Entre livros, lá em Antônio Prado, me deparei com a catedral da cidade, retrato parado no tempo. No dentro também, caminhar por corredores repletos de imagens sacras foi mergulho no pretérito não vivido. A catedral, majestosa, torre lançadas ao céu de poucas nuvens.
domingo, 14 de outubro de 2012
Fragmentos literários 7
Os nomes, de Benhur Bortolotto
Porque não se pode almoçar num lugar como este, e olhou para o restaurante mais uma vez, mas lá sim. E não percebeu que estava lamentando a indignidade que a sobrevivência impõe aos seres humanos, e sua própria indignidade, que Lígia não deveria, de forma alguma contemplar. Vestiu-se de carne e pele em fantasia de gestos.
(pag. 43, Editora Proa, 2012)
Porque não se pode almoçar num lugar como este, e olhou para o restaurante mais uma vez, mas lá sim. E não percebeu que estava lamentando a indignidade que a sobrevivência impõe aos seres humanos, e sua própria indignidade, que Lígia não deveria, de forma alguma contemplar. Vestiu-se de carne e pele em fantasia de gestos.
(pag. 43, Editora Proa, 2012)
sábado, 13 de outubro de 2012
Vicente vem vindo.
Há muito escrevi Vicente em Palavras. Não lembro mais em que ano sua história recebeu o ponto final. Depois, o envio a editoras que, em via de regra, diziam ser o tema pesado: a história de vida de um adolescente morto. E sua existência vai sendo apresentada ao leitor através das pessoas que conviveram com ele e que vão nos revelando, afinal, quem era Vicente, alguém que, agora, só pode existir a partir dos discursos, das palavras de quem o conheceu, de quem conviveu com ele. Proposta ousada que encontrou este ano guarida na Editora Lê, de Belo Horizonte-MG. E logo-logo, Vicente em Palavras estará disponível para quem quiser mergulhar na sua dor. Abaixo, um fragmento do início do livro.
Palavras do Henrique, o
irmão mais velho — 1
Te olho aí deitado, mano. Parece
mentira. Todo o mundo chora, nossa mãe tá desesperada e eu quero chorar também,
quero, mas fico pensando em ti e já nem sei direito se essa dor que sinto é dor
de morte ou é alívio. Tu sempre foi o mais alegre, o mais esperto, o mais
bonito, o mais namorador, o mais baladeiro, e eu ficava querendo ser tu. Tudo
errado, tudo invertido. O irmão mais moço é que tem que admirar o mais velho.
Com a gente, não foi assim. Sempre eu te espiando, eu te imitando no sozinho do
quarto, eu tendo que ouvir das minhas colegas de aula o tanto de admiração que
elas tinham por ti. Ficavam dizendo: O
teu irmão é um gato. Mas, agora, um gato morto. Acidente fatal. Quem mandou
ficar querendo se aparecer? Quem mandou ficar fazendo manobras radicais no
skate? Quem? Agora tu tá morto, mano, e eu tô vivo. Eu, com meus óculos, com
minha magreza, com minha timidez, com meu sorriso sem graça. Eu tô vivo e sou,
de novo, filho único.
Fragmento do diário de
Natália no dia do evento — 1
É difícil. Bem difícil. O Vico lá e
eu sem coragem de dar um beijo nele. Coisa mais maluca. Difícil de acreditar
mesmo. O cheiro das flores. Eu até que gosto de flores. O calor insuportável de
março. Bom pra ir pra praia. Não pra isso. Pra isso não. Os amigos em volta do
caixão. O desespero da Marta. O meu namorado lá deitado. No rosto, a brancura dos
mortos. Um beijo. Só um. Não tive coragem
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