sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Esperança ou a falta dela

    
     No momento, vive-se de esperança.

    Dizem que ela é a última a morrer, porém o que se vê são milhares de pessoas sucumbindo ao vírus em virtude de ações negacionistas em relação à pandemia; e elas não vêm apenas da postura perversa, incompetente e inadequada daqueles que são os maiores responsáveis pela segurança e pela esperança da população; ela é também prática comum a muitos brasileiros e brasileiras que desconhecem ou que menosprezam seu papel cidadão.



    Cuidar de si, neste momento, significa cuidar do outro, cuidar da sociedade, investir na esperança de conter o avanço do mal ou de - pelo menos - mantê-lo em níveis controláveis. Festeja-se a vacina, embora notícias deem conta de que as doses disponíveis cobram pequena parcela da população brasileira. Por vezes, embora a esperança pouse na janela, fica bem difícil de incentivá-la ao voo ao se saber de pessoas morrendo asfixiadas, prefeitos adquirindo kits ineficazes de prevenção, gentes fazendo festas ou lotando ruas e praias.

    A postura de negação, de alienação, desde o início incentivada pelo presidente, é a responsável por um país à deriva. Falta decência, falta empatia, falta humanidade, falta espírito patriótico. Falta todo e qualquer valor fundamental a alguém que rege uma nação. Falta esperança.

    Tristes tempos, costumo dizer. E repito, e repito, e repito.

    Poucos são os que se insurgem contra a tristeza; poucos os que esperançam e buscam construir um país de pessoas dignas, ciosas de seu dever cívico de evitar aglomerações, de retirar do poder aqueles que não o usam para promover o bem-comum.

    A esperança morre em mim, todavia a reanimo a cada dia, a cada hora. Sem ela, pouco sobrará.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Há uma criatura

     Há uma criatura que foi eleita. E ela é perversa.
     Esta criatura jamais enganou a quem quer que seja para ser eleita; não escondeu sua essência; sempre se orgulhou de suas posturas fascistas, reacionárias, agressivas; não mascarou seu discurso, usando, inclusive o nome de Deus, para justificar atitudes vingativas e perseguidoras; defendeu torturadores, elogiou estupradores.
     Há uma criatura que foi eleita por defender o armamento, a violência, o desrespeito às leis. Esta criatura, aliás, sempre foi eleita, embora sua história política seja repleta de equívocos, de nada de ações a favor da população; seus votos nunca foram a favor da vida. Nunca. E junto com a tal criatura se reúne uma matilha esfaimada por benesses, por vantagens, sem medir meios para tal.
    A criatura eleita defende a morte; ri do povo, sobretudo da parcela mais humilde. A criatura não sabe argumentar: ataca, vê na imprensa seu inimigo maior, defende a censura e usa de meios não lícitos e das prerrogativas do poder apenas usadas por aqueles que não sabem que o poder é exercido a favor de todos e não de si e de sua casta. A criatura não sabe defender ideias (talvez não as tenha); não traz em si a sensibilidade ou a emoção; não se compadece; não se compromete com seu país, entrega-o.
     A criatura não sabe de nada que lhe compete e se cerca de iguais: lhe agradam os aplausos, o amém do gado; a subserviência não questionadora. A criatura semeia a discórdia, ri da morte, debocha da dor do outro. E foi eleita.
    A criatura se arrasta, é tosca, é pândega, mas foi eleita e agora rege nosso destino.