domingo, 31 de outubro de 2010

Tempo de criançar

Quando eu era pequeno, gente-criança, muito as palavras me encantavam. Adorava, nas noites de verão ou de inverno, não importava se frio ou calor, ouvir as histórias que minha mãe ia contando. Havia histórias de medo e de assombração, e destas é que eu mais gostava. Ficava, depois, é claro, louco de medo de levantar no escuro para ir ao banheiro, ficava imaginando que algum daqueles seres horríveis de que minha mãe falava pudessem estar por ali, escondido em qualquer canto da casa, inclusive embaixo de minha cama. Ah, mas aquela sensação de pavor não inibia o prazer maior de ouvir histórias.
E de tanto ouvi-las, acabei também desejoso de eu mesmo contá-las, de eu mesmo vivê-las a cada livro, ou gibi, ou poema, que eu ia descobrindo entre as prateleiras da biblioteca da escola em que eu estudava.
Mergulhar nos livros era como mergulhar dentro de mim mesmo. Lá, nas páginas dos livros, eu podia ser quem eu quisesse, podia viver o que quer que fosse, podia ser herói ou vilão, cachorro ou gente, bicho ou brinquedo. A fantasia sempre se oferecendo para que eu aceitasse o convite de mais e mais aventuras dentro das palavras escritas.
Foram tantos os livros, tantas as histórias, todas elas se tatuando em mim como memória de um tempo bom, passado entre os volumes (grandes ou pequenos, feios ou bonitos, coloridos ou não) repletos de magia, cheios de palavras capazes de criar mundos reais e mundos inventados, como o País das Maravilhas, onde a pequena Alice mergulhou meio sem querer, para descobrir um lugar muito pirado, em que Rainhas loucas só sabiam ficar gritando: "Cortem-lhe a cabeça!", ou em que coelhos brancos vestiam-se com esmero e andavam sempre atrasados. Ah, e As caçadas de Pedrinho, sítio fantástico e ao mesmo tempo simples, em que o pessoal do Pica-pau amarelo vivia as mais impressionantes aventuras. Houve também o menino feito de pau que foi virando gente, o Pinóquio, e o rapaz que roubava dos ricos para dar aos pobres, o Robin Hood, ou até aquele submarino potente que singrava os mares por baixo da água no livro Vinte mil léguas submarinas.
Pois de tanto ler, de tanto provar do doce (às vezes amargo também) sabor da leitura, foi que resolvi escrever. Hoje, além de seguir gostando de ler, inventei pra mim um outro prazer: o da escrita.Sou escritor e, a cada dia que passa, acredito mais e mais que ler mexe com a gente: tanto na mente quanto no coração. Por isso leio, por isso escrevo. E adoraria que quem lesse essa minha breve crônica curtisse ler mais e mais também.
(crônica escrita para ser postada no blog da Band)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Em Caxias

Caxias do Sul está envolvida em livros, mergulhada na leitura. Andei por lá na semana passada, participando das atividades de mais um PROLER. Palestrantes animados, crédulos no sonho de criar mais e mais leitores; participantes animados, certos de que a capacitação abre olhares para novos mundos e pontes rumo ao coração-leitor de jovens e de crianças.
Maior alegria é que eu fiz parte, mais uma vez, dessa construção.
Mas a Feira é longa, o PROLER apenas uma de suas tantas atividades. A feira, cujo slogan é Ler é iluminar-se, vai até o dia 17 de outubro. Pela praça, ainda passarão muitos escritores, haverá muitos encontros, muitas mesas, muitos leitores em contato com a maior e mais perfeita invenção da humanidade: o livro.
Posso parecer ingênuo, sonhador, mas sei que o que sou devo ao tanto de tempo de minha vida que ganhei ao mergulhar em universos de fantasia no interior de uma biblioteca, ou debaixo de uma árvore, ou deitado em minha cama, ou. Livros não carecem deste ou daquele lugar, não precisam de bateria, não necessitam de nada mais que um coração desejoso de sonho.
Volto a Caxias na quinta. Encontro com leitores dentro do projeto Passaporte da Leitura, que quer — como todo o passaporte — romper fronteiras, propiciar descobertas, desmobilizar almas e corações.
Estive também na feira de Garibaldi, bons momentos entre professores e alunos do Colégio Madre Felicidade. E nessa semana, ainda andarei pela Feira de Gravataí. Outubro parece ser mesmo, aqui no RS, o mês dos livros nas praças e ruas.

Outras palavras 20: Paul Valéry


Prefiro infinitamente mais escrever em plena consciência e inteira lucidez alguma coisa fraca a produzir em estado de transe e fora de mim uma obra-prima entre as mais belas.