domingo, 29 de março de 2009

Caio Leitor 10: alguns caminhos

Faz tempo que não me debruço a verter palavras sobre as leituras que vão me tornando quem sou. Acredito, na contramão de algumas outras crenças, que a Arte tem sim um papel de transformação, acredito que a Literatura é capaz de operar nas pessoas um universo de mudanças, mesmo que estas não sejam conscientes. Sei que sou quem sou pelo tanto de leitura que entrou em mim e me forjou, e me fez viver experiências tantas, muitas vezes experiências impossíveis de eu viver apenas nesta vida. Assim, embora não tenha escrito mais sobre minhas leituras, não o deixei de fazer por desacreditar nelas, mas pela mera e maior desculpa (e que na verdade não é desculpa) de todos os tempos: a falta de tempo. Tenho provas a corrigir, compromissos a cumprir, algumas palavras a verter, e acabo me ocupando pouco com o meu blog.
Tenho lido nestes tempos de silêncio. Leituras que me tomam por completo, leituras que me questionam, leituras que largo e retomo, retomo e largo, meio sem saber direito se tal texto me faz ou não falta. Abaixo, seguindo o exemplo do Christian David, em seu blog, listo algumas leituras. Sei lá se esta lista pode interessar a alguém. Fica como espécie de prestação de contas a mim mesmo. Ou não.

O outro pé da sereia, de Mia Couto.
A história sem fim, de Michael Ende.
Foguinho, de Jules Renard.
Quatro negros, de Luis Augusto Fischer.
Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo (releitura).
As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain (releitura).
De carona, com nitro, de Luís Dill.
Aurora, de Cristina Biazetto.
A maldição do olhar, de Jorge Miguel Marinho.
Baratinada, de Marília Pirillo.
O segredo do tempo, de Sandra Pinna.
O menino do pijama listrado, de John Boyne


quinta-feira, 19 de março de 2009

Literatura infanto-juvenil no SESC

Dia 24 de março, terça, às 19h, no SESC-CENTRO-POA ocorrerá a mesa: "A produção da literatura juvenil no RS", com Caio Riter e Luís Dill, mediação de Walmor Santos.
Rua Alberto Bins, 665 - Café Concerto - 2º Andar

sexta-feira, 13 de março de 2009

Eu lendo Lygia

LEITURAS ORIENTADAS
O quê?
– Leitura orientada de contos de autores (e autoras) estrangeiros (as) e brasileiros (as). Os encontros pretendem dar continuidade ao que já fizemos nos semestres passados: ler pelo que o prazer que a literatura oportuniza, mas também examinar o que esses textos têm a nos dizer a partir dos temas eleitos pelos ministrantes.
Onde?
– Fernandes Vieira – Bom Fim.
Quando?
– Em dez terças-feiras das 19h30 às 22h. (de 17/03 a 14/7)
Quanto?
– 6 x 100,00. Máximo dez participantes.

Programa/Ministrantes:
17/03 e 31/03 – Drª Márcia Ivana de Lima e Silva - Poe: poeta, contista e teórico da literatura (Leituras: A filosofia da composição: da prática da poesia à teoria do conto encontro; A carta roubada: o teórico na prática)

14/7 – Dr Lucia Serrano Machado à luz do efeito de vertigem: (Contos - A Cartomante e A chinela turca)

28/04 e 12/05 – Drª Branca Egger Moelwald - Encenações ficcionais da loucura em Machado de Assis, Guimarães Rosa e Mia Couto (Contos - A causa secreta de Machado de Assis; Soroco, sua mãe, sua filha de Guimarães Rosa e Rosalinda, a nenhuma, de Mia Couto).

26/ 05 e 09/06 – Dra Rosalia Garcia - Alice Munro: uma mestre do conto em língua inglesa. Entre o acaso e a resolução, a vida toma seus rumos.(Contos - Fugitiva e Ofensas).

23/06 e 07/07 – Dr. Caio Riter - O Universo Simbólico como compreensão da arquitetura narrativa de Lygia Fagundes Telles (Contos - Herbarium - As pérolas - As cerejas - Venha ver o pôr-do-sol -Natal na Barca - A chave na porta).

14/07 – Dra. Noili Demaman – Júlio Cortázar e o estatuto do fantástico no texto literário. (Contos - Autoestrada do Sul e A casa tomada.).

(O xerox de todos os contos será disponibilizado quando da inscrição).

Rua Fernandes Vieira, 569/26 • Porto Alegre/RS • 3312.2595 / 9146.2500

quarta-feira, 11 de março de 2009

Corcunda...

Recebi em PDF minha adaptação de Notre-Dame de Paris, mais conhecido por O corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, que publicarei pela Escala Educacional. Me encantaram a capa e as ilustrações produzidas por Rogério Borges, que tão bem captou o clima barroco-gótico do texto do autor francês. Aliás, curti muito a tarefa de verter para a linguagem juvenil a maravilhosa narrativa do autor francês. Acho que estou virando adaptador... e gostando...


Painel sobre contação de histórias

No dia 20 de março, dia do contador de histórias,ocorrerão na Biblioteca Lucília Minssen, na Casa de Cultura Mario Quintana, diversas atividades envolvendo a contação de histórias. Fui convidado para participar de um painel, em que procurarei pensar sobre a necessidade de se reinventar espaço para a narração, algo que tem se perdido nas esferas familiar e escolar. Abaixo, alguns detalhes sobre o evento:

PAINEL: O PODER E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
18h30min- A reinvenção da narrativa oral, com Caio Riter
19h15min- A contação de historia como biblioterapia em ambiente hospitalar com Eliane da Silva Moro
20h - A contação de história como inclusão social com Erica Mylius, Grupo Cataventus
20h45min- A trajetória dos contadores de historias: dos primórdios à atualidade com Paulo Bocca
Coordenação: Marilia Sauer Diehl - Diretora da Biblioteca Lucilia Minssen


21h30min - Confraternização e entrega dos certificados
Local: Sala C2 – 2º andar Casa de Cultura Mario Quintana.

Atividade paralela: Feira de livro Ciranda Cultural, oferecendo livros infantis, literatura em geral, livros didáticos, Atlas, dicionários e revistas com cds a partir de R$ 0,50 e com desconto de até 50%. Promoção inicio do ano letivo para as crianças, professores e publico em geral.
Local: hall da Biblioteca Lucilia Minssen das 9h às 18h e hall 2ªandar da CCMQ das 18h às 21h

Publico-alvo: Estudantes, professores, contadores de histórias e interessados.
Inscrição: R$ 10,00. e R$ 8,00 para estudantes .Haverá certificado de participação.
Reservas e inscrições na biblioteca ou através de deposito bancário na conta da Associação Amigos da Biblioteca Lucilia Minssen : Banrisul – Agencia 0839 – conta nº 41.852295.0-0

Caio na mídia 9: Zero Hora e Jornal de Piracicaba





quinta-feira, 5 de março de 2009

Caio cronista 4

Na gaveta

Eu era menino, idade meio perdida nas dobras da memória, quando abri uma gaveta e encontrei aquele volume sem capa, todo escurecido pelo tempo. Minha casa era lugar de poucos livros. Gibis e pulp-fiction, com suas histórias de faroeste e de detetives fabulosos, como a Brigite Monfort, havia por ali. Ah, e as extintas fotonovelas também: Grande Hotel, Contigo, e a colorida Sétimo Céu. Isso havia. Meu pai e minha irmã Maura adoravam estas histórias sempre tão iguais. Livros não. Daí minha enorme surpresa ao me deparar com aquele presente insólito. Sem capa, grosso, envelhecido, mas um livro. E estava ali, bem ao alcance de minhas mãos.
Mergulhei nele como quem se atira num lago sem saber o que as profundezas escondem. Mergulhei nele como sobrevivente em deserto ao se deparar com oásis. Mergulhei com o anseio de ter entre as mãos um livro meu. E já não me interessavam os motivos que o jogaram naquela gaveta ou o autor de tal façanha. Se o livro estava ali, se ninguém o reclamara antes, ele, a partir daquele momento, se tornava meu. Só meu. E foi. Na página de rosto, o título: Ben-hur, de Lewis Wallace. Não me recordo os detalhes da história. Por vezes uma ou outra cena me vêm à lembrança, não sei se guardada daqueles dias adolescentes ou se marcadas pelo filme, muitos anos depois assistido na televisão. Não sei, e talvez nem importe. O que ficou mais forte, mágico até, foi o momento de segurar aquele velho livro entre minhas mãos, o mergulho em suas páginas e a sensação inigualável de ele ser meu. Só meu.
Depois, veio a necessidade de proteção daquele objeto quase sagrado. Se não tinha capa, eu faria uma para ele. E fiz. Capa que nada tinha a ver com a história. Fiz uma colagem com várias motocicletas (quem sabe uma atualização daquelas bigas que apareciam no livro em suas corridas de vida ou morte?) e montei-a como capa para o meu livro. Quantas vezes o li? Não lembro. Ele era o meu livro e, portanto, cada novo mergulho era redescoberta da emoção de tê-lo. Era sofrimento junto com o protagonista, era a felicidade da vitória final.
Mas o tempo passa. Ele sempre passa.
Vai-se crescendo e os olhos vão descobrindo as bibliotecas, as livrarias, os sebos. O pouco de dinheiro sobrado vai em livros se tornando. Eu mesmo, hoje, senhor de uma biblioteca em que o meu primeiro livro não se encontra. Perdi-o, talvez envergonhado pela capa tão díspar do conteúdo. Perdi-o, talvez pela feiúra de suas páginas amarelas, frágeis, eu que naquela época não tinha a sabedoria para entender o valor de um livro antigo, em cujas páginas tantas vidas penetraram. O livro mesmo sendo essa soma de sentimentos. Perdi-o, talvez por outros e tantos motivos.
Perdi, no entanto, o objeto. A emoção de tê-lo encontrado, de tê-lo lido, ah não, essa não perderei jamais. Essa permanece tatuada na pele, no coração, no sangue, na memória. Para sempre.
Livros são assim até hoje. Quero-os por perto. Quero-os para toque, para carinho em pele de papel. Quero-os como convite, como devoramento, como objeto vivo em sua capacidade de posse e de entrega.
E esse tanto desejo de leitura, de mergulho em universos sequer imaginados, foi fazendo nascer outro (e maior) desejo: o da escrita. Assim me fui, e me vou, fazendo palavra. O verbo, quer lido, quer inventado, tem a capacidade de forjar mundos, de forjar mentes. Assim, emotivo de tristeza, por vezes, quando ouso aquela velha ladainha de que livro é caro e que, por isso, as pessoas lêem pouco. Há objetos mais caros que livros. Bem mais caros, cujo retorno é pífio, quando comparados ao bem que um livro propicia. Na verdade, livros são caros para quem não os necessita. Apenas para essas pessoas. Por isso, ando meio cansado de ver na boca de pessoas inteligentes este tipo de desculpa para justificar que os brasileiros lêem pouco, ou quase nada. Exemplos, como o a capital brasileira da leitura, Passo Fundo, que conseguiu destacar-se como a cidade em que há o maior número de leitores,devem ser seguidos. E, até onde sei, lá, os livros custam o mesmo que em qualquer outra livraria. Ou não?
Assim, sonho.
Quem dera toda e qualquer pessoa possa, um dia, abrir uma gaveta e, entre tantos guardados já esquecidos, descobrir a surpresa de algumas páginas de luz que se apresentem como água oferecida a um sedento. Este, embora possa ser desconhecedor de sua sede, ao pôr os olhos sobre o líquido vivo, o beba. Uma vez bebido, jamais haverá secura novamente.
Mas, apenas, mais e mais necessidade.
Talvez, por isso eu escreva: desejo de ser fonte também.