quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre o papel das Feiras de Livros

             Feiras de livro são importantes. Muitos pensam assim. E verdades absolutas dificilmente são questionadas. Feiras de livro são importantes, sim, mas desde que, de fato, qualifiquem o leitor, aticem seu olhar para os livros. O que nem toda a Feira de livro faz.
           Em minhas andanças por feiras, percebo que o problema maior reside em se julgar que uma feira da leitura necessite de outros atrativos que não apenas e somente os livros, os escritores ou as atividades que giram em torno da leitura: uma peça de teatro, por exemplo, nascida de um livro ou que trate sobre o tema. Feiras de livro, por vezes, são espaço para a presença de brinquedos infláveis, para cinema 3D, para show de alguma banda famosa (ou nem tanto), para a presença de algum cantor ou ator global. Tudo sempre com o intuito (louvável, mas questionável) de se trazer mais público à praça ou ao ginásio. Entretanto, para que mesmo quer-se mais público que não consuma livros, se a feira é para ofertar livros? Faça-se, então, uma feira cultural, aberta à pluralidade. Aí, se chama todo mundo para a praça e se pode propagandear para a população o feito.
             Muitas vezes, nestes eventos, a discussão literária se torna muito mais atraente para quem discute do que para quem assiste, ouve. Já fui a feiras (pasmem!) em que não havia livros meus à venda. E vários autores já se queixaram disso. Alguns livreiros aproveitam a ocasião para venderem seus estoques, para venderem os mais recentes best-sellers, sem se preocuparem se aqueles autores que visitarão a feira verão seus livros expostos e se os leitores que queiram adquirir o livro e pegar o autógrafo terão êxito. Normalmente, não.
            Claro que sigo crendo que feiras são bons momentos para a formação de leitores e também dos leitores. Sigo acreditando na importância de formarmos plateia qualificada, público consumidor de literatura, embora não creia que a feira pela feira possa propiciar isso. É necessário mais: é preciso um projeto de leitura, quer em nível escolar, quer em nível municipal. Apenas levar hordas de crianças e de jovens à praça não os torna leitores. Por vezes, eles nem sabem o que estão fazendo por lá: não vão às atividades a eles destinadas, pois não foram devidamente motivados para elas ou não veem nelas proveito, visto que nem sabem quem é aquele(a) cara que está falando lá na frente: não conhecem sua obra, seus livros, suas palavras literárias, já que não foram apresentados a elas anteriormente. A feira, creio, deveria ser a apoteose de um trabalho prévio com os livros dos escritores visitantes. Aí, sim, quando isso ocorre, de fato o encontro na feira torna-se significativo para o autor e para os seus leitores. Seus leitores, pois já tiveram o contato, mediado, com a obra daquele que encontrarão no palco da feira.
             Para muitos (inclusive para alguns professores, estes que assumiram para si o papel de mediar a leitura nas escolas), ir à feira é motivo para passear, para não ter aula; não foram educados, motivados, instigados a descobrirem o mundo que se esconde dentro das páginas de um livro: basta um toque, um folhear de páginas, olhos a decifrar universos, para que a mágica se instaure. Já visitei feiras das quais saí maravilhado pelo tanto de envolvimento de crianças, de jovens, de adultos com a leitura. Estavam ali por que queriam, era ato de vontade; estavam ali pois aderiam à necessidade de se viver literariamente; estavam ali prenhes de leitura, desejosos de mais encontro com os livros.
             Portanto, há feiras do livro que vão ao encontro do que, a meu ver, deve ser uma feira do livro. Mas poucas. Daí, a necessidade de pensarmos na qualificação dos mediadores de leitura, na oferta de livros interessantes, no aprimoramento do leitor, na crença de que livros lidos nos formam como gente, na certeza de que a formação de bibliotecas familiares são importantes. Aproximar as pessoas dos livros é importante, mas não apenas jogá-las entre livros, acreditando que basta montarmos barraquinhas de livros em praça pública para que a comunidade se torne leitora. Se fosse assim, nossa realidade de leitura, com certeza, seria outra. E melhor.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Fazer-me palavra.

Por vezes, teço neste espaço algumas confissões. Sei que o confessar-se tem seu tanto de revelação, de busca de entendimento, de tentativa de compreensão do outro e, claro, de nós mesmos. Vai se saber.
O fato é que me revelo ou me confesso.
Gosto (por vezes acho que até demais) de enveredar pelas páginas do Face. Escrevo o que penso, evito compartilhamentos (apenas os que me enchem da necessidade de), porque acredito que na minha página deva postar comentários meus sobre o viver, sobre o ser, enfim, são apenas minhas percepções. Sei que outras existem, muitas, e tantas diversas das minhas. Algumas dialogantes; outras amparadas em bases tão distintas que a conversa não tem como existir. Cada um agarrado às suas verdades; alguns tão cegos por elas que usam as palavras de forma violenta, virulenta.
As redes sociais - e neste sentido creio que o Face tem se mostrado mais revelador que o falecido Orkut - são espelhos de quem posta, compartilha, curte. E, confesso, alguns posicionamentos me assustam. Não apenas por serem contraditórios a tudo em que eu acredito. Mas, sobretudo, por serem cegos para o outro, para a realidade do outro, para a necessidade do outro, para a alteridade do outro.
E o que me resta, senão apenas confessar tal preocupação? 
Fazer-me palavra, mesmo que me hostilizem, ou me bloqueiem, ou.