domingo, 28 de fevereiro de 2010

No Catálogo de Bolonha/2010

O Catálogo de Bolonha é organizado pela FNLIJ e reúne livros que representam o Brasil na famosa e conceituada Feira de Bolonha, na Itália. Este ano não são minhas criações ficcionais que estão no catálogo, mas, sim, o livro que tem como público-alvo professores e quem se interessa pelos caminhos que formam um leitor. Livro que quer ser troca, entre o Caio-escritor-leitor-professor e todos aqueles que, de alguma forma, se sentem comprometidos com a formação de leitores. Ele não traz uma verdade absoluta. Traz, apenas, a minha verdade, colhida e construída durante os tantos anos em que os livros são parte de minha vida e de minha profissão.
Meu livro A formação do leitor literário em casa e na escola (Editora Biruta) foi selecionado para representar, junto com textos de autores consagrados (Jorge Miguel Marinho, Ninfa Parreira, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, entre outros), o Brasil na categoria de livros sobre leitura. Ele é um misto de experiência e teoria, em que, em primeira pessoa, procuro articular minha história de leitor: criança, adolescente, pai, professor. Algumas facetas minhas ligadas ao livro; algumas histórias de infância; alguma reflexões com o intuito de derrubar alguns mitos que envolvem a formação do leitor; algumas dicas e crenças de como fazer com que um livro possa qualificar alguém no espaço escolar. Experiência inédita em minha história de escrita, esse meu livro me presenteia com essa alegria.
Para conhecer todos os livros que figuram no Catálogo de Bolonha-2010, basta acessar o site da Fundação do Livro Infanto-Juvenil: http://www.fnlij.org.br/imagens/primeira%20pagina/2010/Bolonha2010.pdf

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Contando histórias

No dia 19 de março, ocorrerão atividades na Biblioteca Lucília Minsen, organizadas pela Marília Diel, em comemoração ao dia internacional do contador de histórias. Haverá, além de um seminário, uma maratona de contação de histórias em que diversos escritores e contadores estarão, a cada 3o minutos, presenteando a garotada com histórias incríveis. Desta vez, resolvi dar uma de contador. Tenho lá minhas limitações nesta arte, mas resolvi partilhar com as crianças uma história minha, Pra lá e pra cá, que fala sobre o sonho de uma ovelha feita de nuvens, a Celeste, de ser bailarina. Será que ela consegue? Acho que vou levá-la pra que ela mesma conte sua história.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dia 23, Reinações

Na próxima terça, ocorre o encontro número 34 da Confraria Reinações, ideia criada por um bando de gente que acreditou ser possível se reunir mensalmente para conversar sobre um livro feito para crianças e/ou adolescentes. A ideia deu tão certo que o aniversário do terceiro ano se aproxima. E dia 23/fevereiro, nos reunimos para trocar impressões sobre A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Outras Palavras 17 - Rodrigo Lacerda

A solidão, ou melhor, a companhia dos meus personagens, é um prazer. Antes, eu começava a escrever sabendo tudo o que iria acontecer, mas, sempre que deixo a coisa correr mais solta, o livro fica melhor; já aprendi isso. Então, agora só quero escrever com liberdade interior, deixando os personagens decidirem para que lado querem ir.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Caio cronista: sete

O forte da minha infância

A rua de minha infância era comprida. Dos dois lados, casas muito iguais, com sua única janela frontal. Acavalado no portão, eu ficava a inventar sonhos para cada uma das pessoas que passavam, a maioria descida do ônibus cuja parada, lá na esquina — esquina que me parecia tão distante —, despejava-os, cansados, apressados, tristes, falantes, em mais um dia de retorno.
A rua da minha infância abrigava um tanto de guris como eu: o Mano, o Feio, o Altair e o André, o Lindomar. Minha rua acolhia também o Mário. A casa dele tinha muro e portão de ferro, e ele era garoto de quase não saídas para as brincadeiras de rua, que ficava observando detrás da fronteira de tijolos.
Mas o Mário tinha o que nenhum de nós possuía: um forte-apache. Grande, colorido, cheio de cavalos, de soldados e de índios, com suas tendas, com seus arcos prontos a dispararem flechas contra a fortaleza que protegia os homens brancos e fardados.
O Mário tinha, guardada em uma enorme caixa de papelão, esta enorme possibilidade de aventuras; aventuras como aquelas que passavam nos filmes da sessão da tarde. E poucos eram os escolhidos para transpor o portão de ferro, para dividir com o Mário a fantástica aventura de dar vida àqueles bonecos de plástico.
Eu era um deles.
E havia algo de sagrado naquela escolha. Havia algo de epifânico, pois nem sempre o Mário atendia ao meu convite de brincar de forte-apache. Creio que, para o meu amigo, aquele brinquedo não representava o que representava pra mim. Afinal, ele era o dono; a ele cabia a liberdade do desejo. Brincar ou não brincar dependia apenas de uma palavra sua e de um abrir de caixa. Caixa sempre de surpresa, embora o que seria visto já fosse conhecido. O maravilhamento estava, hoje penso, nas possibilidades que cada parte do forte-apache suscitava: os muros, a torre de vigia, as bandeiras, os soldados, as montarias, a carruagem, as tendas indígenas, os próprios índios, o fogo-de-chão. Aos poucos, no mover dos elementos, uma história de guerra ia se desenrolando e a fantasia só tinha fim quando a mãe do Mário o chamava.
Era o toque de recolher.
E eu me ia, portão fechado atrás de mim, com o desejo calado na garganta: Mário, tu me empresta o forte?
Nunca pedi.
Ao voltar para casa, prendedores de roupas e pedaços de pau tomavam a forma do meu forte, não tão perfeito e bonito como o do Mário.
Mas meu.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Retratos de Caio 10


Acima, uma leitura de mim, feita por uma leitora minha, a Maiara, que me fez ser parte de uma exposição de desenhos seus. Estou meio triste na foto. E sem barba...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entre o prazer e o labor da adaptação

A escrita tem sempre seu dado de invenção, creio que mesmo quando mergulhamos em universos não urdidos por nós, como é o caso da adaptação. Graças ao pedido do pessoal do Jogo da Amarelinha, ano passado descobri o bom de adaptar. Fazia tempo que eu tinha o desejo, mas, na verdade, não sabia direito o que ele poderia me proporcionar de prazer. Haveria o prazer da escrita semelhante àquele de quando invento minhas histórias, ou seria apenas e mero trabalho com as palavras? Me descobri gostando de urdir mundos já urdidos, tentativa de aproximar clássicos da literatura universal de crianças e de adolescentes. Pois neste quente verão de 2010, aceitei a tarefa de realizar mais duas adaptações para a Série Recontar, da Escala Educacional: Aladim, clássica história das Mil e Uma Noites (sem autor) e O retrato de Dorian Gray, do Oscar Wilde. O processo de releitura, de pesquisa, de escrita, depois os ajustes ao público, sem contudo deixar que se perca a essência do original, é labor, mas também sedução demasiada.
Abaixo, fragmento de minha versão para o romance do polêmico Oscar Wilde, ainda no prelo, mas com previsão de publicação para os próximos meses.

Deitado no divã, Henry Wotton podia ver o jardim através da porta aberta do ateliê. Um ou outro pássaro jogava a sombra de seu voo sobre as cortinas das janelas. Apenas isso. No mais, o zumbido monótono das abelhas tornava mais terrível ainda o silêncio daquela tarde. Os ruídos de Londres chegavam vagamente aos ouvidos do rapaz.
No centro do ateliê, sobre um cavalete, havia um retrato: um jovem de corpo inteiro e de extraordinária beleza. Diante dele, à pouca distância, estava Basil Hallward, o artista que pintara tal retrato e que, ao observar a beleza de sua obra, não conseguia conter um sorriso de prazer.
Ainda com o riso nos lábios, Basil se levantou, fechou os olhos e cobriu as pálpebras com as mãos, como se quisesse aprisionar dentro de si algum sonho do qual não quisesse despertar.
— È lindo esse retrato, Basil. O melhor que você já pintou. Com certeza.
O pintor permaneceu estático, mãos sobre os olhos. As palavras do amigo pareciam não provocar qualquer efeito sobre ele.
Henry repetiu:
— Belo retrato. Digno de ser exposto ao público.
— Não penso em expor este quadro — disse Basil, retirando as mãos do rosto e abrindo os olhos.
— Como não? — falou Henry. O amigo pintava sua maior obra e lhe dizia que não a divulgaria em nenhuma exposição. — Mas por quê? Vocês pintores são mesmo esquisitos: lutam pela fama e, quando têm a possibilidade de experimentá-la, a atiram fora. Um retrato como esse iria colocar você em destaque. Provocaria inveja nos jovens pintores. E nos velhos também.