O riso fácil, solto; as palavras sinceras; o tom de voz forte e ao mesmo tempo doce; o jeito de guri sempre vivo; o brilho da infância estampado nos olhos, este era o peralta Urbim, um guri de muitos anos; um guri que aprendeu que a meninice não tem idade, não tem tempo, não tem hora. O guri que, agora, deve estar entre os anjos, empinando pandorgas, jogando bolinhas de gude, colando figurinhas no álbum da existência.
Urbim era um guardador de memória, era um ressuscitador de brincadeira de seu tempo. Através de suas histórias, de seus poemas, ia trazendo ao presente um tempo que já não era mais nosso, mas que voltava a ser nosso através de seu olhar nostálgico: os cadernos de temas, os álbuns de cromos, os carrinhos de madeira, as cinco marias, o peão, o bambolê... E o mundo rodava, rodava, rodava sua ciranda de alegrias.
Urbim foi gente boa. Gente daquelas de encher a sala com seu riso. Gente de quem a gente gostava de estar por perto. Gente que se imortalizou criança. Vê-lo a narrar suas histórias, fazendo uso dos personagens que ele mesmo forjava em pedra, em porongos, em pedaços de madeira, era permitir-se mergulho na infância. Urbim, nestes momentos, se tornava guia pelas estradas da imaginação. E se a gente era criança, aceitávamos a mão que se estendia, acolhíamos o abraço da fantasia. E se a gente era adulto, aceitávamos o convite para voltarmos a um tempo tão nosso e tão esquecido, aceitávamos a magia infantil com que ele nos presenteava.
E, na sexta última, sei lá por que, o Urbim resolveu contar suas histórias, dar seu riso, criar seus personagens em outra dimensão. A nós, que por enquanto aqui ficamos, resta o carinho presente em seus livros. Estes estarão por aqui para sempre. Ou, pelo menos, até enquanto houver alguém com coração infante que abra as suas páginas.