domingo, 12 de maio de 2013

Não sou mãe

Não sou mãe.
Nunca fui mãe. Nunca gestei no meu dentro um outro ser. Nunca de meu seio saiu a seiva que alimentaria uma vida. Não sou mãe.
Sou pai.
E, como pai, o protagonismo nos inícios das vidas de minhas pequenas nunca me coube. Ser pai é dez; ser pai é poder partilhar a vida de um ser que tem um tanto de nós; ser pai é alimentar, junto com a mulher que se escolheu para amamentar a vida e os sonhos de nossos rebentos, possibilidade.
Mas ser pai não é ser mãe.
Há uma simbiose mágica entre aquelas que gestam, que geram, que parem com os filhos gestados, gerados, paridos. Mães e filhos - para o bem e para o mal - mantêm entre si laços que vão além da relação afetiva. Muito antes da luz, muito antes dos olhos se abrirem e da vida fazer-se conhecimento, no que tem de alegria e de dor, as mães já estavam lá. Dentro delas, é que a vida se faz; fora delas é que a vida se configura.
Mães são seres necessários. Não apenas para que vidas novas surjam. Mas também para que pais possam existir.
Sou pai, porque um dia, uma mulher especial resolveu partilhar seu sonho de dar à luz comigo. Sou pai graças à existência de uma mãe.

domingo, 5 de maio de 2013

Autógrafos

Por vezes, releio autógrafos recebidos e fico me sentindo íntimo e parte da história daquele que o escreveu. Fico querendo que o escritor saiba de mim, que entenda a sintonia que julgo haver e este sentir. Mas sou, sei, apenas um leitor. Alguém que mergulha em mundos verbais, que julga que as palavras urdidas, não as da trama ou as do poema, mas as do autógrafo foram escritas apenas, singularmente, para mim, o leitor. Leitor que, embora o encontro com o escritor possa ser sempre distância, é muita presença.
Estranha, aliás, essa sensação de proximidade que eu sinto em relação aos autores que amo. E não apenas aqueles dos quais tenho livros com dedicatórias, não. Sempre penso que o autor possa saber de mim, de minha existência, embora saiba que este saber é fantasioso. As palavras têm seu potencial de aproximação. Um autor, quando escreve, talvez desconheça a força que opera no dentro de quem o lê. Esta a magia que faz do outro, alguém distante, ser próximo, pulsante, e o livro ali, o elo, o portal que remete o leitor ao mundo do seu escritor.
O autógrafo? Crença de que foi único. Ele mesmo a ser o mapa ao coração do leitor. Marca para sempre do encontro.