segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Palavras 2


MEMÓRIA - As lembranças têm sempre seu lado de invenção, de dúvida. Nossa memória é mesmo nossa? Em que medida o tempo não acaba sendo matriz ficcionalizadora das imagens que nos vêm de um passado distante e que, exatamente pelo mergulho no cinza do ontem, acabam por emergirem fantasiadas? Memória tem seu tanto de mentira. Sempre.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Gênese de um livro: Meu pai não mora mais aqui


Conheci o Tadeu Fiorentin através de um trabalho de Literatura que a escola dele, no município de Nova Bassano-RS, promoveu. A professora Marli sugeriu que seus alunos enviassem e-mails ao autor do livro que tinham lido: eu. Assim, meus primeiros contatos com o Tadeu foram virtuais: e-mails; depois, MSN. E, nas conversas com o adolescente de 14/15 anos (isso foi em 2005) que me falava de sua vida, partilhava seus sonhos, pedia conselhos, eu ia recuperando um tanto de meu tempo de adolescer. Nostalgia total. Experiência bacana em que as quase 3 décadas de distância não foram empecilho. Nossas conversas eram troca entre dois tempos que se encontravam, tendo como essência o gostar de livros. Pois num destes encontros no MSN, o Tadeu, meio indignado, me contou que sua professora de Português lhe dera como tarefa a confecção de um diário. Nele, deveria registrar seus afazeres, sua rotina, suas expectativas em relação à etapa que se encerrava. Eu tentei aconselhar meu amigo, dizendo-lhe que seria legal escrever um diário. "Imagina, cara, daqui a alguns anos, tu poderá saber o que pensava o Tadeu-adolescente". Não o convenci muito, mas eu, que já pensava em escrever a história de uma jovem cujos pais se separam e ela tem dificuldade em aceitar a nova situação, descobri naquela conversa que poderia estruturar meu novo livro em forma de diário. Através da escrita, a protagonista iria vencendo suas dificuldades. E descobri mais: que poderia, ao invés de criar um diário, organizar o livro em forma de dois: um diário de uma garota, um de um garoto. Com certeza, seriam preocupações distintas. Uma guria escreveria coisas diferentes de um guri. E mais: decidi que o guri seria o Tadeu. Quer dizer, não bem o Tadeu real, mas um Tadeu criado à imagem e semelhança do verdadeiro. Aí fui "dando corda" pro meu amigo, fui perguntando mais sobre sua vida, seus desejos e tal, inclusive "colando" frases literais digitadas por ele, frases espirituosas, repletas de verdades adolescentes, e que foram para o livro de forma literal. Assim, e como diferente não podia ser, meu personagem foi se tornando nosso. Mandava fragmentos do livro pro Tadeu e vibrava com a sua enorme vibração ao ver-se ficcionalizado, matéria-prima de meu novo livro, a sair em 2008, pela Biruta, num projeto gráfico bastante ousado, que espero dar o que falar.
Dia desses, o meu personagem veio me visitar em Porto Alegre. Dia bacana. Dia de encontro e de mais troca. Ambos ansiosos pra ter o Meu pai não mora mais aqui, de fato, entre as mãos. Experiência de criação singular para mim. (Na foto, nós dois.)

Fragmento de Meu pai não mora mais aqui:
"Na real, ela deve tá é querendo bisbilhotar a vida da gente. E o pior é que a minha mãe é amiga dela. Imagina se escrevo umas coisas pesadas e ela conta pra minha mãe? Tou frito. Também, fui arrumar uma professora amiga da minha mãe. Pode? Mas, nessa cidade, tem alguém que não se conheça? Ter até tem. Não conhecer de não se falar, mas de não conhecer de verdade não tem não. Na aula até tem umas gurias e uns guris com quem eu nunca falei, mas sei quem são eles. Sei sim.
Um diário. Pode?
O Cau disse que vai escrever um monte de bandalheira. Já pensou? Eu tô fora. Mas escrever o quê?
Querido diário, hoje acordei triste, tá louco."

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Palavras 1

ESPELHO - Espelhos atraem pela possibilidade de mergulho no dentro da gente mesmo. Aquele outro que nos espia, tão a gente, e tão não nós. Reflexo tosco. Mentiroso. Estranho isso: espelhos só mostram da gente o que a gente quer ver.


Inícios de reinações


Quando lançamos novo livro ao encontro do coração dos leitores, ficamos como pais aflitos a olhar seus filhos se perderem na distância dos tantos e necessários vôos que precisam dar. Pois na 53ª Feira do Livro de Porto Alegre (Novembro/2007), autografei meu novo livro Um reino todo quadrado, editado pela Paulinas e ilustrado por Rosinha Campos. E o pequeno começa a dar seus primeiros passos, a fazer suas primeiras "reinações". E que venham muitas!
Abaixo segue breve resenha colhida nas ondas da internet:
Era uma vez um reino todo quadrado e azul. Mas um dia, nasceu Redondo-vermelho... E as pessoas tiveram que rever seus conceitos sobre o diferente. O tema 'diversidade' sempre gera discussões interessantes e propiciam diálogos sobre o respeito e convivência dentro de um grupo, porque enriquecem as idéias dos envolvidos. Afinal é no calor das discussões que melhoramos como seres humanos! Tratar a escola como um espaço de valorização do indivíduo, atribuindo-lhe responsabilidades para a construção de uma sociedade mais justa é a proposta de Caio Riter que recorre ao humor para criar uma narrativa leve e prazerosa, carregada de mensagens que levam o leitor à reflexão sobre 'estar no mundo'. Além disso, é na biblioteca que Redondo- vermelho descobre um jeito de transcender aquele reino, meio chatinho, só de quadrado e azul. Riter bate o martelo - a leitura é um agente transformador dentro de uma sociedade.
Resenha publicada em
www.rainhadapaz.g12.br/servicos/biblioteca/catalogo/literaturaInfantil_2.htm