quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Meu Corcunda...

Recebi um convite do Leonardo Chianca bastante bacana; convite, aliás, que eu já alimentava a certo tempo: fazer uma adaptação de um clássico para o público adolescente. E o título nãopodia ser presente maior: Notre-Dame de Paris, do Victor Hugo. Clássico publicado em 1831, popularmente conhecido como O corcunda de Notre-Dame, narra a história trágica do sineiro Quasímodo e de seu amor impossível pela cigana Esmeralda. Durante janeiro, me envolvi com os personagens e com eles percorri as ruas de Paris, apaixonado pela beleza e pela arquitetura narrativa deste texto que encanta ainda hoje com seus personagens passionais e suas descrições vivas. Adaptar um texto grandioso destes sempre é tarefa hercúlea, sobretudo pelos limites impostos em relação à extensão do texto (o original geralmente possui dois volumes, divididos em 11 livros) e pela necessidade de manter a mesma atmosfera original, o mesmo espírito, a mesma estrutura. Adaptar é manter a essência do original, pelo menos é assim que penso. Tentar imaginar o que se passou na cabeça do autor ao elaborar seu texto, a fim de que tanto a adaptação quanto o original possam um ser o espelho do outro. Tentei. Espero ter conseguido, por foi algo bom demais. Acho que fui picado pelo vírus do adaptador. Abaixo, um pequeno fragmento de minha adaptação:



Há alguns anos, o autor deste livro, ao visitar a igreja de Notre-Dame de Paris, avistou, escrita num canto escuro de uma das torres, a seguinte palavra:
ANANKÊ.
O homem que a escreveu já não existe mais, é pó; a palavra, por sua vez, foi apagada pelo tempo; a própria igreja, quem sabe, um dia desapareça também da face da terra. Foi por causa da palavra grega Anankê, que significa fatalidade, que esta história foi escrita. Acreditem.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Gente Nova 9 - Mariana Nisemblat

A Mariana Nisemblat foi minha aluna, ela e sua amiga Anne Minuzzo faziam uma dupla e tanto em meio ao marasmo: tinham atitude, e escreviam... Agora, me deparo também com uma nova faceta da Mariana: a fotografia. E cada foto! E cada palavra certeira na leitura deste mundo ao qual uns chamam moderno. Como Mariana chamará?
Aos meus amigos, uma foto e um pequeno poema. Quem quiser mais, busque no blog da fotógrafa-escritora: http://www.delivermetoevil.blogspot.com/




o mundo gira
e tudo pira
contudo não medro
não lato
mas te digo
vomito no ato

Palavras 18


MÃOS - Mesmo que não percebamos, em momentos em que o tudo parece ser apenas nada, sempre há uma que se estende em nossa direção. Obram, amam, trazem um tanto de vida ao mundo. E também apontam, e matam, e cutucam feridas infeccionadas. Mas isto talvez seja desimportante. Ou não.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Caio e os escritores 10: Christian David

Conheci o Christian David meio ao acaso. Não, minto. Creio que não foi obra do acaso. Nos falamos pela primeira vez no primeiro Fórum de Literatura Infanto-Juvenil, organizado pela Marô Barbieri, em 2007. Eu era um dos oficineiros, ele um dos participantes. Lembro que no final do encontro, ou no intervalo, ele se aproximou e me presenteou com seu livro O rei e o camaleão (Funproarte).
Trocamos algumas ideias meio descomprometidas, ele falou de sua vontade de seguir escrevendo, publicando. Convidei-o para alguns eventos em celebração ao dia do livro e ele foi. Dali em diante, ficamos amigos. Amigos do tipo que troca ideias (agora não mais tão descompromissadas), amigos que vibram com o sucesso dos outros, amigos que sabem partilhar. O meio literário, por vezes, nos premia com encontros bacanas. Pessoas especiais que cruzam nossa vida, que passam a ser partilha. E isso é bom. Muito bom.

Pois o Christian é este tipo de cara. Sempre buscando o aprimoramento das relações humanas, sempre buscando a qualidade de suas palavras literárias. Assim, tive o privilégio de ler e de acompanhar a edição de seu mais recente livro Mão dupla (Artes e Ofícios). Texto mais intimista, bem diferente da narrativa de ficção e de aventura que é seu primeiro texto. Aliás, tendência que meu amigo cultiva bastante. Outro privilégio meu foi fazer a leitura crítica de seu livro ainda inédito O centauro guardião. Aventura fantástica que ocorre nos subterrâneos de uma Porto Alegre com ares de metrópole. Texto de formação.

Foi também com o Christian que idealizamos (eu, ele e mais um monte de gente boa) o surgimento da Confraria Reinações, que visa à leitura e ao debate de textos feitos para crianças e para adolescentes. Encontros que este mês chegam ao número 21, encontros aos quais o Christian nunca faltou, encontros dos quais participa sempre com muita empolgação. E o legal é que muitas vezes discordamos na leitura de alguns textos, mas a discórdia fica aí, apenas no nível da interpretação.

Lançamento de "Meu pai não mora mais aqui" no RJ


Com Eny Maia (editora), Marília Pirillo e Sandra Pina(colegas da coleção Histórias Descoladas) em lançamento na Livraria da Travessa, Shopping Leblon, RJ.

Livro novo: Historinhas bem apaixonadas

A coleção Historinhas bem..., da Escala Educacional, que contará com quatro livros e oito histórias (divido a autoria com a escritora Márcia Leite, também idealizadora do projeto), começa a ganhar as estantes das livrarias. A coleção é dividida em quatro temas: amor, nojo, mentira e medo, e cada um destes assuntos terá duas visões: uma masculina e outra feminina. Eu me ocupei com as versões dos garotos, enquanto que minha parceira mergulhou no universo feminil. Todavia, a coleção não são duas visões sobre uma mesma história. Cada autor teve a liberdade de inventar suas tramas; os limites, apenas dois: narrativa em primeira pessoa e fidelidade ao tema. Assim, cada volume apresentará duas histórias, sendo que o projeto gráfico, realizado por César Landucci, foi idealizado de tal forma (duas capas em três dobras), que permite que o leitor saia de uma história e entre na outra de forma natural, como se fosse um livro só (e é!). As ilustrações são de Renato Moriconi. Minhas histórias são O maior motivo do mundo (amorosa), Mentira das brabas (mentirosa), Uma noite de muitos medos (medrosa) e O dia em que Alberto decidiu não mais tomar banho (asquerosa). A primeira delas (capas abaixo) divide com Noiva de chuteira, de Márcia Leite, a visão sobre o universo amoroso e apaixonado infantil. Aliás, é possível amar quando se é criança?



terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Caio cronista 3

Palavras importantes ou breve crônica natalina

Caio Riter

Nascer no dia 24 de dezembro sempre provocou em minha infância certa atmosfera de tristeza, basta olhar para o Caio menino que me observa com sua face preta-e-branca naquela tradicional foto escolar para perceber esta verdade. Essa sensação, claro, apenas minha, o aniversariante. Para os demais, tal data parece sempre motivo de surpresa e de alegria. Um presente. Imagina nascer na véspera do Natal!
Minha mãe até brincava com tamanha coincidência: dizia que eu era o presente mais lindo que havia recebido do Noel. Eu sempre tive lá minhas dúvidas. Às vezes, duvidava da qualidade e da beleza dos presentes recebidos anteriormente que a faziam dizer tais palavras. E ficava com pena de minha mãe. Mas, sei lá, talvez em sua humilde sabedoria materna, ele quisesse me proteger da sina natalina. Sina de não-festa. Afinal, poucos eram os convidados que aceitavam o convite para festejar meu aniversário. A maioria dos convivas preocupados com viagens, com compra de presentes, com os costumeiros preparativos para a noite.
Além da festa esvaziada, havia também a economia com os presentes. Eu sempre ganhava apenas um: valia pelo aniversário e pelo Natal. Quer coisa mais deprimente para uma criança? A possibilidade de dois presentes transformada em um pacote apenas.
Talvez por isso, ainda hoje, mesmo agora ganhando mais de um presente, a comemoração de meus anos seja mais intimista. Prefiro assim. As festas nunca me agradaram, poucas na verdade foram tentativa. Mas nunca na data oficial. Festejar no dia 24 jamais. Carta fora do baralho. Se desejo de festejos havia, este deveria ocorrer antes: 22 ou 23. Tal impossibilidade de aniversariar, de fato, no dia em que nasci fez com que meu dia seja pouco celebrativo. Há algo maior, sempre, para se festejar no meu dia. A sombra do nascimento do menino divino sempre nubla o meu nascer. Algo, aliás, que vem sendo esquecido. Celebra-se o natal e esquece-se do aniversariante. Ele também, com certeza, entristecendo naquele que deveria ser seu dia de festa.
O Natal perde seu sentido de encontro (seja qual for a fé que tenhamos e que anime nosso existir) para a luta renhida, cujo cenário são os shoppings lotados de gentes que nem se olham e cujas armas são mãos abarrotadas de sacolas e de pacotes. O próprio ato de presentear, símbolo da alegria pelo nascituro, importa mais pelo valor monetário e pela quantidade. Perdem-se valores, esvaziam-se os rituais e, feito autômatos, desperdiçamos chances de renascermos como gente.
Gente é o que precisamos ser. Sempre. A qualquer dia.
Verdade maior, obscurecida pelo materialismo, pelas relações estéreis, pelo esvaziamento de palavras importantes como fé, amor, fraternidade, afeto, amizade.