japonês. E meu livro "O rapaz que não era de Liverpool" foi vertido para o sérvio. 
Quando sonhei ser escritor, não pensei tais possibilidades. Queria, claro, que meus livros pudessem atingir o maior número de pessoas possível. E que eles pudessem ser ponte entre mim e meus leitores. E que eles pudessem suscitar sonhos, desejos, desacomodamentos. E que pudessem fazer de mim um escritor respeitado, reconhecido pelos meus leitores. E sempre que pensei isso meu pensamento voltava-se para o imenso território nacional. Queria ultrapassar a fronteira do Mampituba. Hoje, minhas histórias, duas delas, já ultrapassaram a barreira da língua. E sou feliz.