sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As milícias de plantão

Hoje tudo é visto com olhar enviesado pelas milícias de plantão. Tudo pode ser o que não é. Qualquer palavra, qualquer gesto pode ter por trás de si algo que seu mentor não pensou, não quis fazer ou dizer. Mas as milícias do politicamente correto estão a postos, prontas pra colocar quem quer que for diante do carrasco, e este será implacável. Acusará, torturará se for preciso, a fim de que o outro (aquele que nem tinha - e talvez não queria - que seu gesto causasse a polêmica que causou). Ah, certo, dirão que devemos ser responsáveis por nosso atos, por nossas palavras. Concordo. Todavia, não posso aceitar que intenções sejam colocadas em atos comuns e, creio, inocentes.
Vivemos, dessa forma, amedrontados. Quem escreve sabe disso: nossos vilões hoje têm de ser hieginizados: brancos, ricos, homens. Aì, pode, aí o preconceito não existe, aí o politicamente correto encontra abrigo. Mas será? Acabamos por transformar o que tem menos valia social no mocinho da história.
Meu amigo Rubem Penz, cronista de qualidade, tocou em tal questão em belíssima crônica "Onde estão os japoneses", publicada no CP e em seu blog (http://rufardostambores.blogspot.com/2011/12/onde-estao-os-japoneses.html), quando fomos eleitos os novos diretores da AGES: associação gaúcha de escritores e só havia uma mulher na diretoria. Nós não havíamos chamado o Conselho Fiscal para a foto ( nele, as mulheres são maioria). O fato é que por isso fomos apelidados de Associação da Exclusão Social. Pasmem!
Pois é como digo: a sociedade fiscaliza, está atenta. Portanto, não deslize que a punição vem.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Repercussão de uma crônica-artigo ou Resposta à Taiane

Legal. Bom mesmo quando postamos um texto e cumpre sua função social: ser lido, ser discutido, ser aprovado ou rejeitado, enfim, várias são as possibilidade de ir ao encontro do leitor. E fico feliz com isso. Bom demais.
Vários foram os compartilhamentos no facebook de meu artigo em que defendo minhas ideias sobre leitura: prazer e liberdade. Uma ex-aluna (amiga agora, e isso também é bom demais), a Taiane Anziliero, criou uma crônica sobre a minha crônica. Meu texto, gerando outros textos, a palavra se estendendo e buscando mais leitores e mais reflexão (
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8656264943565733838)
Muitos também foram os comentários à crônica, quer os que estão no post, quer os feitos no face. Todos me agradam, um deles, porém, trouxe experiência e desejo de fazer. A ele, feito pela Taiane deixo aqui uma resposta-provocação:

Querida Taiane, creio que não há receitas. Há postura política diante da vida, diante dos alunos, diante do papel assumido como formador de leitores. Há gente que passa pela vida de alunos, mesmo que indicando livros, e não fica. Há gente-gente. Essas ficam. Essas por vezes erram no desejo maior de acertar. E se fizeram isso, pode ter certeza que, apesar da decepção pelo objetivo não claramente alcançado, serão absolvidas, se algum julgamento ocorrer um dia. E, cá entre nós, creio que ocorrerá.Bem, mas como dizia, receitas não há. E você, ao explicitar um projeto aliando leitura de clássicos e texto dramático, em que fez parceria com a professora de Língua Portuguesa no subsídio aos alunos, já conhece o caminho. Ousadia e sonho, o resto vem por acréscimo. E, pode ter certeza, que críticas virão. Talvez até em maior número do que os elogios. Mas a convicção de que há muito a fazer a favor de nossos jovens em relação à leitura, ah, isso há.Olha, tentando jogar alguma luz sobre tua pergunta em relação à cronologia literária, creio que um enfoque interessante é, a partir dos períodos literários que você "precisa" trabalhar com seus alunos, visto que é currículo, pode definir certos temas comuns, elencando textos das diferentes estéticas literárias, trabalhando-os conjuntamente a partir de suas características peculiares, semelhantes, diferentes entre si. Assim, o leitor-aluno (aluno-leitor) pode ter uma visão mais ampla, mais aberta na criação estética. Mas isso é papo longo. Longuíssimo. Meu abraço e siga sonhando e pondo em prática seus sonhos. Bom mesmo é ser partilha.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma crônica em forma de artigo sobre o prazer e a liberdade de ler

Prazer e liberdade: algumas palavras sobre o papel da escola na formação do leitor
literário
Caio Riter


A vida envolve mistérios. A leitura também. E nem sempre aquilo que parece simples, é, de fato. Assim, quando se fala em formação de leitores, é comum ouvir duas palavras: prazer e liberdade.
O discurso uníssono é que a formação do leitor não pode prescindir delas. Desta forma, ler seria um ato de liberdade que propiciaria o prazer. Todavia, creio que estas palavras (como muitas outras que não pretendo discutir agora), quando envolvem uma postura leitora, acabam, muitas vezes, esvaziadas de sentido ou usadas sem muita clareza do processo dialético que envolve uma metodologia ou uma política mais eficaz de leitura.
Antes de ser escritor, sou professor. E desenvolvo atividades docentes há mais de vinte anos, nos mais variados níveis de ensino. Tornei-me professor em virtude do desejo de trabalhar com a palavras (que sempre me seduziram para a escrita) e com livros (que sempre me acolheram em suas páginas e que me salvaram de um universo pouco sedutor). Porém, nem sempre esses são os motivos que levam alguém a formar-se em Letras e a entrar na sala de aula. Muitos são os motivos. Alguns mais nobres, outros talvez nem tanto.
Todavia,independente de tais motivos, percebo que a sociedade, como um todo, concedeu à escola a incumbência de formar leitores (tarefa geralmente imputada ao professor de língua portuguesa e de literatura), visto que a família, com honrosas exceções, não tem desenvolvido seu papel primeiro: poucos são os familiares adultos (pais, mães, avós, dindos, tios) que são contadores de histórias, que declamam versos, que brincam com as palavras, que propõem adivinhas, que estendem livros às crianças. Poucos. Seres em extinção, realmente.

Uma questão de prazer

Assim, coube à escola — e ela aceitou — a função de desempenhar tal papel: ser a mediadora entre o livro e o leitor; introduzir e formar crianças e jovens no universo da leitura. E suas ferramentas, geralmente, sustentam-se naquelas duas palavras citadas anteriormente: prazer e liberdade. Mas pergunto: de que prazer se fala, quando se pensa a relação entre livro e leitor? Para a maioria dos professores, o prazer proposto pela leitura é o prazer do entretenimento. Aquele discurso perigoso, a meu ver, de que quem lê “viaja”, de que quem se diverte, de que para quem lê o tempo passa e ele nem percebe. O prazer da leitura, então, seria mero passatempo. O que não creio que seja. O prazer que a leitura oferece vai muito mais além. Bem mais.
O prazer que a leitura promove não é apenas fruição. É um prazer estético. Prazer que pode, inclusive, ser ensinado. Afinal, a matéria-prima da literatura são as palavras. Palavras artisticamente elaboradas. Assim, o prazer da leitura reside na possibilidade que as palavras têm de encantar, de construir diante de nós um universo novo, mágico, possível, com seu reserva de vida paralela, com carga emotiva, que permite o deslocamento do próprio eixo, que permite que nos coloquemos no lugar do outro.
Precisamos, pois, perceber que, quando oferecemos um livro como caminho para o preenchimento de horas vagas, estamos ofertando muito pouco (ou quase nada). O prazer literário é mais: é encanto com as próprias palavras, é maravilhamento diante de uma construção sonora, de uma arquitetura narrativa ou poética. Ensinar a perceber a beleza das palavras, a beleza de seus sons, a beleza das construções linguísticas que tal autor criou, muitas vezes, pela mera inversão frasal, ou pela aproximação de palavras com sentidos distintos, ou pelo uso de determinado termo em uma construção frasal que aponta para novos significados. Ensinar a encantar-se com o ritmo de um texto, com as imagens de um texto, esse é o prazer que se deve ensinar. Se isso for feito, a leitura se tornaria insubstituível, pois nada nem ninguém propiciaria o mesmo deleite que ela. Nada nem ninguém.
Além do mais, ler exige trabalho, exige esforço. Nem sempre é prática prazerosa. Por vezes, envolve sofrimento, dor, já que propõe alguns obstáculos, tais como a decifração dos recursos e das razões que sustentam o texto ou o enfrentamento de questões (temas) com os quais ainda não estamos maduros o suficiente para lidar. Quantas vezes um leitor não sofre em virtude de algum texto literário tocar em alguma ferida aberta, em alguma problemática que o machuca, em algum tema do qual tenta fugir?
A prazer da leitura, nessa perspectiva, como diz o escritor Ricardo Azevedo, é uma construção. Construção que necessita de treino, de capacitação e de acumulação. E, para tal, a fim de que a leitura possa ser prática fruitiva diferenciada ela carece de um mediador apaixonado pela leitura e ciente de seu papel político como despertador de novos leitores. Precisamos de professores que saibam experimentar o prazer da leitura e ensinar seus alunos como adquiri-lo.

Uma questão de liberdade

E a tal da liberdade? Que liberdade é essa afinal e como ela é construída no contexto escolar? Na maioria das escolas, concede-se liberdade de escolha dos textos a serem lidos, promove-se visitas à biblioteca ou momento de leitura em que a criança ou o adolescente que, muitas vezes, ainda não se formaram como leitores, ou seja, não têm uma postura leitora, devem escolher livremente os livros que lerão. Uma liberdade, no entanto, sem qualquer critério, sem qualquer farol a iluminar caminhos. Nesse sentido, como prática docente, ela é inoperante; ela fracassa na sua própria gênese. Se não há critérios a nortearem as escolhas, onde está a liberdade? Ser livre pressupõe experimentar o diferente, o não habitual; ser livre pressupõe que eu possa dizer sim ao que não conheço. Ou não ao já conhecido. Todavia, quando não há indicadores, as escolhas tendem a recair sempre sobre aquilo que é conhecido, aquilo que não provoca riscos. E literatura é risco. Ler é arriscar-se, é deparar-se com o novo e com a confusão que o novo pode promover naquele que o experimenta.
Ítalo Calvino, ao se referir a importância de que os clássicos sejam lidos desde cedo, diz que a escola tem a obrigação de dar às crianças e aos jovens instrumentos que os tornem capazes de, após sua história escolar, serem livres para fazerem suas escolhas. Nesse sentido, creio, toda a escola necessita de um projeto de leitura, com estratégias que busquem assegurar um mínimo possível de unidade em sua prática de formação de leitores. E um projeto pressupõe trocas: entre mediador e alunos, entre alunos e alunos. Todavia, apenas pode haver qualidade nessa partilha se todos os envolvidos nela tenham tido acesso aos mesmos textos. Assim, não acredito que apenas levar alunos à biblioteca, “dando-lhe” a liberdade de retirar o livro que quiser, vá assegurar que ele leia e que leia com qualidade.
Afinal, se tal prática fosse vitoriosa, hoje os jovens não estariam saindo das escolas sem estarem formados como leitores. Assim, aquela função que a escola assumiu para si — a formação
de leitores literários — tem se revelado prática fracassada ou, no mínimo, equivocada.

Por uma prática leitora

Formar leitores, como já dito, tem que ser projeto escolar e não ação individual de algum professor. Toda escola precisa partir de certos parâmetros que busca atingir, a partir de uma principal questão: que tipo de leitor quer-se formar? Qual o comportamento leitor que se quer desenvolver? Conforme as respostas dadas a tais questões, é que se pode pensar um plano de ação que obtenha maior sucesso do que costumeiramente vemos.
Iser afinça que os bons textosliterários desenvolvem três funções: deleitar, refletir e transformar. Ora, a transformação de alguém através da leitura não é mensurável. Jamais. Possivelmente, fruto a ser colhido por outros e, claro, pelo próprio leitor. No entanto, práticas que pressuponham atividades lúdicas e atividades reflexivas são totalmente viáveis no universo escolar. O que se percebe, de modo geral, é que, nas séries inicias, os professores mediam a leitura através de práticas que tem como centro o ludismo, a brincadeira, sendo que a reflexão, o pensar
sobre o livro, o diálogo com o texto ficam em segundo plano. Já nas séries finais, a possibilidade de o livro proporcionar momento de ludicidade é “assassinada” pela crença de que o texto literário deve suscitar apenas conhecimento. E, em relação ao ensino médio, a prática já é bem sabida: cai-se nas garras da cronologia, numa visão apenas histórica da literatura, com pouca problematização sobre os fatores sociais, culturais, políticos, econômicos que suscitaram o surgimento de tal obra, sendo ela vista como algo morto, velho, ultrapassado, sem qualquer significação para o presente. E literatura é algo vivo, visceral, que, embora determinado pelo seu contexto de criação, projeta-se para além dele.
Portanto, uma prática escolar demaior sucesso, segundo o que diz Iser, deveria, independente da faixa etária do leitor, promover encontros lúdico-reflexivos com o objeto livro. Para tal, reforço, é necessária uma visão mais ampla e menos ingênua do processo deflagrador de práticas de leitura, é necessário um projeto escolar, e, mais que isso, é preciso professores contaminados pelo vírus da leitura, professores que questionem sua prática e que se deem conta de que uma metodologia da leitura necessita de momentos de aproximação da obra, de exploração do texto e de sua arquitetura, assim como de criação a partir do livro, em que crianças e jovens poderão expor artisticamente (ou não) sua visão sobre a leitura, indo além dela.
Assim, creio, a leitura seria fonte de prazer (não um prazer substituível por qualquer outro passatempo, mas único: de encontro com as palavras de um livro em especial, amorosa e criticamente escolhido por um mediador capacitado) e também de reflexão (não apenas a busca de um conhecimento formal, aproveitável, mas especial: aquele existencial, aquele que opera em si um caráter formativo e não meramente informativo).

Esse artigo, creio, é uma profissão de fé. Nele seguem minhas verdades, construídas nesses longos anos no ofício de buscar promover o despertar de mais e mais leitores. Afinal, depois de ler um livro, mesmo que não o percebamos, somos seres diferentes. Melhores, com certeza. E, se tivermos alguém que nos auxilie a perceber mais e mais as vozes que ecoam em uma história, em um poema, mais capazes seremos de nos lermos, de lermos o outro, de lermos o mundo.
(Texto publicado na Revista Durecional Educador, ano 7, edição 79, Agosto-2011, www.direcionaleducador.com.br)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quarta confissão

Confesso. Estou aqui hoje, incentivado pela chuva que cai lá fora, para confessar.
Sou capricorniano. Isso é sabido. Se não pelo tanto que apregoo isso, pela conferência da data em que nasci. Mas a confissão não é essa: sou capricorniano e uso desta premissa para referendar pensamentos, posicionamentos. Ao faltar a argumentação, me escondo na conjunção astral no momento de meu nascimento. E isso, se não justifica ações, pelo menos as explica.
Pois sou capricorniano e, por sê-lo, tenho esse viés racional, esse jeito de ver a vida sem muita emotividade. Sim, choro. Sim, me decepciono. Sim, me irrito e me indigno com certas coisas. Mas a armadura do capricorniano me impede de sucumbir, de me decepcionar totalmente. Afinal, lá dentro, bem no fundo, já havia um espaço para a presença da decepção, visto que ninguém, ninguém mesmo, por mais que se esforce, conseguirá suprir todas as expectativas de alguém.
Há males perdoáveis, penso. Mas há outros que fazem com que o bom capricorniano, apesar de não esquecer os bons momentos vividos (sou homem de memórias), impede que a convivência seja desejo novamente.
Não decepcione um capricorniano, se a presença dele for importância pra você (parece, esta última frase, um conselho de auto-ajuda, confesso, mas escrevo mesmo assim).
Sou capricorniano, confesso.