quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sete patinhos recebe distinção internacional

Maior biblioteca infantojuvenil do mundo
escolhe quatro livros brasileiros de 2013
O Estado de S. Paulo - 26/11/2014 - Por Bia Reis
A Internationale Jugendbibliothek (IJB) – a mais importante biblioteca de literatura infantil e juvenil do mundo, localizada em Munique, na Alemanha – divulgou na semana passada os livros publicados ao redor do mundo em 2013 que farão parte do catálogo White Ravens. Quatro brasileiros foram selecionados: A árvore de Tamoromu (Formato), de Ana Luísa Lacombe e ilustrações de Fernando Vilela; As Cores da Escravidão (FTD), de Ieda de Oliveira e ilustrações de Rogério Borges; Bárbaro (Companhia das Letrinhas), de Renato Moriconi e Sete patinhos na lagoa (Biruta), de Caio Riter e ilustrações de Laurent Cardon. A IJB foi criada em 1949 por Jella Lepman, a fundadora do International Board on Books for Young People (IBBY), responsável pelo Prêmio Hans Christian Andersen, espécie de Nobel da literatura infantil e juvenil. Para conhecer todos os livros selecionados, clique aqui.http://pem.publishnews.com.br/link.php…

domingo, 16 de novembro de 2014

Gente Nova 21 - Gustavo Rückert

Gustavo Rückert é professor de Literatura em Jaguarão, no RS, e escreve no blog: gustavoruckert.blogspot.com.br.  
O poema que segue nasceu de um desafio que fiz ao poeta.


(Salvador Dalí)

Um muro em três partes

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
por entre rachaduras e musgos
as sutilezas mais frágeis e densas
de minha própria existência

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
dois terrenos pantanosos
que na inconstância de suas formas
têm duas existências formadas
na constância do velho muro

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
entre a aspereza e a frialdade
os segredos e o calor
das confissões dos vizinhos
duas existências
duas partes à parte
de uma mesma essência

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
descontemplo-me a dançar
na ponta dos dedos
equilibrando (me)
sobre minha frágil existência
em um segundo de delírio
entre duas consciências
perdidas
por entre rachaduras e musgos
diferentes
de um mesmo muro

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo-me
descontemplo-te
perco (me)
entre nós
Ao descontemplar (nos) aquele velho muro
me falta a coragem
fujo
(já nem sei se de mim ou de ti)
em desespero
e errante
vou simplesmente sendo
afinal




sábado, 1 de novembro de 2014

Palavras 41: Calçadas


CALÇADAS - Meus pés pisam o firme, porém são desejosos das imperfeições. Uma calçada sem ranhuras não projeta sustos, tampouco surpresas. Quero a possibilidade do passo que rejeite o liso, que busque a imperfeição. Só assim, ao me preparar para o tombo, posso ter sempre no rosto a alegria da pegada. Ela ficará, mesmo em chão que se finja não aderente a marcas.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Direito à fantasia

 Um dia fui criança. Fui. E se falo assim, no passado, apesar de um pequeno ainda habitar meu coração, é porque a infância passa e o que fica dela é a nostalgia do ter sido. Ou do não ter sido também.
Fui criança não daquelas arteiras, levadas. Fui menino tranquilo, de não muitas peraltices, de trabalho pouco dando aos pais. Fui criança triste. Pelo menos, é o que diviso nas poucas fotos do guri que, por vezes, me olha de algum lugar do ontem.
Fui criança de imaginações. E se o fui, foi pelo pouco que a rua daquele bairro de periferia me ofertava. Eu queria algo mais. Um algo mais nutrido pelo tanto de leitura que invadia meus dias pouco diferenciados. Tudo muito igual, tudo sempre igual. Gibis, pulp fictions, fotonovelas e, depois, os livros foram me mostrando que a vida podia ser mais, bem mais. Foi me revelando que havia outros mundos possíveis, além da mesmice do meu, e que, se as condições minhas não permitiam vivenciá-los, as páginas dos livros possibilitavam que eu fosse árabe, africano, mulher, velho, cachorro, enfim o que quisesse ou pudesse. A fantasia e a imaginação me ensinando que o sonho é possível.
Fui criança de poucos amigos, fui criança de poucos dizeres, talvez mais assuntando a vida do que vivendo-a; talvez mais desejando o altero do que sendo-o.
Fui criança e, à realidade de parcos recursos, fui dando outros sentidos. Assim, um pedaço de pau podia ser o cavalo de Napoleão; uma caixa de fósforos vazia, a biga de Ben-Hur; um buraco cavado no meio do jardim, a toca do coelho que me conduziria ao País das Maravilhas. 
Fui sendo.
Por isso, por vezes, me surpreende que muitas crianças hoje só consigam ser crianças rodeadas de uma parafernália tecnológica que pouco lhes oferece de fantasia. Somos mais crianças à medida que somos capazes de imaginar, de criar do nada o todo.
Fui criança e sei que a realidade é outra, que o mundo é outro, que ser criança é outra coisa para muitos. Sei de tudo isso, mas sigo crendo (talvez de forma sonhadora demais) que a criança (não, a criança não, o ser humano) necessita da fantasia para ser mais e mais humano.

Kit BH para Duas Vezes na Floresta Escura

Meu novo livro "Duas Vezes na Floresta Escura", Editora Gaivota, faz parte dos livros selecionados pelo KIT BH, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte. Bom início. Livros à mão cheia, chegando ao coração-leitor de jovens mineiros. E o mais bacana ainda é que este livro ainda não chegou em minhas mãos. Ainda não foi toque, não foi descoberta, não foi surpresa boa de primeiro abrir de páginas, mas já está conquistando vitórias. Afinal, a maior delas é mesmo poder ser objeto disponível a olhos e a corações de mais e mais leitores. Sou feliz.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre o papel das Feiras de Livros

             Feiras de livro são importantes. Muitos pensam assim. E verdades absolutas dificilmente são questionadas. Feiras de livro são importantes, sim, mas desde que, de fato, qualifiquem o leitor, aticem seu olhar para os livros. O que nem toda a Feira de livro faz.
           Em minhas andanças por feiras, percebo que o problema maior reside em se julgar que uma feira da leitura necessite de outros atrativos que não apenas e somente os livros, os escritores ou as atividades que giram em torno da leitura: uma peça de teatro, por exemplo, nascida de um livro ou que trate sobre o tema. Feiras de livro, por vezes, são espaço para a presença de brinquedos infláveis, para cinema 3D, para show de alguma banda famosa (ou nem tanto), para a presença de algum cantor ou ator global. Tudo sempre com o intuito (louvável, mas questionável) de se trazer mais público à praça ou ao ginásio. Entretanto, para que mesmo quer-se mais público que não consuma livros, se a feira é para ofertar livros? Faça-se, então, uma feira cultural, aberta à pluralidade. Aí, se chama todo mundo para a praça e se pode propagandear para a população o feito.
             Muitas vezes, nestes eventos, a discussão literária se torna muito mais atraente para quem discute do que para quem assiste, ouve. Já fui a feiras (pasmem!) em que não havia livros meus à venda. E vários autores já se queixaram disso. Alguns livreiros aproveitam a ocasião para venderem seus estoques, para venderem os mais recentes best-sellers, sem se preocuparem se aqueles autores que visitarão a feira verão seus livros expostos e se os leitores que queiram adquirir o livro e pegar o autógrafo terão êxito. Normalmente, não.
            Claro que sigo crendo que feiras são bons momentos para a formação de leitores e também dos leitores. Sigo acreditando na importância de formarmos plateia qualificada, público consumidor de literatura, embora não creia que a feira pela feira possa propiciar isso. É necessário mais: é preciso um projeto de leitura, quer em nível escolar, quer em nível municipal. Apenas levar hordas de crianças e de jovens à praça não os torna leitores. Por vezes, eles nem sabem o que estão fazendo por lá: não vão às atividades a eles destinadas, pois não foram devidamente motivados para elas ou não veem nelas proveito, visto que nem sabem quem é aquele(a) cara que está falando lá na frente: não conhecem sua obra, seus livros, suas palavras literárias, já que não foram apresentados a elas anteriormente. A feira, creio, deveria ser a apoteose de um trabalho prévio com os livros dos escritores visitantes. Aí, sim, quando isso ocorre, de fato o encontro na feira torna-se significativo para o autor e para os seus leitores. Seus leitores, pois já tiveram o contato, mediado, com a obra daquele que encontrarão no palco da feira.
             Para muitos (inclusive para alguns professores, estes que assumiram para si o papel de mediar a leitura nas escolas), ir à feira é motivo para passear, para não ter aula; não foram educados, motivados, instigados a descobrirem o mundo que se esconde dentro das páginas de um livro: basta um toque, um folhear de páginas, olhos a decifrar universos, para que a mágica se instaure. Já visitei feiras das quais saí maravilhado pelo tanto de envolvimento de crianças, de jovens, de adultos com a leitura. Estavam ali por que queriam, era ato de vontade; estavam ali pois aderiam à necessidade de se viver literariamente; estavam ali prenhes de leitura, desejosos de mais encontro com os livros.
             Portanto, há feiras do livro que vão ao encontro do que, a meu ver, deve ser uma feira do livro. Mas poucas. Daí, a necessidade de pensarmos na qualificação dos mediadores de leitura, na oferta de livros interessantes, no aprimoramento do leitor, na crença de que livros lidos nos formam como gente, na certeza de que a formação de bibliotecas familiares são importantes. Aproximar as pessoas dos livros é importante, mas não apenas jogá-las entre livros, acreditando que basta montarmos barraquinhas de livros em praça pública para que a comunidade se torne leitora. Se fosse assim, nossa realidade de leitura, com certeza, seria outra. E melhor.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Fazer-me palavra.

Por vezes, teço neste espaço algumas confissões. Sei que o confessar-se tem seu tanto de revelação, de busca de entendimento, de tentativa de compreensão do outro e, claro, de nós mesmos. Vai se saber.
O fato é que me revelo ou me confesso.
Gosto (por vezes acho que até demais) de enveredar pelas páginas do Face. Escrevo o que penso, evito compartilhamentos (apenas os que me enchem da necessidade de), porque acredito que na minha página deva postar comentários meus sobre o viver, sobre o ser, enfim, são apenas minhas percepções. Sei que outras existem, muitas, e tantas diversas das minhas. Algumas dialogantes; outras amparadas em bases tão distintas que a conversa não tem como existir. Cada um agarrado às suas verdades; alguns tão cegos por elas que usam as palavras de forma violenta, virulenta.
As redes sociais - e neste sentido creio que o Face tem se mostrado mais revelador que o falecido Orkut - são espelhos de quem posta, compartilha, curte. E, confesso, alguns posicionamentos me assustam. Não apenas por serem contraditórios a tudo em que eu acredito. Mas, sobretudo, por serem cegos para o outro, para a realidade do outro, para a necessidade do outro, para a alteridade do outro.
E o que me resta, senão apenas confessar tal preocupação? 
Fazer-me palavra, mesmo que me hostilizem, ou me bloqueiem, ou.

sábado, 28 de junho de 2014

Dois retratos de Caio

Há muito tempo eu não era brindado com novos retratos. Pois, na quinta-feira, visitando a Escola Major Miguel Pereiro, dentro do Projeto Autor Presente, coordenado pelo IEL, fui surpreendido com muitos retratos. Abaixo, dois deles: um do Fernando e outro do Pedro Augusto.



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Oficinas e escrita

Sou escritor oriundo de oficina literária, mas não creio que uma oficina forme um autor. Assim, se digo isso é por ser fato, não exigência. 
Talvez, por ser oriundo de oficina e por, há mais de dez anos, ministrar oficina de narrativa curta (embora já tenha coordenado oficinas de crônica e de literatura infantil também), tenha criado minhas convicções sobre a prática da escrita. Elas vêm da experiência e do que estudei. E fuçando neste blog, no marcador "Sobre a escrita", fui me reencontrando com dizeres produzidos há bastante tempo. Neles, falo da fusão necessária entre forma e conteúdo. Fusão em que haja equilíbrio, não o excesso de um sobre o outro. Isso poderia provocar a morte de um texto. Um texto não lido é texto morto. E se eu alimentei uma certeza quando decidi ser escritor é de que não queria ficar restrito às cátedras universitárias, queria mais: queria que minhas palavras fossem ao encontro do leitor. 

sábado, 21 de junho de 2014

Torres Paulistas II

Mais andanças, mais torres.

Igreja José de Anchieta


Mosteiro de São Bento


Capela da PUC


Nossa Senhora do Ó


Igreja São Luiz Gonzaga


Torres Paulistas

Andar por uma cidade, é sempre possibilidade de encontro com pessoas, com a atmosfera peculiar, com as torres sacras. Encantam-me templos, já disse. Abaixo, algumas torres captadas pelas andanças pela capital paulista.


Catedral da Sé 







Mosteiro de São Bento


Ainda sobre o escrever e o emocionar

Uma resposta a um comentário no Face me fez pensar mais sobre o escrever, sobre a necessidade da emoção, que deve estar presente no processo da escrita e também no da leitura. Abaixo, o que pensei lá:

"...em meu mestrado e em meu doutorado, também estudei bastante, também li bastante, também mergulhei nos caminhos da literatura, mas não apenas dela. Sempre acreditei que as ciências humanas são suportes interessantísimos para se entender um texto literário. Todavia,  não vejo a concepção do escrever eivada pela teoria acadêmica. Tento separar tais searas, a fim de que o Caio-escritor não se deixe levar pelo Caio-teórico e mate o que, para mim, é essencial em um texto: a emoção. Jamais disse (talvez meus comentários não tenham sido bem compreendidos) que o modo de dizer deva ser menosprezado. Se eu pensasse assim, não teria escrito "Vento sobre terra vermelha" ou "A dobra do mundo". Não. A linguagem esteticamente elaborada é importante. Mas não é ela que faz um texto ser literário ou não. É a capacidade que ele tem de ser comunicante, de ir ao encontro do outro, de tornar-se universal (e aí modismos, ou questões de estilo, de escola ou, simplesmente, de tempo ou de cultura, tornam-se nada diante da capacidade de falar à emoção de quem lê). O bom texto, a meu ver, é comunicante, em primeiro lugar. Por isso sempre defendi, em minha prática, em minhas palestras, em minhas oficinas, as duas esferas necessárias para se compor literatura: o que dizer? como dizer? Porém, o que percebo em alguns autores, por vezes, é o excesso de hermetismo na linguagem. Um texto vazio do principal, um texto que se envolve apenas e consigo mesmo. O leitor, o outro, é coadjuvante. E aí, acho, está a questão: como o escritor pensa a literatura e pensa-se como escritor. A literatura (como toda Arte, no meu ver ingenuo, talvez) é abertura. Um artista, que se volta apenas para o fazer, que não olha para o que o cerca, que não pensa que um texto (e aí entramos em questões que envolvem a Teoria da Comunicação) necessita de uma função social para que se consolide como texto, não faz literatura. Borges diz que a literatura sobrevive, apesar da linguagem. Neste sentido (numa interpretação livre, talvez) o que fica não são as palavras. É mais. É a capacidade que um texto tem de falar com o altero, de provocar, de instigar, de "dramatizar" a vida. EM TEMPO: Não pretendia debate algum. (embora julgue-os extremamente instigantes, a fim de me fazerem pensar meu modo de ver meu ofício, e de me ajudarem a perceber com maior clareza as minhas convicções). Mas, ressalto, não acredito que uma linguagem pobre ou frágil sustente um texto, assim como não creio que o virtuosismo linguístico tenha tal poder. Ambos são pífios, se não conseguirem emocionar. Amo Mia Couto, curto Raduan e Rosa, pelo tanto que eles conseguem dizer e também pelo modo como eles dizem este tanto. Assim, como curto autores que apresentam mundos possíveis a partir de uma linguagem menos elaborada, como Lygia Fagundes Telles ou Paul Auster."

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobre o ler

         Ao abrir as páginas de um livro, o que busco é a dor do existir. Não me atiçam fórmulas, formas, hermetismos linguísticos. Atraem-me mais os dramas, as experiências humanas captadas pelo olhar sensível daquele que escreve. A literatura problematiza a vida.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Outras palavras 29: Jorge Luis Borges


Sem leitura não se pode escrever. Tampouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Torres cariocas

Em minha rápida andança pelo Rio, a fim de receber o Prêmio Ofélia Fontes, o melhor livro para crianças de 2013: "Sete Patinhos na Lagoa", me deparei com dois lindos templos. A Catedral Presbiteriana, pertinho da Praça Tiradentes, e a Igreja de São Joaquim, bem próxima ao Centro de Eventos Sulamérica, onde ocorria o Salão do Livro. Aí, elas:



Mais uma confissão...

Confesso: não sou homem de futebol, de campeonatos, de Copa. Claro que tenho meu time, que tenho minhas certezas de torcedor, mais por herança familiar do que por qualquer outra coisa.
Confesso que, em muitas Copas, quando liberado do trabalho para ir para casa assistir aos jogos, fui para o cinema ver um bom filme, ou para um sebo garimpar livros.
Todavia, confesso que desentendo tanta celeuma contra a Copa no Brasil. Muitos apregoando motivos estranhos, oportunistas, para menosprezar um evento de tamanho porte. Muitos contribuindo para uma imagem negativa do país em que vive. Ah, e não me façam tentar crer que isso é patriotismo, não me venham convencer do que detonar com seu próprio país é desejar o bem dele. 
Confesso que ando com paciência pouca para isso. Fico querendo saber se, caso a Copa não tivesse vindo para o Brasil, se os mesmos detratores dela não estariam furiosos, fazendo manifestações, em virtude de o governo não ter tido jogo de cintura para atrair olhares para o nosso país. Creio que muitas manifestações não desejam o bem comum, mas apenas anseiam pelo poder. Só. Mais nada.
Vejo poucas proposições e muitas provocações. Vejo pouca construção e muita baderna.
Assim, só posso confessar mais isso: vou torcer para o Brasil. Vou pegar bandeira, vou estourar pipocas, vou sentar diante da tevê e gritar muito a cada gol brasileiro, a cada vitória de nossa seleção. Vou ficar desejoso do hexa. Não por que goste de futebol, mas porque adoraria ver essa gente calada na expectativa do próximo gol.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Entrevista

O Marcelo Spalding, que administra o site "Autores Gaúchos", me convidou para falar um pouco sobre minha percepção e minhas experiências com o mercado editorial. Abaixo, link da entrevista:
 http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=5086

Sobre escrever

Em questão de literatura, sempre acredito que a forma deva estar a serviço do conteúdo. Não há estrutura que se sustente, se for oca. Só vento e presunção.

domingo, 25 de maio de 2014

Palavras 41: Castelo

CASTELOEncastelamentos pessoais acabam sendo fronteiras absurdas. Pouco sabemos ser para o outro, somo-nos mais pra nós mesmos. O caminho talvez seja descobrir a sabedoria de ser-se na construção do alcançamento do outro. Ter o outro em nós, fazer dele necessidade nossa.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Muito do que.

           Muito do que me cerca não dá conta da forma como percebo o mundo, as pessoas, as coisas. Muito do que me rodeia, por vezes, parece me conceder uma aura de desajuste. Não no sentido marginal da palavra, pensada numa perspectiva social. Não. É mais, acho. A coisa é sentida no nível das ideias, na percepção do ser e do estar no mundo. Isso deve ser bom. Deveria, pelo menos. Afinal, muitos defendem a diversidade, a alteridade. Ela como caminho para o encontro com o outro. Acredito em tudo isso: na alteridade, na diversidade, na diferença que cada ser traz em si. Porém, acho que o que penso vai além disso: quer falar de um sentimento de estar no mundo, de concepção do mundo, de estabelecimento da relação com o altero.
           Por vezes, olho para a vida e vejo tão poucas pessoas irmanadas ao meu sentir.
       E, confesso, isso acaba por me trazer uma certa sensação de que algo está fora da ordem. Pelo menos, da minha ordem.
          Uma madrasta assassina seu enteado e isso assombra a sociedade, mas não elimina a possibilidade de que outros Bernardos morram, assim como ocorreu com a menina Nardoni. No caso gaúcho, a sociedade foi conivente: permitiu que o garoto ficasse sob os cuidados do pai, que não selava por ele, em detrimento do apelo da avó; permitiu que ele ficasse fora de casa, sem permissão de entrada, até que o pai aparecesse; permitiu que, mesmo o menino reclamando dos maus tratos, seguisse sendo maltratado. Até que.
            Um torcedor atira uma banana contra um jogador negro, este, a fim de menosprezar o ato, come a banana. Então, alguns veem seu ato como aceitação da pecha de macaco. Como se rir do preconceito (ou minimizá-lo) fosse saída para o fim da discriminação, para o término de atitudes homofóbicas, discriminatória, genofóbicas. A atitude do jogador sendo aproveitada pela mídia, com camisetas cujo slogan "somostodosmacacos" passa a ser slogam anti-racista. Como assim?
             E a sensação de ser turista num mundo não meu lateja no peito.

domingo, 13 de abril de 2014

A catedral de Joinville


Um passeio pelas ruas de Joinville, em intervalo da feira literária, encontro a Catedral: ampla, silenciosa, com um teto em formato de concha. Momento de oração.

domingo, 23 de março de 2014

Palavras 40


SOLIDÃO - Nos olhos que olham para dentro de si, a presença ausente de quem um dia aqui esteve. Nem sempre o vazio representa estar só. Somos habitados por todos os que deixaram suas marcas em nós. 

domingo, 9 de março de 2014

Gente Nova 20: Davi Kinski

Davi Kinski é ator, escritor e apaixonado por arte. Já fez teatro, dirigiu cinema e lançou, aos 25 anos de idade, seu primeiro livro de poesia, "Corpo Partido", Editora Patuá.



(Femme aux Bras Croisés, de Picasso)


Não deixe vazar

O desejo
Pela fresta do tempo
Acariciando o vento
Para amanhecer
Em paisagem
Azul e íntima 
Desses teus
Segredos
Submersos
Avessos
Versos
Sem o teu
Pretexto 
Que palpita
Na ilha
Dos meus 
Pensamentos .

segunda-feira, 3 de março de 2014

Algumas dores


            Primeira dor
Nos dois últimos dias, vi dois filmes que concorreram ao Oscar: “Philomena” e “12 anos de escravidão”. E o que doeu, o que abriu buraco no dentro de mim, é saber que tudo aquilo aconteceu. Em ambos, a crueldade que humanos são capazes de impetrarem contra seus semelhantes;  em ambos, os algozes justificavam suas ações em crenças inabaláveis. Uma mulher e um homem, uma branca e um negro, os dois vítimas de um sistema que oprime em nome de uma verdade discriminatória, segregadora.

Segunda dor
Dor outra, maior quem sabe, foi perceber que o discurso do dominador foi assumido pelas vítimas, como se toda a desgraça que se abateu sobre elas fosse natural. Até quando o oprimido fará isso? Até quando aquele que padece de uma realidade cruel acreditará na própria culpa do mal, julgando que tudo ocorre como deve ocorrer? Acuados pelo medo, temerosos da mudança, a ação sendo inibida pelo receio de uma verdade mais sofrida ainda. Assim, calam, assumem o verbo do outro, do dominador.

Terceira dor
Esta vivida, sobretudo ao assistir “12 anos de escravidão”. Na plateia do GNC Moinhos, um nada de negros; nos rostos dos que saíam, em sua maioria, uma expressão despreocupada, um ou outro riso, como se não tivessem sido tocados pela dor pungente expressa na tela grande, tudo talvez não passando apenas de um espetáculo cinematográfico. Como não se deixar tocar, como sair incólume, como ter palavra leve, quando fomos premiados com a possibilidade de repensar a vida passada, a fim de que situações como as retratadas nos filmes jamais ocorram novamente? Pergunta que ainda reverbera em mim.

E pensar que depois de assistir a esse filme, depois de aprender nos bancos escolares o que foi a escravidão, há gente que segue acreditando que o sistema de cotas raciais é injusto. Ora, por favor.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Palavras 39


PALAVRA - É a palavra que estabelece ponte, que desmascara, que estabelece as fronteiras do meu mundo. Com ela, me abasteço; dela, me alimento. Uso-a como esteio, como voz, como raiz. Por vezes, como necessária arma. Sem ela, pouco sou: ganha-pão, essência, porta-voz das minhas verdades. A palavra é o que me faz, o que me constrói como ser.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Fábulas facebookianas ( o retorno).


Os ratos e o queijo

Pois no pátio da casa, o Cão era o líder: tudo organizava, tudo dava conta. Todos os animais o auxiliavam a governar. Os ratos o aplaudiam, o referendavam, pois sempre tinham seu naco de queijo. 
Até que o Gato chegou por ali e começou a desejar o poder. Para tal, chamou os ratos e lhes ofereceu mais queijo do que o necessário. "Mais queijo sempre é bom", disse-lhes o Gato. Então, os ratos que até então viviam ao lado do Cão, passaram a hostilizá-lo, acusando-o das coisas mais vis. Todavia, apesar dos estratagemas, dos ardis,  das intrigas e das falcatruas, o Gato não conseguiu o poder. 
E nem bem a noite chegou, lá estavam os ratos bajulando o Cão, elogiando seu jeito de governar o pátio, afinal não queriam ficar sem queijo.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Legenda fotográfica II


O verde se arvora céu, mas também o é, mesmo que não saiba. E o céu todo cinza, é cinza e é céu, é cinza e é seu.

Livros e McDonalds: temperar a imaginação

PublishNews - 23/01/2014 - Leonardo Neto 

McDonalds vai distribuir 10 milhões de livros na América Latina em 2014 

O McDonalds quer se transformar, em 2014, na maior rede de livrarias do Brasil. Isso mesmo. Você não leu errado... Em fevereiro, a rede de fast foods vai dar livros infantis na compra do McLanche Feliz. A campanha, que acontece em toda a América Latina, promete distribuir 10 milhões de exemplares em 2014. De acordo com Hélio Muniz, diretor de comunicação para o Brasil, 50% disso ficará nas mais de 700 lojas do McDonalds espalhadas em 159 municípios de todos os estados da federação. “Estamos muito felizes em usar a nossa grande capilaridade para estimular o hábito de leitura entre as famílias”, comemora o diretor.

A edição ficou por conta da Planeta. “Procuramos uma editora que tivesse a capacidade de chegar em diversos países da América Latina e, nesse sentido, a Planeta foi a parceira mais adequada”, comentou Muniz.

A campanha será feita em dois rounds. O primeiro, marcado para começar em 25 de fevereiro, vai distribuir seis títulos de autores nacionais. Encabeçando o time, Ana Maria Machado, com o inédito De noite no bosque, que conta uma história que mistura vários clássicos infantis contados por dois irmãos. Dois poemas (A Casa e O Pato) de Vinícius de Morais musicados pelo Poetinha e por Toquinho no álbum Arca de Noé estão em outro título da coleção. Caio Ritter (com Menino qualquer), Lalau (Você pergunta, a poesia responde), Márcio Vassallo (A voz da minha mãe), Leticia Wierzchowski e Marcelo Pires (O farol e o vaga-lume) completam a coleção.

Essa não é a primeira vez que o McDonalds dá livros a seus clientes. Em novembro de 2013, a uma campanha distribuiu livros nas áreas de ciências e física, mas que, de acordo com Isabela Almeida, gerente de marketing da empresa no Brasil, não teve o alcance que terá agora. “Essa é a primeira vez que fazemos essa campanha de livros exclusivamente com autores brasileiros. A gente entendeu que era hora de trazer uma nova edição com livros mais lúdicos, escritos por escritores que já têm a linguagem do universo infantil”, comentou Isabela. Além do texto, os exemplares trazem atividades e uma cartela de stickers que permite que os leitores recontem as histórias lidas no livro. Em novembro, será feita uma nova campanha.

Em nível mundial, essa onda de dar livros na compra de lanches do McDonalds começou na Europa, há dois anos. A ideia é que se torne uma campanha sazonal, mas permanente no Brasil. No período da campanha, o McDonalds estuda levar contadores de histórias e autores para sessões de autógrafos nas suas lojas. “Se a gente fizer que uma criança saia das nossas lojas com um livro e compartilhe com um amiguinho, teremos a nossa missão cumprida”, comentou Daniel Arantes, diretor de planejamento de marketing para América Latina da companhia. “Dizem que poesia não enche barriga, mas enche a alma... Nossos clientes vão poder sair dos nossos restaurantes com a barriga e alma cheias agora”, finalizou Arantes.

É política do McDonalds vender os brindes do McLanche Feliz, independente da compra do kit. Pais e crianças que quiserem adquirir um exemplar terão que desembolsar R$ 9,50.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Barbárie

Um jovem foi assassinado barbaramente.
Era pobre, era negro, era gay.
Era, com certeza, cheio de planos. Talvez visse o futuro, como a grande maioria dos jovens vê: como algo promissor. Talvez sonhasse com um mundo mais humano. Talvez fosse idealista (jovens são idealistas). Talvez acreditasse em uma sociedade fraterna, mesmo vendo diariamente nas ruas ou na mídia exemplos de egoísmo.
E este jovem foi barbaramente assassinado.
Talvez por ser pobre, talvez por ser negro, talvez por ser gay.
Na hora da morte, talvez tenha visto seus sonhos despedaçados, talvez tenha chorado, gritado, tentado alguma reação, algum pedido de socorro, que não foi ouvido. Nas casas, todos dormiam o tranquilo sono dos justos. Na rua, um jovem brasileiro tinha os dentes arrancados, tinha o corpo torturado, tinha a vida assassinada.
E, cada vez que um crime brutal destes ocorre, sinto que nos amordaçamos, sinto que a sociedade cala, mais preocupados que estamos em nos proteger atrás de nossas cercas elétricas. Porém, outros jovens estão sonhando. Brancos, negros, índios, gays ou héteros, pobres ou ricos, eles trazem em si a alma repleta de sonhos. Sonhos que não podem ser destruídos em nome de uma moral excludente, violenta, suja.
Quero (ah, como quero) saber que minhas filhas poderão andar pelas ruas livres de qualquer perigo, independente das escolhas que façam ou daquilo que são. Quero uma sociedade que não cale diante da barbárie. Quero que a juventude possa sempre crer na possibilidade de renovação.
Quero que jovens não mais sejam barbaramente assassinados.

Quero o óbvio. Quero o clichê, por mais clichê que possa ser desejar respeito, liberdade, paz.