quinta-feira, 18 de junho de 2020

Escrita em tempos de pandemia.


           No início do isolamento, este tempo de não tempo me desorganizou bastante e me fez crer que as palavras estavam apartadas de mim. A concentração necessária para dar voz a novos personagens parecia algo raro. No entanto, nas últimas semanas, as palavras permitiram proximidades novamente. Acabei retomando projetos que estavam em latência: finalizei um novo texto infantil, em prosa poética, “Dois pinguins no deserto”, e me envolvi com a revisão de dois textos inéditos, “O sobrevivente”, uma novela para adolescentes, que escrevi de forma manuscrita, já que pediu postura mais visceral no próprio ato de escrever.  Também retomei um projeto de romance, “Maré”, o drama de um pai à procura de um provável filho.
                                                  Fernanda Costa-ZH

Porém, o que mais tem me encantado é a produção de um texto a muitas mãos. Se escrever sozinho é desafiante, criar a partir de diferentes olhares e desejos abre um universo instigante na relação com as palavras, além de, neste tempo de fechamento, promover a abertura ao outro, à subjetividade do outro, aos recursos literários do outro. O ato egoísta da escrita precisa render-se a vontades já não apenas minhas. Assim, o livro que está surgindo, ainda sem título, terá autoria múltipla e tem como mote um evento surreal, que aprisiona algumas pessoas no interior do prédio em que moram. Fazem parte do grupo Seis + 1, além de mim, o Alexandre Brito, o Antônio Schimeneck, o Christian David, a Gláucia de Souza e a Laura Castilhos.

Este texto foi escrito para ZH Virtual. Doze escritores falaram de seu dia a dia de escrita em meio a este tempo de isolamento social.