terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fragmento literário 2

De O Outro pé da sereia - Mia Couto - Cia das Letras





"Mwadia efabulou: a idade das girafas pode ser medida pelas cicatrizes no pescoço. São marcas de lutas de cortejo, despiques pela fêmea desejada. É assim que o amor se escreve na pele dos amantes. No caso do burriqueiro, porém, não era a caligrafia do amor. Era uma assinatura cega de quem escreve para nunca ser lido." - p. 27

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Gente Nova 14: Felipe Stefani

Felipe Stefani é poeta, artista plástico e fotógrafo. Nasceu em São Paulo em 1975. Tem poucas palavras sobre si mesmo, mas variadas formas de expressão. Já fez de tudo, até biologia, porém foi na arte que encontrou meios de se relacionar com o mundo.
Blog:
http://cultuar.blogspot.com/


I
O silêncio invade...
as rotas da indagação.

Existo?

E as flautas do mar recobram o olvido.

II
E eu que amava o sonho dos pássaros,
dizia às vozes imprevisíveis
que dormiam no mar:

“Como posso sonhar,
se a exatidão em que navegam as aves
é maior que a própria vida?”

E as sombras do silêncio repetiam:

“É preciso cantar para invadir o segredo".

domingo, 26 de dezembro de 2010

2010 a mil.

Muitas foram as feiras e os encontros com leitores que fizeram de meus dias de 2010 cheios de bons momentos. Creio que quem escreve aprecia tais possibilidades. Porque encontrar-se com aquele que nos lê, percebendo sua visão de nossos mundos ficcionais sempre é abertura e instigante desejo de mais e mais histórias. Andei por várias cidades do RS e também andei por outras fronteiras. Algumas experiências, com certeza, ficarão para sempre gravadas em minha memória de escrita. 2010 foi bom, muito bom. Tanto carinho trocado, tantas ideias partilhadas, tantos encontros de fato ocorridos. Bom também saber que em muitas escolas, em muitas cidades, apesar das tantas adversidades que a educação enfrenta hoje ainda existem pessoas desejosas de espalhar mais histórias ao mundo, levando livros e escritores mais perto de crianças e de jovens, a fim de que a semente da leitura possa germinar no coração de cada pessoa.
Pena que muitos não enviem fotos dos eventos. Mas, alguns, como a professora Cristina Lemos, de São Leopoldo, lembram de nos mandar amostras de seus projetos. Abaixo, o link do blog que a Cris desenvolve com seus alunos. Lá há uns vídeos sobre meus livros. Valeu, Cris

http://setimahohendorff.blogspot.com/

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Caio Cronista 10: Livros são ponte.

Na imagem, apenas o que restou de uma biblioteca atacada pela selvageria da guerra. E, nela, três homens. Postura que destoa do que os rodeia: destroços, destruição, violência. Como se estivessem em um templo, celebram os livros que sobreviveram à barbárie: um lê um livro alheio a tudo, mergulhado, quem sabe, nas aventuras por algum mundo ideal (ou não...); outro percorre o olhar pelas estantes, talvez, à procura de um título que de sentido ao sem-sentido da experiência vivida; o terceiro retira um livro da estante, já certo da leitura escolhida. Em comum, o cenário devastado, em comum, o desejo de mergulho na leitura.
Esta foto me faz pensar num grupo de quixote que, há 44 meses, acreditaram ser possível um manter pessoas reunidas em torno da leitura e, então, criaram a Reinações: Confraria da Leitura. Não importa se chuva, sol ou vento, os encontros sempre repleto de ideias, de emoções, de diálogo e discussão sobre tantos e tantos mundos inventados através da palavra. Nada mais os une além do desejo mesmo (e não pequeno) de pensar a existência a partir do encontro com o objeto artístico capacitador de voos e de fantasia: o livro. Ele mesmo com seu poder de deleitar, de nos levar à reflexão, de nos transformar.
Difícil crer, por vezes, que no século em que se apregoa o fim do livro, a necessidade do imediatismo, a leitura descartável e utilitária, que pessoas sejam capazes de saírem do óbvio e criarem possibilidades de troca. E essa ocorrendo através da magia que apenas um livro pode provocar, em seu tanto de prazer (ou de ódio) estético.
Ler, creio, estende pontes. Sempre. E não importa para onde. Ponte ao encontro do outro; pontes ao encontro do sonho; pontes ao encontro de nós mesmos. Pontes, sempre pontes.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Retratos de Caio 12

Descubro em uma gavetas dois retratos meus feitos acho que em 2009. Um feito por um aluno, o Matheus, enquanto eu tentava ensinar a eles as regras da concordância. Pelo visto, a aula estava muito legal. Tanto que ele se envolveu com a tarefa de retratar o professor. Creio que é o único retrato de perfil dessa série.


O segundo foi feito pela Carolina, minha filha. Retrato do pai com direito à declaração de amor para a mãe. Filhos são sempre elos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Palavras 27

LIVRO - Entre as estantes de uma biblioteca qualquer, de uma livraria qualquer ou, até, escondido dentro de uma gaveta na qual julgávamos jamais achar tesouro, um livro. Ele: inteiro, capaz, possibilitador. E o real, por mais cinza que estiver, assume a cor de nosso maior (e melhor) sonho.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Leituras e possibilidades

Por vezes, nesse nosso andar por escolas, feiras e etc, encontramos pessoas que se encantam com a leitura e que fazem com que, mais do que mero encantamento, a leitura possa ser semente de transformação, possa ir, cada vez mais ao encontro de leitores. Esse ano foi de muitas realizações literárias, não só ocasião para surgimento de livros novos, mas sobretudo para encontros. Encontros, a maioria deles, significativos; encontros que me propiciaram existir mais como escritor, visto que minhas histórias e meus personagens passaram a viver no coração de muitos jovens e crianças. Grato a projetos vencedores, como o Livro Lido (Cachoeirinha), ao LeituAção (São Leopoldo), ao Fome de Ler (Guaíba/Canoas), ao Adote um Escritor (PoA), ao Passaporte da Leitura (Caxias), ao Conversando com o escritor (Guaíba), ao Lendo pra Valer, ao Autor Presente, ao Divulga Leitura, sem falar nas tantas secretarias de cultura e de educação que não veem suas feiras de livro como espaço para evento gradioso que enche praça, mas que nada reverte na formação da cidadania, via reflexão e fantasia. Ler é viver, ler é tornar-se. E se torna, não apenas aquele que descobre as palavras, mas aquele que as inventa também.
Assim, legal quando, apesar de não ter nenhum órgão ou instituição por trás, surgem alguns professores que ampliam, apenas pelo desejo de formar mais leitores, o universo literário de pequenos e pequenas. Assim, a título de exemplo, pois sei que muita coisa linda tem sido feita aqui no Sul em matéria de leitura, divulgo o blog da professora Marisa Steffen, que divulga os caminhos de leitura seus e de seus alunos. A ela, dei uma entrevista que pode ser acessada no link abaixo:

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fragmento Literário 1

Sou homem de inícios, embora, por vezes, me ocupe pouco com este diário virtual. A virtualidade sempre tem seu tanto de exigência. Todavia, a vida tem outros tantos bem mais. Assim, vou-me sendo na medida do possível. E, apesar dos poucos instantes, jogarei aqui alguns fragmentos de livros lidos, a fim de ser partilha e, quem sabe, criar em quem por aqui passar o desejo de leitura.
De Viagem no Scriptorium . Paul Auster


"As fotos não mentem, mas também não contam a história inteira. São apenas um registro da passagem do tempo, a evidência exterior. É difícil, por exemplo, estabelecer a idade do velho com base nessas imagens em preto-e-branco levemente desfocadas." - pag. 8

Outras palavras 21 - Vinícius de Moraes


Não sou um escritor de forma fácil, que vai escrevendo emocionalmente. Por exemplo: mil poemas saem todos os dias, mas eu não anoto nada. Se for importante, o poema volta. A poesia é fruto da vida de cada um.

domingo, 28 de novembro de 2010

Crônica: Uma tentativa de dizer por que se escreve

Palavras são sempre desejo pulsante no coração de quem escreve, de quem almeja tatuar na superfície branca da página alguma história, alguma reflexão, algum poema. Para ser escritor, duas ferramentas são extremamente necessárias: a inspiração (a sensibilidade de olhar para a vida e tirar dela motivos para a escrita) e a técnica (a capacidade de usar o conhecimento teórico sobre o texto a favor da própria escrita). O poeta Mario Quintana, certa vez, disse que escrever é 10% inspiração e 90% transpiração. Compactuo com ele, não consigo perceber o ato da escrita como atividade ingênua, descomprometida com o próprio labor. Não que este deva ser uma camisa-de-força, mas um norte a orientar caminhos a fim de que o produto da escrita seja algo que valha a pena, que converse com outros textos, que se insira na cultura pelo que tem de marca original.
A transpiração citada pelo poeta brota do trabalho, da labuta com as palavras, da briga pela frase mais adequada. Tal trabalho, no entanto, é atitude constante, que, por vezes, com o tato de histórias criadas, passa a ser mais tranquilo, menos penoso.
Escrever é, assim, um prazer, mas também árdua construção. Não apenas do texto. Do próprio escritor que, ao fazer, vai também fazendo-se.
Nasce uma história, um poema. Nascem dois, três. Outros e mais alguns. Todos exigindo paciência, carinho nas palavras, escolhas, sustos, alegrias.
Escrever é, assim, responder a duas básicas perguntas: o que contar? Como contar? Dessa fórmula, brota o texto e suas possibilidades de ir ao encontro do leitor. Afinal, é para isso mesmo que textos são escritos. Para serem ponte, elo, conexão com aqueles que mergulham em mundo criados por outros a fim de melhor entenderem o mundo e melhor se entenderem. Daí, creio, a necessidade dos livros. Daí, creio a premência de muitos escritores em desejarem ver seus poemas e suas histórias virados livros. Isso sempre é possibilidade de voo livre ao encontro do coração do outro.
Escrevemos não para não morrermos, como acreditam alguns. Escrevemos, tenho certeza, para dar vida à vida, para criar novos mundo dentro do nosso próprio mundo. Escrevemos por que estamos vivos, e a vida necessita da palavra.

domingo, 31 de outubro de 2010

Tempo de criançar

Quando eu era pequeno, gente-criança, muito as palavras me encantavam. Adorava, nas noites de verão ou de inverno, não importava se frio ou calor, ouvir as histórias que minha mãe ia contando. Havia histórias de medo e de assombração, e destas é que eu mais gostava. Ficava, depois, é claro, louco de medo de levantar no escuro para ir ao banheiro, ficava imaginando que algum daqueles seres horríveis de que minha mãe falava pudessem estar por ali, escondido em qualquer canto da casa, inclusive embaixo de minha cama. Ah, mas aquela sensação de pavor não inibia o prazer maior de ouvir histórias.
E de tanto ouvi-las, acabei também desejoso de eu mesmo contá-las, de eu mesmo vivê-las a cada livro, ou gibi, ou poema, que eu ia descobrindo entre as prateleiras da biblioteca da escola em que eu estudava.
Mergulhar nos livros era como mergulhar dentro de mim mesmo. Lá, nas páginas dos livros, eu podia ser quem eu quisesse, podia viver o que quer que fosse, podia ser herói ou vilão, cachorro ou gente, bicho ou brinquedo. A fantasia sempre se oferecendo para que eu aceitasse o convite de mais e mais aventuras dentro das palavras escritas.
Foram tantos os livros, tantas as histórias, todas elas se tatuando em mim como memória de um tempo bom, passado entre os volumes (grandes ou pequenos, feios ou bonitos, coloridos ou não) repletos de magia, cheios de palavras capazes de criar mundos reais e mundos inventados, como o País das Maravilhas, onde a pequena Alice mergulhou meio sem querer, para descobrir um lugar muito pirado, em que Rainhas loucas só sabiam ficar gritando: "Cortem-lhe a cabeça!", ou em que coelhos brancos vestiam-se com esmero e andavam sempre atrasados. Ah, e As caçadas de Pedrinho, sítio fantástico e ao mesmo tempo simples, em que o pessoal do Pica-pau amarelo vivia as mais impressionantes aventuras. Houve também o menino feito de pau que foi virando gente, o Pinóquio, e o rapaz que roubava dos ricos para dar aos pobres, o Robin Hood, ou até aquele submarino potente que singrava os mares por baixo da água no livro Vinte mil léguas submarinas.
Pois de tanto ler, de tanto provar do doce (às vezes amargo também) sabor da leitura, foi que resolvi escrever. Hoje, além de seguir gostando de ler, inventei pra mim um outro prazer: o da escrita.Sou escritor e, a cada dia que passa, acredito mais e mais que ler mexe com a gente: tanto na mente quanto no coração. Por isso leio, por isso escrevo. E adoraria que quem lesse essa minha breve crônica curtisse ler mais e mais também.
(crônica escrita para ser postada no blog da Band)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Em Caxias

Caxias do Sul está envolvida em livros, mergulhada na leitura. Andei por lá na semana passada, participando das atividades de mais um PROLER. Palestrantes animados, crédulos no sonho de criar mais e mais leitores; participantes animados, certos de que a capacitação abre olhares para novos mundos e pontes rumo ao coração-leitor de jovens e de crianças.
Maior alegria é que eu fiz parte, mais uma vez, dessa construção.
Mas a Feira é longa, o PROLER apenas uma de suas tantas atividades. A feira, cujo slogan é Ler é iluminar-se, vai até o dia 17 de outubro. Pela praça, ainda passarão muitos escritores, haverá muitos encontros, muitas mesas, muitos leitores em contato com a maior e mais perfeita invenção da humanidade: o livro.
Posso parecer ingênuo, sonhador, mas sei que o que sou devo ao tanto de tempo de minha vida que ganhei ao mergulhar em universos de fantasia no interior de uma biblioteca, ou debaixo de uma árvore, ou deitado em minha cama, ou. Livros não carecem deste ou daquele lugar, não precisam de bateria, não necessitam de nada mais que um coração desejoso de sonho.
Volto a Caxias na quinta. Encontro com leitores dentro do projeto Passaporte da Leitura, que quer — como todo o passaporte — romper fronteiras, propiciar descobertas, desmobilizar almas e corações.
Estive também na feira de Garibaldi, bons momentos entre professores e alunos do Colégio Madre Felicidade. E nessa semana, ainda andarei pela Feira de Gravataí. Outubro parece ser mesmo, aqui no RS, o mês dos livros nas praças e ruas.

Outras palavras 20: Paul Valéry


Prefiro infinitamente mais escrever em plena consciência e inteira lucidez alguma coisa fraca a produzir em estado de transe e fora de mim uma obra-prima entre as mais belas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eu, verbete

Editado pela Fundación SM, o Gran Diccionario de autores latinoamericanos de literatura infantil y juvenil, coordenado por Jaime Garcia Padrino, pretende abarcar a literatura infantojuvenil produzida nos países latinoamericanos. Ao lado de autores como Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Ana Maria Machado e Graciliano Ramos, na página 756, há o verbete Caio Riter, que apresenta principais obras e temas de minha literatura.
Figurar num dicionário, nunca me passou pela cabeça.

Mas é bom.

Dá uma sensação de se estar inserido, de fato, no universo da LIJ. Claro, sei que o que nos insere mesmo neste mundo fantástico da literatura é a capacidade que nossas palavras inventadas têm de ganhar mentes e corações, de incentivar a fantasia, de propiciar sonhos. Sei disso. Porém, creio que a história de um escritor vai se construindo no entre: crítica e leitores; prêmios e leitores, análises acadêmicas e leitores. Sempre desejei estar no entre.

E dicionários — além de cáctus, de edições de Alice e de imagens de São Francisco — sempre alimentaram meu espírito de colecionador. Adoro coleções. E agora, um volume de uma das minhs coleções faz referência ao meu fazer literário.

E é bom!

Eduarda no teatro!

Recebo notícia que me deixa bem feliz. A almofada, o castelo e o dragão, peça montada pelo pessoal do grupo Cuidado que mancha, a partir de um livro meu, Eduarda na barriga do Dragão (Artes e Ofícios, 2006) e em livros do Luís Dill e do Celso Gutfreind, devido ao sucesso de público, terá nova temporada no Casarão Verde - Shopping DC Navegantes.


Gosto de ver meus personagens em novas leituras. Creio que a palavra é mesmo semente solta ao vento, caindo nos mais diferentes terrenos e em alguns germinando. Sempre que um livro ganha outras leituras, creio que se abrem mais e mais portas para que sua história possa se enraizar no coração de novos leitores ou para que novos olhares sejam jogados sobre um texto já conhecido. Que venham mais peças, filmes, HQ, jogos de PC, o que vier. Estarei com meu coração escritor-leitor aberto. Sempre!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Outras Palavras 19 - Mário de Andrade


Quando sinto a impulsão lírica, escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi.


sábado, 28 de agosto de 2010

Degolada em Cachoeirinha

Creio que escrevo é para isso mesmo: para que minhas histórias, minha palavras, meus mundo inventados, possam suscitar o nascimento de mais e mais palavras, numa relação que se perde no coração e nas mentes daqueles que me leem. Escrever é, quem sabe, possibilitar que outras palavras possam ser escritas, pensadas, sonhadas. Assim, fico bem feliz quando isso ocorre, como ocorreu em Cachoeirinha, primeiros leitores que mergulharam no universo fantástico de meu mais recente livro: Maria Degolada, santa assombrada (Editora Edelbra).

Maria Degolada

Lenda é história que o povo conta
para assustar as pessoas,
Nem sempre são verdade, mas amedrontam
tudo aquilo que as pessoas aprontam

A Maria Degolada
é mais uma dessas lendas assombradas:
conta que uma mulher muito amada
teve a cabeça cortada.

O soldado Bruno, seu namorada,
estava muito enciumado,
queria que ela fosse só dele,
mas ela não queria casar com ele.

O resultado disso foi uma grande briga,
que acabou em desastre,
a mulher foi degolada,
depois de ser ameaçada.

O Bruno se acusou,
na delegacia se apresentou,
um copo dágua ele ganhou,
na prisão ele entrou e morto ele ficou.

Isso nos faz pensar,
que brigar não é legal,
que ninguém é de ninguém na hora de amar,
temos que respeitar o direito pessoal.

Essa lenda é do século passado,
mas infelizmente coisas assim ainda acontecem,
Então, não seja ultrapassado
e não haja tão errado.

Poema construído pela turma 41, da professora Karen - Cachoeirinha-RS





domingo, 15 de agosto de 2010

Palavras 26

ESCRITA (2) - Escrever é descobrir algum atalho na floresta. E suas cachoeiras: lagos fundos, lagos rasos. Estes oferta de maior risco, cabeça batendo em pedra e ponta. Os outros, mergulho em profundidade. Escrever é isso: prazer e risco.

domingo, 8 de agosto de 2010

Palavras 25


ESCRITA (1) - Escrever é penetrar em floresta fechada. Caminhos há. Perigos também. O perigo da perna quebrada em raiz da terra saída, sem razão de ser. Galhos curvados. Serpentes escondidas, prontas para o bote, quando a mão distraída se aproxima da flor.

sábado, 7 de agosto de 2010

Gente Nova 13 - Thiago Mattos

Thiago Mattos nasceu em Petrópolis, região serrana do estado do Rio, e reside atualmente em Niterói, onde cursa Letras. Escreve poesia e prosa. Escreve e guarda. Guarda e esquece que guardou. Há alguns meses, contudo, tem pensado em abrir uma greta da gaveta. E, enquanto seu livro não sai, é possível conhecer sua poesia no blog: http://aparedeeosanguedela.blogspot.com/



Conhece alguém que mexa com encanamento velho?


I
A noite que rasga o trem
Coloca o trem dentro do meu quarto.
Sentado na minha cama.
O aço de 9 bilhões de toneladas.
Dorme, criança.
II
Não foi a noite crua
Que cobriu o mundo.
Tudo é de plástico.
Tudo é de fogo.
Tudo é frio como é fria
Nossa cama assim
Cortada com ruas e casas e árvores
E meia cidade sem luz elétrica.
III
É respirarmos, ainda que mal.
É haver, ainda que não se saiba.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eduarda vira peça

Meu livro Eduarda na barriga do Dragão e os demais títulos da coleção Tatu-bolinha, da editora Artes e Ofícios, virou peça de teatro pelas mãos do grupo Cuidado que mancha. Estreia amanhã! Convite abaixo:



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Minhas Luas

Ao se publicar um livro, sobretudo quando se envereda por um território ainda não explorado, fica sempre a dúvida: os passos dados serão adequados? Ao escrever As luas de Vindor, aventura fantástica, história de princesa que tem uma missão salvifica a cumprir, sempre me vinha a inquietação: queria um livro de aventura, de fantasia, mas ao mesmo tempo queria uma história, não apenas uma trama aventuresca, em que o que mais importasse fossem as ações. Queria um personagem não apenas de carne e osso, mas, sobretudo, de sentimentos. Assim, quando li a crítica do Christian David, sobre este meu novo livro, fiquei feliz, afinal, o Christian diz perceber em As luas o meu jeito de contar histórias. Isso, creio, é bom.
Para quem desejar ler a crítica na íntegra, basta acessar o blog do Christian David, através do link: http://cndavid13.blogspot.com/2010/07/as-luas-de-vindor-indicacao-de-livro.html

sábado, 10 de julho de 2010

Caio leitor 16 - Um balé de assombramentos

Um balé de assombramentos
Caio Riter

Escrever para adolescentes, com originalidade, não é tarefa fácil. Muitos são os autores hoje, pelos mais diferentes motivos, que se aventuram a produzir literatura juvenil. Cada um com seu estilo, cada um com suas crenças, cada um com seu universo particular de temas e de gênero. Confesso que, como leitor e como escritor, me interessam, sobretudo, tramas que contenham dramas humanos. Sim, creio que escrever para jovens não é apenas arquitetar uma trama repleta de peripécias. Algo mais precisa ser construído. Algo de extrema necessidade: personagens singulares, personagens que transponham a fronteira da invenção e tornem-se seres de carne e osso, apesar de serem feitos de verbo.
Assim, quando mergulho num universo em que elementos arcaicos, como a lenda ou o sobrenatural, se fundem com elementos atuais e propiciam a emoção ou o arrepio necessários a um bom texto, o leitor que existe em mim imerge em tal mundo, devora-o, alimenta-se dele e é levado a querer saber até onde a emoção do escritor pode levar a minha. Relação de cumplicidade.
Pois foi o que senti ao abrir as páginas de A bailarina fantasma, de Socorro Acioli, brilhantemente editado pela Biruta, num projeto gráfico digno de prêmio. A cor rosa, as imagens do Theatro José de Alencar, os desenhos em arabescos, tudo reforça o tema central e contribui para o clima de sobrenatural que permeia as duas primeiras partes da história, sabiamente dividida em três atos, como se uma grande história não apenas estivesse sendo narrada ou dançada, mas sentida.
O narrador se deixa comover, embora seja neutro em seu relato. E sua comoção contida abre espaço para os arrepios que eriçaram meu corpo as vezes em que a jovem Clara, bailarina e fantasma, aparece para a protagonista, a jovem assustada Anabela. Porém, não apenas de arrepios tal história se constrói. A emoção, necessária a qualquer texto, independente do público a que se dirige, está presente. O reencontro de Gabriel com a filha que ele julgara morta é emocionante, dá aquele aperto na garganta, traz um certo brilho de água aos olhos. Fica-se a perguntar sobre o que poderiam ter sido aquelas vidas, caso a maldade não tivesse lançado suas garras sobre o destino de Clara e de Gabriel.
Neste sentido, Socorro elabora duas histórias: a de Clara, bailarina virada assombração, cuja lenda faz parte do imaginário cearense e para a qual a autora, através de pesquisa, ficcionalizou uma verdade; e a de Anabela, jovem que tem a capacidade de ver o fantasma da bailarina e que irá ser o elo entre ela e o mundo real, a fim de que uma grande injustiça seja reparada.
Desta forma, o livro de Socorro Acioli não apenas se centra no episódio sobrenatural, que com certeza possui apelo por si só ao coração dos adolescentes (e não apenas deles), mas mergulha na dor das perdas de Anabela. Há vida, pois, nas histórias das duas jovens. Ambas enfrentaram experiências de morte, ambas desejam estabelecer novas relações para si. Aliás, a cena inicial, que é retomada no final, com Anabela enterrando, junto com animaizinhos domésticos mortos, bilhetes para a mãe falecida é de uma originalidade ímpar e de uma beleza singular.
Li com gosto A bailarina fantasma. Livro dos bons, que não subestima seu público e que vai além dele. Afinal, como disse Orígenes Lessa, o bom livro para crianças ou para adolescentes é aquele que é lido com prazer pelos adultos. O que, para mim, com certeza é uma verdade inegável.

Nas teias da Maria Degolada

Uma história que conversa com o sobrenatural e que muito me encantou é a da Maria Degolada. Uma jovem alemã que, aos 17 anos, num piquenique com o namorado no Morro do Hospício, foi assassinada poe este. Degolada. Cabeça quase apartada do corpo. A jovem no caizão; o soldado Bruno na cadeia, e isso tudo em dias de fim de século: novembro de 1899, na minha cidade. O morro até hoje convive com a santa assombração da Degolada, confundida, talvez por ter o mesmo nome, com a mãe de Jesus.
Pois esse mês, em publicação pela Edelbra, e com ilustrações do Joãocaré, surge minha versão dessa lenda que encantou minha infância e que ainda perturba corações em noites de sexta-feira. Santa ou assombração? Ser do mal ou auxiliar mágico? Muitas as crenças e descrenças que rondam a lenda da Maria. Eu tenho lá as minhas, e as exponho em meu novo livro: Maria Degolada, Santa Assombrada.
Psiu. Silêncio. Muito silêncio. Está ouvindo? Oh, é ela, a Degolada. Ela vem chegando, a Maria Degolada vem bem devagarzinho. Mal não causa, mas e o medo?

domingo, 27 de junho de 2010

As luas de Vindor

Pela Editora Biruta, sai minha primeira incursão no universo da fantasia: As luas de Vindor. Livro que me ocupou muito, visto que era inquietação profunda sobre como tratar de algo já tão banalizado de uma forma que pudesse, dentro do rotineiro esquema, soprar ares de novidade. Novidade, na verdade, acho que não é bem o que eu procurava, mas sim escrever um livro que valesse a pena ser lido, que, além da construção de um universo paralelo, tivesse a possibilidade vidas pulsantes. Queria uma personagem dentro de uma história, e não apenas alguém que cumprisse apenas uma função na trama. Não sei se consegui, mas quando li as palavras da escritora Rosana Rios, uma autoridade quando se pensa a literatura fantástica, creio que meu livro está no caminho certo. Agora, é aguardar os leitores, para saber se minha Olívia os encantou na leitura, como me encantou no ato da escrita.
A Rosana publicou resenha sobre As luas de Vindor, no blog da AEILIJ Paulista. Quem quiser conferir basta acessar: http://aeilijpaulista.blogspot.com/2010/06/um-livro-do-qual-gostei-muito_27.html

sábado, 5 de junho de 2010

Eu no Salão da FNLIJ

Principais autores e ilustradores de livros infantis se reúnem em evento no Rio

Redação SRZD Entretenimento 02/06/2010 17h01

O Salão Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) do Livro para Crianças e Jovens será realizado no Centro Cultural da Ação da Cidadania (Av. Barão de Tefé, 75 - Saúde - Zona Portuária) entre os dias 9 e 19 de junho. O evento reunirá 71 editoras e, como acontece todos os anos, haverá vários bate-papos com escritores e ilustradores, exposições, cursos e seminário. O coquetel de abertura fica por conta de Vera Rezende,do Buffet do Bistro.
Além dos espaços de leitura para crianças e da biblioteca para jovens, esta edição terá duas novidades: a Biblioteca para bebês e a realização do 1º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil. Este ano, o país homenageado será a Coréia do Sul, representada por duas ilustradoras - Suzy Lee e Yang Hye-Won - que vêm ao Brasil especialmente para participar do Salão.
Nomes consagrados já confirmaram presença no evento, entre eles Adriana Falcão, Ana Maria Machado, Bia Hetzel, Caio Riter, Caulos, Eliane Ganem, Fernando Vilela, Flávio Carneiro, Graça Lima, Graziela Bozano Hetzel, Guto Lins, Gustavo Bernardo, Jô Oliveira, Joel Rufino dos Santos, Karen Acioly, Kátia Canton, Luciana Savaget, Luiz Antônio Aguiar, Nilma Lacerda, Roger Mello, Rui de Oliveira, Socorro Acioli e Ziraldo.
Serviço:

Centro Cultural da Ação da Cidadania
Avenida Barão de Tefé 75, Saúde, Centro do Rio
Segunda à sexta-feira: 8h30 às 18h
Sábado e domingo: 10h às 20h
Ingresso: R$ 4

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mergulho em palavras

Ando mergulhado em novo livro. Este sempre é momento de maior inquietação e paixão. A história já planejada no há muito me faz pensar seus caminhos. Sempre há um momento para a primeira palavra, e ela veio, e já ando pela página 12, deixando-me levar pelas ações já delimitadas pela minha razão. Ela é quem ordena, seleciona, marca; no processo de escrita, no entanto, a sensibilidade, o mergulho no interior da protagonista (eu tentando entendê-la), vai ditando a atmosfera, vai construindo de fato a narrativa. Primeiro a racionalidade, sem ela, nada toma seu rumo; depois o deixar-se contaminar, o deixar-se levar pelas sendas do previsto, tentando implementar um dado de surpresa e de susto.
Escrevo.
Leio fragmentos do já construído e gosto do caminho traçado.
Escrever tem, para mim, sempre seu tanto de razão e seu tanto de sonho.

Semana que vem estarei no RJ. No salão do LIJ. Vai ser bom.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Novas edições

Além de O tesouro Iluminado, meus livros A cor das coisas findas e Atrás da porta azul, agora publicados pela Artes e Ofícios, recebem nova edição. As histórias, em suas essências, as mesmas. Mudou um ou outro detalhes, a fim, justamente, de reforçar a intenção narrativa.





A cor das coisas findas (4ª edição)

Atrás da porta azul (2ª edição)





Pergunta de leitora

Uma leitora minha, a Bruna Ingryd, após leitura de um dos posts deste blog, me envia pergunta inquietante. Interroga ela: Mas, afinal, palavra tem magia?
Tem, Bruna, tem sim. A magia de nos transportar para mundos imaginários, mundos que a gente nem imaginava que podiam existir; a magia de nos transformar em gente mais gente: criativa, imaginativa, crítica; a magia de dar forma à vida; a magia de nos enredar em suas tramas e nos fazer mergulhar em universos fantásticos. Tantas são as magias das palavras.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mais um patronato

A gente, acho, começa a se sentir escritor, quando nossos personagens e nossas histórias começam a encantar os leitores e esse encantamento leva a algumas homenagens. Para quem escreve, neste estado cheio de feiras e de encontros literários, ser patrono de uma feira do livro que chega a sua 21ª edição sempre é motivo para festa. Estou em festa nos próximos dias. Sou patrono da feira de Guaíba, que ocorre de 25 a 29 de maio.


Ontem, na abertura, pude fazer soar o sino que aproximará livros e leitores, através de atividades e de encontros que, espero, possam atiçar no coração de muitas pessoas o desejo pela leitura, pela posse de livros, pela magia da palavra.



O carinho, a simplicidade, a alegria de meus amigos e amigas de Guaíba tem me feito me sentir em casa debaixo daquelas tendas que colorem a praça e parecem gritar para todos que passam que a festa é do livro.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Um novo tesouro

Meu livro O tesouro iluminado, que conta as aventuras de Alva na Terra, ganha cara nova na edição, agora, pela Artes e Ofícios. Nada de novo na história, um ou outro pequeno ajuste. Sou daquele tipo de escritor que acredita que, se necessário, podemos interferir quantas vezes forem necessárias na busca da qualificação de um texto, mesmo que ele já tenha sido publicado. Uns veem tal postura como uma traição ao leitor. Não, ao contrário. Atitude de respeito, visto que, se o autor não escrevesse mais aquela história do modo como ela foi publicada em suas edições anteriores, por que não mexer? Claro que penso que tais mexidas não podem descaracterizar substancialmente a essência do original. Se isso for ocorrer, melhor escrever novo livro. Segue a capa da nova edição, feita pela Martina Schreiner, em seu primeiro trabalho de ilustração profissional. Ficou dez!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Crespusculando

Pois leio na Gazeta, jornal regional, que meus livros Viagem ao redor de Felipe e O rapaz que não era de Liverpool dividiram com o best-seller Crepúsculo a lista dos livros mais vendidos na 25ª Feira do Livro de Bento Gonçalves, da qual participei no Projeto A feira vai à escola. Bacana a notícia, surpresa por ver meus textos entre os preferidos, surpresa por encabeçarem a lista três livros para adolescentes, certeza de que a juventude tem lido e de que os livros seguirão, por muito e muito tempo, atraindo olhares, mentes e corações.
Acesse a matéria em http://www.gazeta-rs.com.br/noticia.php?id=9848

sábado, 15 de maio de 2010

Feiras aos montes

Muitas são as feiras, muitos são os eventos literários neste mês que se adianta em sua segunda metade. O que fica, no entanto, é a possibilidade de troca e de semeadura de sonhos e de desejo de leitura que se vai percebendo em muitos corações. Feiras devem ser culminância, momento de festa para aquilo que se construiu anteriormente. Feiras precisam ter um antes, um gênesis, caso contrário serão apenas eventos, nada mais.
Há feiras, e feiras. Nas semanas passadas, estive em Bento Gonçalves, feira que já atingiu a maioridade em sua 25ª edição; feira que desenvolve o projeto A feira vai à escola e em que o escritor é acolhido por seus leitores em seus locais de estudo. Em Bento, estive em quatro escolas. Muitos os carinhos, muitas as atividades, várias as trocas. No final, fica aquele sonho de que alguma palavra dita, alguma palavra lida, possa ter sido semente plantada para, quem sabe um dia, o broto da transformação seja desabrochar.
Ontem também estive em Cachoeirinha, cidade que tem respirado leitura, com seu projeto Livro Lido e seus encontros de formação de professores e de bibliotecários. Sempre é bom respirar palavras. Desta vez, retornei a Cachoeirinha, para participar do II Seminário de contadores de histórias.
Não sou contador profissional, assim apenas falei de minha experiência, memória fixada, retomada, retornada, quando me debrucei sobre a feitura de meu livro A formação do leitor literário em casa e na escola (Biruta). Ao pensar em minha história de leitura, fui percebendo a importância que a brincadeira com as palavras e a contação de histórias feitas por minha mãe tiveram em mim. Adivinhas, parlendas, canções de roda, cantigas de ninar, histórias de assombração, tudo um grande terreno para que o Caio Escritor surgisse. Antes dele, o Caio Leitor.
Sobre isso, foi que falei. Sobre a atração que as histórias têm sobre nós. Qualquer história, em qualquer momento da vida. O resto, diria Shakespeare, é silêncio. Mais nada.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Palavras 24


EXTRAPOLAÇÃO: A magia da leitura extrapola os limites de uma feira do livro, ela aproxima gentes, encanta leitores, estabelece pontes entre aquele que escreve e aqueles que os leem.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Caio Leitor 15 - O pastor de sombras

Tenho sido homem de leitura, de outro modo não sei ser. As palavras ficcionais, ou as poéticas, são sempre eco no dentro de mim, são sussurros de quero mais, criam aquilo a que chamamos de necessidade. Uns têm de comida, outro de amores, de dores, de tudo o mais. Eu tenho lá minhas fomes, uma delas: a leitura. A maior talvez.


Ando calado, sei, sobre o tudo lido. Palavras têm seu tanto de agarramento na gente, algumas nos prendem mais, outras provocam maravilhamentos, algumas passam, e só. Livros são assim, podem tatuar marcas na alma da gente ou apenas serem distração. Prefiro os primeiros.


E um que me provocou demais foi O pastor de sombras, escrito pelo meu amigo mineiro, o Luís Giffoni. Amizade construída a partir de um encontro na Feira de Porto Alegre e que se esticou através da troca de longas cartas em papel e caneta. Hoje já não mais, a rotina da vida deixando as trocas mais para e-mails. Mas presentes em forma de livros ainda chegam (e vão) dentro de envelopes pardos. Pois foi assim que Manoel da Cruz, o protagonista de O pastor de sombras, chegou até mim.


Giffoni revive o mundo barroco no que tem de dúvida, de angústia existencial, de jogo com a fé e as contingências da vida. Um padre poderoso, um homem de verdades, que vai se revelando através de sua fé, uma fé que faz concessões em demasia e que nos oferece um retrato chocante, que lanha nossas costas com os mesmos chicotes e açoites que vertem sangue do jovem sobrinho do bispo ao tentar reativar sua fé, nublada por outros saberes, outros desejos. Livro que machuca. Ah, eu andava sentindo falta de algo assim.

domingo, 9 de maio de 2010

Andanças

Abril e maio têm sido meses de andanças pelo Rio Grande e por caminhos mais além. No final do mês passado, estive em Poços de Caldas, na Flipoços. Não conhecia a cidade e nem a feira, que já anda por seu quinto ano.
Cidade de praças e águas termais, de passeios de charrete em meio a automóveis...
Lá conheci pessoas bacanas, gente que, como eu, curte as palavras, lendo-as ou escrevendo-as ou musicando-as.
Cidade de muitas praças, de montanhas, de estátua do Cristo Redentor...
No centro, bem dentro da Casa de Cultura, espaço para livros e para discussão de ideias. Entre os tantos encontros, momentos de conhecer a poesia e a música do Flávio Brasil, gaúcho de Bagé, já no há muito por Porto e a gente sem se cruzar.
Cidade de queijos, de doce de leite, de beijo de moças (o doce)...
Momento também para trocar ideias com o Scliar, sempre palavra tranquila, sempre presença afetiva, nada da vaidade excessiva que, por vezes, assola os "imortais". Sua palestra foi mergulho em sua trajetória de vida e de escrita, foi partilha.No final, dia bacana, pena tenha sido curto para o tanto que Poços oferece.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Seminário começa amanhã


Abril de leituras e mais leituras

Esse mês, que é o do livro também, muito tenho me envolvido com atividades de leitura. Estive em Tucunduva, comemorei junto com muitos confrades os três anos da Reinações, com o debate de um livro que valeu pela releitura: O apanhador no campo de centeios, do J.D. Sallinger, iniciei novo grupo de oficina e com o anterior enveredei pelo universo da crônica, o que até rendeu a publicação da crônica Zumbis craquelados, da aluna Greyce Ávila, na Zero Hora. Também ministrarei curso sobre As lendas na sala de aula, no auditório da Livraria Paulinas, no dia 23, além de participar do Seminário: Por que ler os clássicos juvenis?, uma parceria da Reinações com a Biblioteca Lucília Minsen, da CCMQ.
A leitura, o debate, a troca de ideias entre aqueles que escrevem e aqueles que leem têm sido a tônica deste abril que não se despedaça, apesar do tanto que me consome. Um consumir agradável, atiçador, sedutor, envolvente. As palavras virando rede e eu, peixe, no enredar-me, no desejo de fuga, no roçar das águas que convidam à liberdade e ao mesmo tempo exigem o olhar centrado.
Ah, e no final do mês, participo da FLIPOÇOS, a Feira Literária de Poços de Caldas. Primeira experiência por aquelas terras, desejo de descobertas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Troca de ideias no blog da Aeilij Paulista

A escritora Regina Sormani, responsável pelo blog da Aeilij Paulista (confiram o blog, sempre tem assuntos e ideias interessantes para serem pensadas, trocadas, questionadas: http://aeilijpaulista.blogspot.com/) convidou a escritora (e minha amiga) Márcia Leite, que por sua vez me convidou) para trocarmos ideias sobre a escrita e sobre nossas vivências de escritores no Vice-Versa deste mês. Lá, eu e Márcia, falamos sobre leitura, sobre escrita, sobre tabus em relação à literatura juvenil, sobre o poder de salvação da leitura, sobre inspiração, enfim, assunto não faltou, apesar de serem poucas as perguntas. Abaixo, posto uma mesma pergunta que ambos respondemos um para o outro, visto que em 2008 lançamos uma coleção Historinhas Bem..., pela Escala Educacional, projeto feito meio a quatro mãos. Se você ficar com gosto de quero mais e quiser ler as entrevistas na íntegra, visite o blog. O endereço está logo ali em cima.

Márcia Leite pergunta, eu respondo:


— Escrevemos uma coleção (“Historinhas bem...”) à distância e a quatro mãos. Para mim foi um grande desafio durante todo o processo. Como foi essa vivência para você?
Com certeza, grande desafio. Produzir uma coleção que previa duas histórias em cada livro, ambas com o mesmo tema, apenas com o diferencial de dois olhares distintos: um feminino (o seu); outro masculino (o meu), e não ser repetitivo (visto que todas as histórias deveriam ter um narrador em 1ª pessoa) foi tarefa árdua. Todavia, prazerosa. Escrever tem sempre, acho, esta aura de desafio: será que daremos conta da história que nos vai por dentro? Será que as palavras escolhidas darão conta daquilo que desejamos escrever?Confesso que quando recebi o convite, fiquei entre temeroso e atiçado. Era algo novo. Era algo a ser feito em parceria, mas não explicitamente a quatro mãos. Afinal, as escritas foram isoladas, cada um de nós tendo as premissas para a escrita, mas sem qualquer contato com a história que o outro estava produzindo. Uma sintonia mais de ideias, mais de perceber os caminhos possíveis de escrita, a fim de respeitar a criatividade sua e do outro. E isso tudo sem qualquer troca de palavras do tipo: bah, como tá a tua história? Experiência única até agora. Mas que, se possível, pretendo repetir.

Eu pergunto, Márcia Leite responde:


— Escrevemos juntos a coleção Historinhas Bem... E, como você mesma disse, foi um grande desafio produzir um texto à distância e a quatro mãos. Assim, repito a pergunta: como foi tal experiência pra você?
Fizemos uma estranha e fecunda parceria, não é mesmo? A partir de uma consigna bem limitada (tema e foco narrativo em 1ª pessoa) conseguimos fazer milagres. Meu grande desafio foi me libertar do seu fantasma, ou seja, tentar ignorar que você também estava escrevendo uma história para o mesmo livro, com um personagem que vivenciaria situações que poderiam ser semelhantes ou totalmente distintas das que eu estava construindo. Por que, se eu me deixava contaminar pelo seu fantasma, corria o risco de travar. O fato de não nos comunicarmos enquanto escrevíamos foi uma estratégia que facilitou esse descolamento. A troca só de dava quando o texto estava concluído e deixamos para nosso editor a incumbência de nos orientar. Claro que poderíamos palpitar no texto do outro se quiséssemos, mas houve uma espécie de acordo não dito que nos levou ao mesmo procedimento: os livros teriam a impressão digital dos autores em suas histórias. Assim fui perdendo o medo do fantasma do Caio Riter e a coisa deslanchou.Outro desafio, para mim, não sei se para você também, foi o de tentar. trabalhar de um jeito divertido e simples com emoções muito verdadeiras, muito sérias e por isso muito humanas.Foi uma experiência e tanto, e espero que possamos repetir outras tão prazerosas e desafiantes como essa.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Outros passos...

O dia 27 de março, momento de autografar meu novo livro pela Artes e Ofícios, O outro passo da dança, foi momento também de pensar a formação do leitor literário, em oficinas ministradas por mim e pela escritora Eliana Martins (sucesso total, mais de 30 pessoas inscritas) e de reencontrar amigos e leitores. Um sábado e tanto, troca de ideias, troca de carinhos e uma fila bem grandinha. Mais uma vez, não fiquei sozinho. Eu e meus personagens encontrando guarida no coração de muita gente bacana.
Cada livro novo é momento de expectativa: qual será, afinal, sua trajetória? Que caminhos traçará? Que olhares se voltarão para ele? O que meus personagens terão a dizer a quem com eles se encontrar?
O contato com o leitor sempre é momento bacana. Oportunidade de perceber o quanto minha histórias têm de sonante em corações leitores.
Pois, essa semana, já como retorno do pessoal que encontrei no sábado, recebi e-mail da Liza Caldeira, professora, sempre animada com a leitura, mãe do Henrique, garoto que ama as palavras. Nele, Liza dá conta de seu envolvimento com meu livro. Coisa boa de ler e que quero aqui partilhar com quem se interessa pela minha obra. Meu obrigado, Liza, por palavras tão carinhosas:

Caio,
primeiro parabéns pelo evento que estava maravilhoso, este contato com os autores é sempre muito bom e estava tudo bem organizado, valeu.
Teu livro simplesmente devorei no domingo de chuva, perfeito! Adorei mesmo, parabéns.
Além do texto, excelente, instigante, o tratamento visual do livro é bárbaro com aquelas cores, as ilustrações e alternância de tamanho da fonte ficou superinteressante.
Estão todos de parabéns e eu me senti mais uma vez uma privilegiada por ter na mão um livro de muita qualidade.
Um abraço, Liza

terça-feira, 30 de março de 2010

Entrevista de uma leitora

Uma leitora minha, que se assina Lê, manda as questões abaixo. Motivo: um trabalho escolar que tem como tema meu livro Meu pai não mora mais aqui. Diz ela (leia no comentário ao post abaixo) que o livro a encantou.
Seguem as perguntas, Lê. E minhas respostas:

1. Você já escreveu muitos livros, mas qual seu favorito?

Sim, já escrevi vários, acho que já estou atingindo a marca de 28 livros, porém escolher um apenas é algo muito difícil. Cada livro tem sua história e sua importância na minha trajetória de escritor. Gosto de muitos, de quase todos. Gosto de me envolver com meus personagens e, como não quero que nenhum de meus livros se sinta inferior aos demais ou fique triste, não posso admitir preferências. Certo?

2. O livro "Meu pai não mora mais aqui" é um livro juvenil muito interessante, onde buscou inspiração?

A inspiração foi uma história familiar de separação, além de trocas de ideias que mantive com um leitor (e agora amigo): o Tadeu. A maioria das coisas que ocorrem com meus personagens foram colhidas da vida mesmo. Com a Letícia, a história real foi mais disfarçada; com o Tadeu tudo ficou mais explicito. No início desse meu blog, conto como "Meu Pai" surgiu, tem até foto minha com o Tadeu verdadeiro. Mas foi isso. Na verdade, a vida é sempre cheia de muitos motivos literários. É só ficar atento e descobrir as histórias que estão esperando pra serem contadas.

3. Qual o seu tipo favorito de literatura ?

Não tenho um tipo favorito. Gosto de ler. Gosto que a história me envolva, me convença. Só, confesso, não curto muito textos de humor ou de comédia. O resto? Tudo vale! O bom mesmo é deixar se envolver pela magia das palavras. Quer escrevendo, quer lendo.

domingo, 28 de março de 2010

Notícia sobre o lançamento 2

Quatro bons lançamentos para os jovens

Os leitores jovens ganham, neste sábado, quatro novos bons motivos para ler. É que a editora Artes & Ofícios lança, em Porto Alegre, quatro livros assinados por nomes de destaque da literatura juvenil no Rio Grande do Sul.
Em Aconteceu com Aline e Lucas (120 páginas, R$ 21), a escritora Eliana Martins trata de um tema importante: a gravidez na adolescência. Já em Whatever (128 páginas, R$ 24) o autor Leonardo Brasiliense reúne dez contos que têm como protagonista João Pedro, um jovem que atravessa seus últimos anos de escola - e, consequentemente, as pressões que esse período da vida impões.
O terceiro lançamento é O Outro Passo da Dança (176 páginas, R$ 29), do premiado Caio Riter, que narra a densa história de uma tragédia que muda a vida de três amigos. O quarto livro que chegará aos leitores neste sábado é Do Coração de Telmah (128 páginas, R$ 24), no qual o escritor Luís Dill, sempre atento às novidades tecnológicas que permeiam o universo da juventude, inova mais uma vez na forma ao estruturar o texto em 500 mensagens de twitter.
Os lançamentos ocorrem a partir das 16h, no Absoluto Café (Rua São Manoel, 341, na Capital). A entrada é franca e haverá mesa redonda com o quarteto de escritores, seguida de sessão de autógrafos.
Jornal O Pioneiro, 26 de março de 2010

Notícia sobre o lançamento 1


EDITORA FAZ LANÇAMENTO COLETIVO
De uma só tacada, a editora Artes & Ofícios lança hoje, a partir das 16h, no Absoluto Café (São Manoel, 341), quatro livros assinados por nomes expressivos da literatura para jovens produzida no Rio Grande do Sul. Em O Outro Passo da Dança, Caio Riter narra a densa história de uma tragédia que muda a vida de três amigos. Luís Dill inova na forma em Do Coração de Telmah, estruturando a narrativa em 500 mensagens de twitter. Leonardo Brasiliense, cuja carreira alterna contos para jovens e adultos, se dedica a investigar nas narrativas breves de Whatever a tão falada falta de sentido na vida dos adolescentes. E Aconteceu com Aline e Lucas, de Eliana Martins, é mais um título da Coleção Grilos (que já publicou livros de Dill e Riter), que aborda questões cruciais da adolescência em tramas juvenis. Neste caso, a gravidez na adolescência. Os autógrafos serão depois de uma mesa-redonda com os quatro autores. O evento tem entrada franca.
Jornal Zero Hora, 27 de março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

Um Outro Passo...

Pois é, dia 27 de março, a partir das 16h, estarei dando mais um passo em minha história de escritor. Estarei lançando o livro O outro passo da dança (Artes e Ofícios).
Mais um livro: três adolescentes, cada um com sua dor, com suas neuras, com seus desejos de felicidade. Busquei tramar três conflitos que se cruzam e entrecruzam, fazendo com que seus protagonistas busquem outros passos a serem dados na dança da vida. São capítulos curtos, embalados pela trilha sonora da adolescência, que quer ser diferença, que quer encontrar caminhos próprios para o viver.
Livro novo sempre se entrega ao devoramento e à crítica daqueles que o leem. Assim, espero meus leitores no Absoluto Café (Rua São Manoel, 341) para troca de ideias sobre o escrever. No dia também ocorrerá um curso para quem interessar, com oficinas sobre leitura e mesa-redonda sobre literatura infanto-juvenil, coordenada por Mara Jardim.
Maiores informações através do fone: 33110832, com Cláudia, Divulga Leitura.
Os convites seguem abaixo:








domingo, 14 de março de 2010

Retratos de Caio 11

Ano passado, numa feira do livro em um colégio em Cachoeirinha, encontrei o cartunista Jerry Costa que me presenteou com um "retrato" meu e que, agora, apesar do atraso, passa a integrar a galeria dos meus retratos.

Outras palavras 18 - Dias Gomes

Não conseguiria viver sem escrever, porque só escrevendo consigo expulsar os meus demônios e vencer a minha angústia (...) Só escrevendo, escrevendo qualquer coisa, sem parar, até ficar exausto afugentar esses temores. Por isso, talvez, tenha sido levado compulsivamente a escrever muita coisa que preferia não ter escrito. Como alguém que se viu obrigado, em circunstâncias adversas, a viver uma vida que não era a sua durante parte de sua existência.

terça-feira, 9 de março de 2010

Contadores de histórias...

Evento comemorativo ao Dia do Contador de histórias – 19 de março
Programação
MARATONA DE HISTÓRIAS INFANTIS – Durante todo o dia haverá sessões de contação de histórias para alunos de escolas e público em geral .
As escolas interessadas em participar do evento deverão fazer agendamento.
Rodadas de historias:
9h: Três tigres com Mario Pirata
9h30- Os Amigos de Elvira com Paulo Bocca
10h: Leo e Albertina com Fabia Barbosa e Adriana Medeiros
10h30- É verdade: um causo de pescador com Monika Papesku
14h: Historia populares para crianças com Grupo Quem conta um conto .
14h30- O baile das portas com Marô Barbieri.
15h: Pra lá e pra cá com Caio Riter.
15h30- Liliput de sorvete e chocolate com Hermes Bernardi Junior.
Local: Sala A2B2 – 2º andar da CCMQ
Ingresso: R$ 5,00 por rodada - Ingresso por turno: R$ 10,00
Ingresso Maratona de historias ; R$ 20,00

Historias para adultos das 17h às 18h30 – Sala C2
Espaço livre para contadores de historias .

OFICINAS:
Do concreto ao abstrato no teatro de bonecos, formas e objetos.
com o Grupo Camaleão Teatro de bonecos.
Do boneco concreto ao abstrato na contação de histórias. Uma previa apresentação de teatro de bonecos, já trazendo uma referencia do concreto até o abstrato. Sensibilidade dos materiais, o que eles por si representam. Construção de uma idéia e a transformação da idéia para a historia. Construção dos personagens e do ambiente ou cenário onde vive o personagem. Construção do agente que fará o desenvolvimento da historia.
Ensaio. Apresentação para os colegas e afinação das ações com as intenções da historia. Apresentação para o grande grupo.
Ministrante: Tânia de Castro e João Vasconcelos
Horário: 9h as 12 e 14h às 17h
Inscrição: R$ 30,00
Local: Sala Pé de Pilão na Biblioteca Lucilia Minssen

O corpo também conta historia com Celso Sisto .
O uso do corpo na arte de contar histórias . Exercícios para melhorar a plasticidade corporal. A exploração do texto e do corpo, mediados pela emoção.
Ministrante: Celso Sisto.
Horário: turma da manhã das 9h as 12h ou turma da tarde 14h as 17h
Inscrição: R$ 25,00
Local: Sala Lili Inventa o Mundo – 5ª andar

PAINEL: “ O PODER E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS”
18:30- – O Fio da palavra narrativa : A formação dos contadores de historias do projeto Fio da palavra (PUC-RS), com Celso Sisto
18:50- Diversidade cultural na área de contação de histórias com Sandra Remedi
19:10- Leitura & Contação com Marô Barbieri
19h30-Contar Historias na Escola Não é Historia de Terror com Paulo Bocca
19h50- A contação de historias como ritual com Lívia Petry
20:10- A contação de historia como espetáculo com Hermes Bernardi
Coordenação geral: Marilia Sauer Diehl – Diretora da Biblioteca Lucilia Minssen
20:30 – Confraternização e entrega dos certificados
Local: Sala A2B2 – 2º andar Casa de Cultura Mario Quintana.

Inscrição do Painel: R$ 15,00. e R$ 10,00 para estudantes .
Haverá certificado de participação.

Reservas e inscrições do evento na biblioteca ou através de deposito bancário na conta da Associação Amigos da Biblioteca Lucilia Minssen : Banrisul – Agencia 0839 – conta nº 41.852295.0-0

sexta-feira, 5 de março de 2010

Um presente poético

A web e a literatura, em seus tantos caminhos e possibilidades, nos proporcionam encontros. Entre os tantos já construídos, está o que me fez cruzar com a Valquíria Malagoli. Pessoa querida, escritora, que na praça de sua cidade faz com que a poesia seja algo vivo, exposto em varais e painéis, pássaros prontos para o voo; despertar de mais e mais poetas. O bom está aí: proporcionar que cada pessoa — criança, adulto ou velho — possa verter seus sentimentos em papel. Pois foi a Valquíria que, após se encontrar com meu mundo inventado, meu recorte de infância, no livro Chico (WSEditor), me presenteou com o singelo poema abaixo. Bom perceber que nossos personagens ganham mundos, corações. E versos.





Encontro com Chico
(para Caio)

Junto dos amigos
Foi pelo correio
Que o menino Chico
Chegou a meu seio.

Tão logo eu o vi
Bem notei-lhe os traços:
Tinha o riso e o peito
Prontos para o abraço.

Ê, turminha arteira!
Ê, infância enorme!
Depois o mundão
Põe-nos uniforme!

Bem mais sábio, o Chico
– que simplicidade –
Abraçou a vida
E a maior verdade.

Sorte nossa haver
Por aí “tios Pedros”
Pra plantar sementes
De contar segredos...

(Valquíria Gesqui Malagoli)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

No Catálogo de Bolonha/2010

O Catálogo de Bolonha é organizado pela FNLIJ e reúne livros que representam o Brasil na famosa e conceituada Feira de Bolonha, na Itália. Este ano não são minhas criações ficcionais que estão no catálogo, mas, sim, o livro que tem como público-alvo professores e quem se interessa pelos caminhos que formam um leitor. Livro que quer ser troca, entre o Caio-escritor-leitor-professor e todos aqueles que, de alguma forma, se sentem comprometidos com a formação de leitores. Ele não traz uma verdade absoluta. Traz, apenas, a minha verdade, colhida e construída durante os tantos anos em que os livros são parte de minha vida e de minha profissão.
Meu livro A formação do leitor literário em casa e na escola (Editora Biruta) foi selecionado para representar, junto com textos de autores consagrados (Jorge Miguel Marinho, Ninfa Parreira, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, entre outros), o Brasil na categoria de livros sobre leitura. Ele é um misto de experiência e teoria, em que, em primeira pessoa, procuro articular minha história de leitor: criança, adolescente, pai, professor. Algumas facetas minhas ligadas ao livro; algumas histórias de infância; alguma reflexões com o intuito de derrubar alguns mitos que envolvem a formação do leitor; algumas dicas e crenças de como fazer com que um livro possa qualificar alguém no espaço escolar. Experiência inédita em minha história de escrita, esse meu livro me presenteia com essa alegria.
Para conhecer todos os livros que figuram no Catálogo de Bolonha-2010, basta acessar o site da Fundação do Livro Infanto-Juvenil: http://www.fnlij.org.br/imagens/primeira%20pagina/2010/Bolonha2010.pdf

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Contando histórias

No dia 19 de março, ocorrerão atividades na Biblioteca Lucília Minsen, organizadas pela Marília Diel, em comemoração ao dia internacional do contador de histórias. Haverá, além de um seminário, uma maratona de contação de histórias em que diversos escritores e contadores estarão, a cada 3o minutos, presenteando a garotada com histórias incríveis. Desta vez, resolvi dar uma de contador. Tenho lá minhas limitações nesta arte, mas resolvi partilhar com as crianças uma história minha, Pra lá e pra cá, que fala sobre o sonho de uma ovelha feita de nuvens, a Celeste, de ser bailarina. Será que ela consegue? Acho que vou levá-la pra que ela mesma conte sua história.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dia 23, Reinações

Na próxima terça, ocorre o encontro número 34 da Confraria Reinações, ideia criada por um bando de gente que acreditou ser possível se reunir mensalmente para conversar sobre um livro feito para crianças e/ou adolescentes. A ideia deu tão certo que o aniversário do terceiro ano se aproxima. E dia 23/fevereiro, nos reunimos para trocar impressões sobre A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Outras Palavras 17 - Rodrigo Lacerda

A solidão, ou melhor, a companhia dos meus personagens, é um prazer. Antes, eu começava a escrever sabendo tudo o que iria acontecer, mas, sempre que deixo a coisa correr mais solta, o livro fica melhor; já aprendi isso. Então, agora só quero escrever com liberdade interior, deixando os personagens decidirem para que lado querem ir.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Caio cronista: sete

O forte da minha infância

A rua de minha infância era comprida. Dos dois lados, casas muito iguais, com sua única janela frontal. Acavalado no portão, eu ficava a inventar sonhos para cada uma das pessoas que passavam, a maioria descida do ônibus cuja parada, lá na esquina — esquina que me parecia tão distante —, despejava-os, cansados, apressados, tristes, falantes, em mais um dia de retorno.
A rua da minha infância abrigava um tanto de guris como eu: o Mano, o Feio, o Altair e o André, o Lindomar. Minha rua acolhia também o Mário. A casa dele tinha muro e portão de ferro, e ele era garoto de quase não saídas para as brincadeiras de rua, que ficava observando detrás da fronteira de tijolos.
Mas o Mário tinha o que nenhum de nós possuía: um forte-apache. Grande, colorido, cheio de cavalos, de soldados e de índios, com suas tendas, com seus arcos prontos a dispararem flechas contra a fortaleza que protegia os homens brancos e fardados.
O Mário tinha, guardada em uma enorme caixa de papelão, esta enorme possibilidade de aventuras; aventuras como aquelas que passavam nos filmes da sessão da tarde. E poucos eram os escolhidos para transpor o portão de ferro, para dividir com o Mário a fantástica aventura de dar vida àqueles bonecos de plástico.
Eu era um deles.
E havia algo de sagrado naquela escolha. Havia algo de epifânico, pois nem sempre o Mário atendia ao meu convite de brincar de forte-apache. Creio que, para o meu amigo, aquele brinquedo não representava o que representava pra mim. Afinal, ele era o dono; a ele cabia a liberdade do desejo. Brincar ou não brincar dependia apenas de uma palavra sua e de um abrir de caixa. Caixa sempre de surpresa, embora o que seria visto já fosse conhecido. O maravilhamento estava, hoje penso, nas possibilidades que cada parte do forte-apache suscitava: os muros, a torre de vigia, as bandeiras, os soldados, as montarias, a carruagem, as tendas indígenas, os próprios índios, o fogo-de-chão. Aos poucos, no mover dos elementos, uma história de guerra ia se desenrolando e a fantasia só tinha fim quando a mãe do Mário o chamava.
Era o toque de recolher.
E eu me ia, portão fechado atrás de mim, com o desejo calado na garganta: Mário, tu me empresta o forte?
Nunca pedi.
Ao voltar para casa, prendedores de roupas e pedaços de pau tomavam a forma do meu forte, não tão perfeito e bonito como o do Mário.
Mas meu.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Retratos de Caio 10


Acima, uma leitura de mim, feita por uma leitora minha, a Maiara, que me fez ser parte de uma exposição de desenhos seus. Estou meio triste na foto. E sem barba...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entre o prazer e o labor da adaptação

A escrita tem sempre seu dado de invenção, creio que mesmo quando mergulhamos em universos não urdidos por nós, como é o caso da adaptação. Graças ao pedido do pessoal do Jogo da Amarelinha, ano passado descobri o bom de adaptar. Fazia tempo que eu tinha o desejo, mas, na verdade, não sabia direito o que ele poderia me proporcionar de prazer. Haveria o prazer da escrita semelhante àquele de quando invento minhas histórias, ou seria apenas e mero trabalho com as palavras? Me descobri gostando de urdir mundos já urdidos, tentativa de aproximar clássicos da literatura universal de crianças e de adolescentes. Pois neste quente verão de 2010, aceitei a tarefa de realizar mais duas adaptações para a Série Recontar, da Escala Educacional: Aladim, clássica história das Mil e Uma Noites (sem autor) e O retrato de Dorian Gray, do Oscar Wilde. O processo de releitura, de pesquisa, de escrita, depois os ajustes ao público, sem contudo deixar que se perca a essência do original, é labor, mas também sedução demasiada.
Abaixo, fragmento de minha versão para o romance do polêmico Oscar Wilde, ainda no prelo, mas com previsão de publicação para os próximos meses.

Deitado no divã, Henry Wotton podia ver o jardim através da porta aberta do ateliê. Um ou outro pássaro jogava a sombra de seu voo sobre as cortinas das janelas. Apenas isso. No mais, o zumbido monótono das abelhas tornava mais terrível ainda o silêncio daquela tarde. Os ruídos de Londres chegavam vagamente aos ouvidos do rapaz.
No centro do ateliê, sobre um cavalete, havia um retrato: um jovem de corpo inteiro e de extraordinária beleza. Diante dele, à pouca distância, estava Basil Hallward, o artista que pintara tal retrato e que, ao observar a beleza de sua obra, não conseguia conter um sorriso de prazer.
Ainda com o riso nos lábios, Basil se levantou, fechou os olhos e cobriu as pálpebras com as mãos, como se quisesse aprisionar dentro de si algum sonho do qual não quisesse despertar.
— È lindo esse retrato, Basil. O melhor que você já pintou. Com certeza.
O pintor permaneceu estático, mãos sobre os olhos. As palavras do amigo pareciam não provocar qualquer efeito sobre ele.
Henry repetiu:
— Belo retrato. Digno de ser exposto ao público.
— Não penso em expor este quadro — disse Basil, retirando as mãos do rosto e abrindo os olhos.
— Como não? — falou Henry. O amigo pintava sua maior obra e lhe dizia que não a divulgaria em nenhuma exposição. — Mas por quê? Vocês pintores são mesmo esquisitos: lutam pela fama e, quando têm a possibilidade de experimentá-la, a atiram fora. Um retrato como esse iria colocar você em destaque. Provocaria inveja nos jovens pintores. E nos velhos também.