segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Palavras 44: Bolitas

 

BOLITAS: Arco-íris arredondando o chão do pátio, festa no coração de quem sempre é criança.

domingo, 13 de setembro de 2020

Escrever tem um tanto de ritual para alguns escritores. Para outros, tudo é acaso: nada de rotina, nada de planejamentos, só a imaginação cavalo solto e selvagem no solo fértil das palavras. O site LiteraturaRS tem realizado entrevistas com diferentes autores, a fim de divulgar diferentes fazeres: Jéferson Tenório, Eliane Marques, Débora Jardim, Antonio Schimeneck, entre outros. Abaixo, link para a entrevista que concedi ao Vitor Diel e ao Giovani Urio, 

https://literaturars.com.br/2020/08/10/minha-rotina-caio-riter/

Concurso literário Reinações 13 anos: a palavra e a imagem reabre inscrições.

 

REGULAMENTO

CONCURSO LITERÁRIO REINAÇÕES 13 ANOS: A PALAVRA E A IMAGEM

 

AVISO:

O presente concurso, que foi interrompido em virtude do quadro de pandemia, está retornando com novos critérios para envio dos textos. Todavia, os textos enviados antes da suspensão do concurso não precisam ser reenviados. Eles participarão da seleção normalmente.

 


1.  A Reinações: Confraria da Leitura de Literatura Infantojuvenil promove o Concurso Literário Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, que visa despertar talentos literários e artísticos, promover a escrita e a ilustração de literatura infantojuvenil, além de celebrar os 13 anos de existência da Confraria Reinações.

 

2. Estão habilitadas a participar do concurso pessoas residentes no Rio Grande do Sul, com idade acima de 18 anos.

 

Obs.: É vedada a participação de membros da Comissão que organiza o concurso.

 

3. A participação no concurso, por meio do envio de textos, implica a concordância com todas as cláusulas deste regulamento.

 

4. Os textos deverão ser rigorosamente inéditos em veículos impressos.

 

5. O gênero do concurso é o miniconto.

 

5.1. Deverão ser inscritos textos narrativos, com no máximo 500 caracteres.

5.2. O miniconto deve ter como protagonista uma criança ou um(a) adolescente, caracterizando-se, assim, como texto voltado ao público infantil ou juvenil.

5.3. A temática do miniconto é livre.

 

6. Cada participante poderá inscrever-se por meio do envio de texto do gênero miniconto, devendo este ser digitado em espaço 1,5, utilizando fonte Arial 12, em folha A4, com margens de 2 cm.

 

6.1. Cada autor poderá inscrever quantos minicontos desejar, desde que obedeçam ao que rege este regulamento. Caso isso ocorra, cada conto deverá ser digitado e entregue em arquivo anexo.

 

7. É obrigatório o uso de pseudônimo, que deverá ser composto de no mínimo dois nomes e colocado no alto da primeira página de cada um dos textos inscritos. Caso o autor participe do concurso com mais de um texto, poderá enviá-lo anexados ao mesmo e-mail desde que obedeça ao que rege o item 8.

 

8. Acompanhando os textos (a serem enviados em documento word anexado ao e-mail) deverá constar outro documento em word, identificado com o titulo de FICHA DE INSCRIÇÃO, com os seguintes dados:

 

a) Nome do concurso

b) Pseudônimo composto (mais de um nome)

c) Nome completo

d) Endereço completo

e) Celular / Whatshap

f) E-mail

g) Data de nascimento

 

9. O prazo para as inscrições termina, impreterivelmente, em 30 de setembro de 2020. O e-mail com o(s) texto(s) concorrente(s) e a ficha de inscrição devem ser enviados para o e-mail: caioriter@gmail.com A data de inscrição será a do envio, sendo que, se for posterior a do prazo máximo para a inscrição, não será aceita.

 

10. O julgamento dos textos será realizado por uma comissão de três profissionais, de diferentes áreas da literatura, indicada pelos organizadores do concurso.

 

11. Os textos selecionados em número não superior a 10 participarão da Exposição Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, organizada pela Confraria Reinações. A exposição será montada virtualmente e circulará durante o ano de 2021 por diferentes espaços culturais de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, dentro das possibilidades dos organizadores e dos critérios devido aos tempos de pandemia, sem qualquer ônus para os participantes. Como a exposição não terá fins lucrativos, os organizadores exoneram-se do pagamento de direitos autorais ou de qualquer outra forma de remuneração aos autores, além da garantia da presença de seu texto, que será ilustrado, nas diferentes edições da Exposição, que terá sua inauguração em Porto Alegre em data a ser marcada.

 

12. Não poderá figurar na exposição mais do que um texto de cada autor.

 

13. Da premiação:

 

13.1. Serão outorgados certificados a todos os selecionados, e estes terão seus textos expostos e ilustrados na Exposição Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, não havendo qualquer ônus aos escritores selecionados.

 

13.2. Cada autor terá seu miniconto ilustrado bidimensionalmente por alunos do Instituto de Artes da Universidade Federal do RS, sob coordenação da professora e ilustradora Laura Castilhos, e, posteriormente, selecionados para compor, junto com os minicontos, a Exposição Reinações 13 Anos: a palavra e a imagem, comemorativa aos 13 anos de atividades da Reinações: Confraria da Leitura de Literatura Infantojuvenil. Destacamos que, de acordo com os protocolos determinados pelo Governo do Estado em virtude da pandemia, a exposição só será presencial, física, quando possível. Em primeiro momento, será organizada de forma virtual.

 

14. O resultado do concurso será divulgado em novembro de 2020 em evento online da Confraria Reinações.

 

15. Não haverá, em nenhuma hipótese, devolução dos textos concorrentes.

 

15. As decisões da comissão julgadora são irrecorríveis.

 

17. Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos em conjunto pelos organizadores do concurso e pelos jurados.

 

18. Mais informações por meio da Página da Reinações no Facebook e, ainda, pelo  e-mail caioriter@gmail.com

 

Porto Alegre, 14 de setembro de 2020.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A alegria do encontro de Taquarituba

          Estes tempos de isolamento físico não têm provocado isolamento social. Ao contrário. Creio que encontros que teriam muitos motivos para não ocorrerem (tempo, investimento financeiro, entre outros tantos dificultadores) abrem-se como possibilidade. 
        Então.
        No último dia de julho, pude trocar ideias, por quase duas horas, com os meus leitores de Taquarituba, cidade de São Paulo quase na divisa com o Paraná (foi a informação que o pessoal me passou, e fiquei sabendo que por vezes há bastante frio por lá, como havia no dia de nosso encontro). A ponte foi feita pela professora Juliete, que conheci graças a estes atalhos propostos pelas redes virtuais, atalhos que podem provocar muitos problemas, mas que também aproximam . Aí soube da vontade da professora de realizar um sonho: um encontro literário entre quem escreveu e quem leu o livro "O rapaz que não era de Liverpool", Edições SM. Ora, sonho tranquilo de ser realizado e eu, feliz, por saber ser o primeiro escritor a participar de um projeto tão desejado pela Juliete. 


Leitores do Centro Educacional de Taquarituba - Anglo

        Encontros com leitores são sempre, como costumo dizer, bom momento para eu mesmo compreender melhor aquilo que escrevo; eu mesmo perceber o que meus personagens podem provocar nos outros, quando deixam de ser apenas meus; eu mesmo me surpreendendo com os caminhos que um livro pode seguir. Enfim, respondi perguntas (o que é comum); falei sobre minha trajetória (o que também é comum); busquei pensar sobre minhas razões de escrita ao ser convidado a falar (o que também é bastante comum nestes encontros literários), mas, além disso, recebi um poema. 
           E um poema escrito por alguém para nós é sempre presente único. E, quando isso ocorre (algo não tão comum assim), penso que aquela pessoa que usou parte de seu tempo, de sua vida, para me dirigir palavras foi tocada por algo que fiz, por algo que escrevi e que se tornou livro, história, fantasia, verdade. A verdade tem seu tanto de espelho na ficção. Nestes momentos, me pego a pensar que escrever vale a pena, que saber-me lido é mágica das boas.
           Pois a Cassiana, aluna lá de Taquarituba, operou um destes momentos mágicos: não só escreveu um poema para mim, como também o leu e disse motivos para que o livro a tivesse tocado tanto. Foi momento de emoção: minha e dela. 


          Mas não só nossa. 
         Éramos muitos naquele encontro virtual. Éramos vários e, naquele momento, apenas um, estávamos ligados pela sinergia da emoção de uma adolescente que se fazia palavra poética como dádiva de leitura, de leitora, de autora também.
          E foi bom.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Sobre pontes e gigantes


           Quando escrevo, jamais sei que rumos as histórias e poemas que criei irão tomar. Por vezes, nem sei se virarão livros. Sempre, meu primeiro desejo, é de que possam dar conta para outras pessoas da emoção que me proporcionaram no próprio ato da escrita. Escrever (pelo menos para mim) tem disso: uma tanto de emoção; outro tanto de trabalho com as palavras, a fim de que elas possam ser ponte entre mim e o outro.


            Este ano (ano tão atípico, em que o isolamento físico faz com que tenhamos que nos manter atentos, fortes e em casa, verdadeiros gigantes, mesmo sendo pequenos em idade) sou o autor homenageado pela Escola Projeto. E isso foi oásis nestes tempos que ainda nos assopram ventos sombrios.
Poder ser troca, poder ser contato (mesmo que virtual) com meus leitores sempre é motivo de alegria, de brilho no olhar, de descoberta daquilo que meus textos provocaram em quem me leu, em quem mergulhou nos universos criados por mim. Assim, me agiganto, me multiplico, sou um e vários, já que meus mundos literários passam a ser habitados também pela emoção de quem me leu.
            Nos dias em que encontrei meus pequenos leitores - tendo como barreira e, ao mesmo tempo, como portal, nossas telas virtuais -, tudo foi bastante mágico, tudo pôde me trazer um pouco de volta o Caio-menino, o Caio-guri, que se encantava com as brincadeiras que a palavra e a imaginação podiam (e seguem podendo) promover. Ri bastante, me inquietei também na busca de respostas às indagações que me eram feitas. Encontros como os que tivemos (eu e as crianças da Projeto) me mostraram, mais uma vez, que é possível  sonhar com um mundo de novas gentes: gentes que se encantam com as palavras, que amam desvendar os territórios tão sedutores da imaginação. Gentes que, apesar da pouca idade, são gigantes na arte de desvendar a alegria e a energia boa que a arte pode provocar.
            Rimos, brincamos, sonhamos, trocamos ideias e emoções, nos agigantamos, fomos ponte uns para os outros. E isso foi muito bom.
            Tomara que, quando o vírus for vencido, possamos nos abraçar, possamos trocar olhares e palavras sem outro véu que não apenas aquele da fantasia que as palavras literárias sabem tão bem tecer.
            Um grande beijo em cada um dos meus leitores e das minhas leitoras que frequentam este espaço de saber tão bacana que é a Projeto. Sejam sempre gigantes a estender pontes de afetos ao outro.

Texto escrito originalmente para a Escola Projeto. 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Escrita em tempos de pandemia.


           No início do isolamento, este tempo de não tempo me desorganizou bastante e me fez crer que as palavras estavam apartadas de mim. A concentração necessária para dar voz a novos personagens parecia algo raro. No entanto, nas últimas semanas, as palavras permitiram proximidades novamente. Acabei retomando projetos que estavam em latência: finalizei um novo texto infantil, em prosa poética, “Dois pinguins no deserto”, e me envolvi com a revisão de dois textos inéditos, “O sobrevivente”, uma novela para adolescentes, que escrevi de forma manuscrita, já que pediu postura mais visceral no próprio ato de escrever.  Também retomei um projeto de romance, “Maré”, o drama de um pai à procura de um provável filho.
                                                  Fernanda Costa-ZH

Porém, o que mais tem me encantado é a produção de um texto a muitas mãos. Se escrever sozinho é desafiante, criar a partir de diferentes olhares e desejos abre um universo instigante na relação com as palavras, além de, neste tempo de fechamento, promover a abertura ao outro, à subjetividade do outro, aos recursos literários do outro. O ato egoísta da escrita precisa render-se a vontades já não apenas minhas. Assim, o livro que está surgindo, ainda sem título, terá autoria múltipla e tem como mote um evento surreal, que aprisiona algumas pessoas no interior do prédio em que moram. Fazem parte do grupo Seis + 1, além de mim, o Alexandre Brito, o Antônio Schimeneck, o Christian David, a Gláucia de Souza e a Laura Castilhos.

Este texto foi escrito para ZH Virtual. Doze escritores falaram de seu dia a dia de escrita em meio a este tempo de isolamento social. 

domingo, 31 de maio de 2020

Isolados

        Pensei que estes tempos de isolamento pudessem ser muito produtivos. Estar em casa seria momento para dar conta de projetos pensados, projetos em andamento ou até mesmo para revisões em projetos de escrita já prontos.
          Mas não.
         Vivo um tempo não tempo. Um tempo que passa rápido e que me ocupa com coisas que até então não me ocupavam tanto: a preparação de aulas exige mais, bem mais; a oficina literária é agora online, as lives e os encontros em alguma plataforma virtual (e como há) abundam, o whats o tempo todo repleto de mensagens. A vida está exigindo outra organização, outro modo de olhar para ela. 
           E muitos só a veem pela janela.
          A casa, aquela que até então para muitos era apenas passagem ou dormitório, passa agora a ser território que se oferece ao visitante. Tornamo-nos turista de espaço que julgávamos conhecido e vamos descobrindo (ou redescobrindo) nosso próprio canto. Se a vida exigirá de nós outro olhar, nossa casa também se oferece como novidade.
         Como sairemos disso tudo é difícil responder. Uns afirmam que seremos melhores; mais cuidadosos com o outro, capazes de ressignificarmos a vida. Não sei. Na verdade, duvido um pouco. Ou muito. Ao ver tantas pessoas desrespeitando o isolamento, tanta gente sem máscaras nas ruas, uma multidão a não cuidar o afastamento social, me torno Tomé. E aí parece ecoar aquela frase clichê de que a humanidade não deu certo. 
           Não desejaria o pessimismo, mas uma tristeza enorme me toma ao olhar para o Brasil, ao olhar para os rumos que a política tomou ao eleger pessoas desqualificadas não só para a vida social, como para ditar os caminhos para uma Nação. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Palavras 43: Semente


SEMENTE: Grávida de possibilidades, 
em si a origem e o fim. 
Mãe do fruto e filha dele.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Literatura Isolada 1

            Neste tempo não tempo, neste tempo de necessário isolamento social (embora certo presidente, certos ministros neguem o óbvio), inspirados em minhas Definições Poéticas, os participantes da Oficina de Escrita Criativa, que ministro no SintrajufeRS, produziu os cards do Projeto @literaturaisolada. (siga-nos no Instagram)
         A ideia é apresentar definições para palavras que, em nossa percepção, se relacionam com este momento denso e tenso, no qual a Arte tem sido companhia lenitiva. Assim, partilharei aqui os olhares subjetivos dos escritores que participam da oficina e que mergulharam poeticamente na construção de seus verbetes. A concepção visual é de Henrique Luzzardi
Seguem as definições de Rachel Pires e de Thiago Prusokowski.


terça-feira, 12 de maio de 2020

Um texto pensando nas mulheres que sonharam maternidades


Um tempo


Houve um tempo em que você sonhou.
Talvez você não lembre o primeiro momento deste sonho, talvez ele venha de um tempo em que a fantasia ainda era presença em sua vida quase que totalmente.
Talvez você ainda fosse menina, quem sabe uma adolescente meio em dúvida entre ser princesa ou ser guerreira (ou ambas), talvez já mulher madura, quando sentiu latejar em si o desejo de ser mais, o desejo de maternar.
Ser mãe é sonho, antes de ser realização do exercício da maternidade.
Ser mãe é sonho, antes que os olhos se lancem ao encontro daquele que, a partir do primeiro encontro, será para sempre um alguém que entrou em sua vida de forma vital, existencial. E para sempre.
Ser mãe é sonho, mas também é opção, é vontade de ser alguém para o outro. Um outro ainda desconhecido, um outro que aguarda o momento de ser filho, de ser filha, de ser abraço, de ser carinho, de ser alguém sedento por histórias, alguém que vê aquela mulher que se dobra sobre seu berço como parte. E para sempre.
Ser mãe é sonho, mas também é compromisso. Nada mais de noites brancas, mergulhada em preocupações que não as suas. Se criança, a preocupação se ele ou ela dorme bem. Se os filhos já dando os passos da independência, a preocupação se farão as escolhas mais adequadas na busca de serem felizes.
Ser mãe é, pois, tornar-se quebra-cabeça que depende da felicidade do outro pedaço para se sentir completa.
Mãe é um desejo que se torna condição, que se torna compromisso, que se torna festa cada vez que seu filho, que sua filha, conquista o desejo de sonhar também.
Feliz da mãe que consegue ser isto: alguém que se constrói e se reconstrói no sonho de fazer nascer mais sonhos.
E se houve um tempo de sonhar, se houve tempo de criar. Hoje, é tempo de celebrar a mãe que você desejou ser.

terça-feira, 5 de maio de 2020

É difícil crer

É difícil crer que estejamos vivendo em tempos de vírus que nos obriga ao isolamento, a fim de que a vida possa seguir sendo, e um representante eleito conclame que as pessoas saiam às ruas. E que, como ele, saiam desprotegidas, sem máscaras. E que estendam as mãos e que se cumprimentem e que, se tiverem que tossir, que não busquem proteção qualquer.

É difícil crer que, enquanto se dedicam de corpo e alma a atender pessoas contaminadas pelo vírus, pessoas que se debatem entre vida e morte, sejam agredidos, profissionais da saúde sejam atacados em sua integridade, e que neste momento um representante eleito não se solidarize. Ao contrário: instigue mais e mais violência.

É difícil crer que que a doença esteja lá fora, não escolhendo pobres ou ricos (embora estes tenham muitos meios para enfrentá-la de igual para igual), um representante eleito reúna pessoas em torno de si, e as abrace, e destile seu veneno, menosprezando as consequências da pandemia para o país, o qual jurou defender.

É difícil crer que, enquanto a Ciência defenda o isolamento social, um representante eleito menospreze pesquisas científicas, menospreze ações tomadas pela grande maioria dos líderes mundiais, que trate uma pandemia como se ela fosse uma gripe vulgar, boba.

É difícil crer que um representante eleito não só se exponha, mas carregue pela mão uma menina inocente de nove anos, sua filha. 

Espero que as posturas deste representante eleito, eleito possivelmente por pessoas como ele, não sejam vistas como irresponsáveis. Mas que ele, em um tempo de justiça e de decência, seja responsável por tudo o que fez e também pelo que deixou de fazer.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Outras Palavras 30: Charles Beaudelaire

"Quem olha de fora, através de uma janela aberta, não vê jamais tantas coisas quanto quem olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais deslumbrante que uma janela iluminada apor uma vela. O que se pode ver  à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa atrás de uma vidraça."

domingo, 26 de abril de 2020

Em tempos de isolamento, eu sendo parte de/da Projeto

          Estes tempos que exigem isolamento social não têm sido capazes de nos deixar sozinhos. As redes sociais assumiram um papel bastante importante no contato necessário para que a gente não sucumba. Afetos são necessários. E, se não temos a possibilidade do toque, do beijo, do abraço; a possibilidade de sentir o calor do outro, de ouvir a voz do outro límpida de qualquer intermediação, temos meios para trocar ideias com o outro e, por meio das ideias, o carinho. 
          Nunca, creio, houve tantos encontros virtuais, quer para trocas sociais, quer para que a vida siga, se não seu curso natural, pelo menos seu cumprimento de demandas: aulas, reuniões, shows. Lives e mais lives estão inundando nossos dias. Uma overdose de lives, de gente buscando ir ao encontro do outro. Isso é bom, bem bom.
        Pois foi assim que acabei retomando o marcador Palavras, abandonado há muito aqui em meu blog. Vi material elaborado pela Escola Projeto (Porto Alegre-RS), da qual sou o autor homenageado neste ano de 2020. E a homenagem é daquelas boas: durante o ano, comunidade escolar toda está envolvida com meus livros, meus poemas, meus personagens. E, como o vírus afastou alunos das aulas presenciais, mas não impediu que projetos de leitura sigam, encontrei um vídeo da Projeto incentivando os seus alunos (meus leitores) a se inspirarem no marcador Palavras e criarem definições poéticas para palavras que façam parte de seu ambiente de confinamento: suas casas, seus lares. 
       Que palavras afinal estão presentes nas coisas com as quais convivemos em nossa moradia e, na maioria das vezes, nem vemos, nem percebemos? Pergunta boa de nos fazermos: o olhar buscando novidades naquilo que nos parece tão conhecido. E também a novidade de dizer uma palavra por meio de outras: uma definição bastante pessoal, um tanto poética, para aquilo que se parece tão comum, tão prosaico.

         E se alguém quiser ter acesso ao trabalho bacana de leitura que a Projeto tem desenvolvido, segue link para vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=FeruQriMgTk&list=PLHxUYzVUJxIMDDa3IlF5iN8COigm-CpEu

Palavras 42: Quarentena

                                                                                                                                                                   
QUARENTENA: Lá fora, o vírus é condição de isolamento. Aqui, no dentro, sou asas ao encontro de mim e do outro. Nem sempre fronteiras seguram pássaros.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Primeiros passos leitores

          Nestes tempos de isolamento, que eu acreditava que seria extremamente produtivo para leituras e escritas (grande engano), me ocupo, entre outras atividades, a fazer pequenos mergulhos em minha história leitora.
          Eu não tinha livros em minha casa, pelo menos não muitos. Minha mãe costumava contar histórias de medo, quando a noite caía; meu pai costumava ler uns livretos pequenos, que continham aventuras de uma espiã chamada Brigitte Monfort. Eu ficava vendo meu pai mergulhado naquelas páginas e, sei lá o porquê (teria vislumbrado algum brilho diferente em seu olhar tão pouco acolhedor?), um dia resolvi pegar aqueles livros. Lá encontrei aquela mulher de corpo torneado, olhos violeta e cabelos negros, um clichê de mulher, que, aos olhos juvenis, foi enorme atração. Ela era forte, inteligente, uma verdadeira fera quando o assunto era atacar seus inimigos. E eles eram muitos, de todos os gêneros, de todas as nacionalidades. Brigitte passava por perrengues pesados, mas no final, com ou sem a ajuda de seu namorado, o agente Nº 1, saía vitoriosa. Por vezes, um pouco machucada, mas sempre bela e altiva.

        Minha infância literária, meus primeiros passos pelo universo da palavra, não foram com livros. Além das aventuras da "filha de Giselle" (a mãe de Brigitte foi uma espiã assassinada pelos nazistas), eu li também gibis. Trocava-os com meus colegas de infância, sobretudo com o Claudiomar, o que nos garantia acesso a um número maior de gibis do que aqueles que nossa condição econômica poderia adquirir. Gibis usados também eram mais baratos nas bancas de revistas. Vinham meio estropiados, mas as histórias estavam ali: sempre sendo convite. Gostava, lembro, das aventuras do Pena Kid, não curtia o Pato Donald, nem tampouco aquele ranço capitalista do Tio Patinhas. Talvez lá já nascia o Caio pouco afeito a ostentações.
          Todavia, se circulava pelos gibis, não os preferia à Brigitte. Bastava um novo livro dela entrar em casa pelas mãos de meu pai, para que eu deixasse outros afazeres de lado para aguardar expectante que ele concluísse a leitura. Aí, eu sabia, Brigitte seria só minha. Eu e ela mergulharíamos juntos naquele universo tão fascinante e que, hoje, eu acho tão óbvio.
          Por vezes, a obviedade é necessária para que a atração, a sedução, ocorra. Depois de contaminado pelo prazer pelas palavras, bom aí os caminhos estarão abertos para que o leitor escolha as melhores estradas para trilhar. Comigo foi assim. Cada um tem sua trajetória de leitura. São poucos os que começam pelo topo. Talvez, melhor subir pela base, firmando pés, aí o risco de queda ou de abandono da trajetória poderá ser menor.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Quarentena e Arte: breves comentários

       
      Os tempos são de isolamento social. É importante ficar por casa sempre que possível, evitando saídas desnecessárias a fim de que o mal seja menor. Isolar-se, neste momento, significa não participar de aglomerações. Nada de cinema, de teatro, de show, de visitas a museus. A arte será consumida em nossa solidão. Teremos que aprender a conviver conosco mesmos e também com aqueles que vivem com a gente e com os quais, por vezes, esquecemos de interagir. 
     E se a Arte não pode ser consumida presencialmente, muitos artistas têm disponibilizado peças, livros, shows, músicas, de forma virtual e gratuita. Porém, artistas precisam sobreviver, precisam receber por seu trabalho ou ficarão desassistidos, como a cigarra, aquela da célebre fábula, que, em um momento de inverno, em que as formigas se isolaram em sua quarentena. Assim, urge que surjam ações governamentais para que artistas possam se manter ativos nestes momentos de isolamento social, mas não de paralisia artística.

II
         É preciso que nos reorganizemos. O próprio mercado editorial tem feito alguns recuos. No meu caso, por exemplo, estou vivendo algumas diferentes posturas das editoras com as quais trabalho (ou com as quais trabalharia). Algumas recuam, outras aguardam, outras ainda ousam: estas percebem que na crise deve-se ser ousado e não paralisar a vida e a arte. 
             Uma das editoras com as quais trabalho, por exemplo, adiou a impressão de um novo livro que estava prestes a sair. Ficará aguardando tempos melhores, porém sua edição segue adiante. Outra editora me solicitou um original: reeditará meu "Um menino qualquer", que já teve duas edições, a primeira pela WSEditor, a segunda pela Planeta, sendo brinde do MacLanche Feliz. Bom, quando um texto se mostra sempre novo, terá possibilidade de agradar a novos leitores. Outro evento, porém, foi o cancelamento de uma publicação. Editora nova com a qual eu iria lançar um texto desistiu da publicação. Entristeço, claro, todavia entendo. Há tempo para novas parcerias, há tempo para recuos. 

III
            E eu escrevo. Que mais posso? Por vezes surge um poema desgarrado. No mais, digito meu novo original juvenil, que tem como título "O sobrevivente" (confesso que sempre quis um livro com um título assim, simples, curto, apenas um artigo e um substantivo). Digo digitar, pois o fiz todo de forma manuscrita, recuperei um tempo de juventude em que meu material de escrita era papel e caneta. Foi bom, a atmosfera e a estrutura me exigiram a escrita mais automática, mais desenhada, fluida.


segunda-feira, 23 de março de 2020

Tempos de reclusão

          Ando por casa; aulas presenciais interrompidas, encontro com os alunos ocorrendo por ambientes virtuais. Tudo segue dentro das possibilidades que a tecnologia hoje oferece. Creio que não é a mesma coisa que a discussão olho no olho que a sala de aula propõe. Sempre, acho, o contato físico superará a tecnologia. Ela é útil, por vezes, como agora, necessária, a fim de que tudo não paralise de vez. Assim, preparo e dou aulas, leio, aproveito também para escrever. Na verdade, digito meu novo original, que tem como título provisório "O sobrevivente" (muito a ver, aliás, com estes tempos vividos) e que foi escrito todo de forma manuscrita. Achei necessário usar este recurso da escrita manual em virtude da estrutura que escolhi para contar a história do Francisco.
          Mas quero falar de um tempo outro: um tempo de infância ou de adolescer, não lembro bem. Tempo, todavia, de reclusão, como este agora. Eu era guri e um surto de caxumba atacou a alegria de se ser pessoa com poucos compromissos. Amigos iam, um a um, contraindo a doença, que exigia que se ficasse de resguardo, diziam que se não nos cuidássemos, ela poderia "recolher" e a gente se tornaria estéril. Ter filhos ou não, naquela época, não era desejo. Todavia, a forma como os adultos falavam com a gente concedia um tom de maldição:  "Se não se cuidar, ficará estéril". E eu perguntava, meio medroso: "O que é ficar estéril?". E aí, num tom de voz penumbroso, vinha a resposta: "Nunca poderá ter filhos como todas as outras pessoas". Ora, é claro que, quando se é criança ou adolescente, o que mais se deseja é ser como os outros. A diferença parece ter um dado de rejeição, de marca de Caim.
          Pois foi, então, que a caxumba resolveu atacar meu irmão. Minha mãe exigiu a reclusão dele, queria proteger o filho. Todavia, como ele reclamava da solidão, coube a mim a tarefa de ficar com ele em casa. Eu, saudável; e a rua lá fora, que me esperava com sua possibilidade de alegria, de fantasia, de imaginação. Fui um garoto lotado de criatividade: inventava brincadeiras, jogos; criava personagens, histórias. Qualquer pedaço de graveto poderia virar um monstro; qualquer flor, uma princesa necessitada de proteção. Meu irmão era mais realista, curtia jogar bola, cartas, coisas que não exigiam uma mente tão fantasiosa. Assim, fiquei eu preso com ele, eu que de caxumba nada sabia. 
         Então, meu irmão ficou curado, a rua o acolheu com os braços abertos. E eu? Eu fiquei com a caxumba dentro de casa. Depois que ela o abandonou, não é que a danada resolveu fazer morada em mim? Novamente, a rua não era minha. Agora por uma interdição maior ainda. Eu não era o acompanhante do irmão adoentado; eu era a própria doença. E meu irmão? Ficou solto na rua a empinar pipas, a correr atrás da bola. Eu vendo tudo por detrás da vidraça, como agora, mas com a mente livre, repleta de fantasia e de imaginação, não carecia de companhia. Eu tinha toda e qualquer presença que desejasse.. Atrás daquela janela, era João preso na casa da bruxa, era Rapunzel em sua torre, era o que eu queria ser.
         Nestes tempos de vidraças e de portas fechadas, neste tempo de pouca rua, façamos isto: um mergulho em nós mesmo por meio da imaginação e da fantasia. Livros, séries, filmes ajudam a fortalecer nossa mente. Escrever também.

domingo, 22 de março de 2020

Aviso de suspensão Concurso

Vivemos um momento de reclusão para evitar danos maiores com o contágio pelo Corona vírus. Assim, comunico que o Concurso de minicontos Reinações 13 anos ficará suspenso até que a crise passe. Assim que tudo voltar à normalidade, a coordenação do concurso comunicará novas datas.
Agora é cuidar-se, evitando saídas e contatos não essenciais.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Concurso de Minicontos Reinações 13 anos: a palavra e a imagem


REGULAMENTO
CONCURSO LITERÁRIO REINAÇÕES 13 ANOS: A PALAVRA E A IMAGEM


1.  A Reinações: Confraria da Leitura de Literatura Infantojuvenil promove o Concurso Literário Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, que visa despertar talentos literários e artísticos, promover a escrita e a ilustração de literatura infantojuvenil, além de celebrar os 13 anos de existência da Confraria Reinações.

2. Estão habilitadas a participar do concurso pessoas residentes no Rio Grande do Sul, com idade acima de 18 anos.

Obs.: É vedada a participação de membros da Comissão que organiza o concurso.

3. A participação no concurso, por meio do envio de textos, implica a concordância com todas as cláusulas deste regulamento.

4. Os textos deverão ser rigorosamente inéditos em veículos impressos.

5. O gênero do concurso é o miniconto.

5.1. Deverão ser inscritos textos narrativos, com no máximo 500 caracteres.
5.2. O miniconto deve ter como protagonista uma criança ou um(a) adolescente, caracterizando-se, assim, como texto voltado ao público infantil ou juvenil.
5.3. A temática do miniconto é livre.

6. Cada participante poderá inscrever-se por meio da entrega de texto do gênero miniconto, devendo este ser digitado em espaço 1,5, utilizando fonte Arial 12, em folha A4, com margens de 2 cm.

6.1. Cada autor poderá inscrever quantos minicontos desejar, desde que obedeçam ao que rege este regulamento. Caso isso ocorra, cada conto deverá ser digitado e entregue em folha separada.

7. É obrigatório o uso de pseudônimo, que deverá ser composto de no mínimo dois nomes e colocado no alto da primeira página de cada um dos textos inscritos. Caso o autor participe do concurso com mais de um texto, poderá entregá-los no mesmo envelope, desde que obedeça ao que rege o item 8.

8. Acompanhando os textos (a serem entregues impressos em papel A4 ou ofício, em três cópias, em um envelope devidamente identificado com o pseudônimo) deverá constar, em um envelope menor, lacrado, identificado com o pseudônimo, uma folha com os seguintes dados:

a) Nome do concurso
b) Pseudônimo composto (mais de um nome)
c) Nome completo
d) Endereço completo
e) Celular / Whatshap
f) E-mail
g) Data de nascimento

9. O prazo para as inscrições termina, impreterivelmente, em 31 de março de 2020. Os envelopes com os textos concorrentes devem ser enviados pelo Correio, para a Confraria Reinações (Rua Oscar Tollens, 62 – Santa Teresa – Porto Alegre-RS – CEP: 90850-520). A data de inscrição será a da postagem, que, se for posterior a do prazo máximo para a inscrição, não será aceita.

10. O julgamento dos textos será realizado por uma comissão de três profissionais, de diferentes áreas da literatura, indicada pelos organizadores do concurso.

11. Os textos selecionados em número não superior a 10 participarão da Exposição Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, organizada pela Confraria Reinações. A exposição circulará durante o ano de 2020/2021 por diferentes espaços culturais de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, dentro das possibilidades dos organizadores, sem qualquer ônus para os participantes. Como a exposição não terá fins lucrativos, os organizadores exoneram-se do pagamento de direitos autorais ou de qualquer outra forma de remuneração aos autores, além da garantia da presença de seu texto, que será ilustrado, nas diferentes edições da Exposição, que terá sua inauguração em Porto Alegre em data a ser marcada.

12. Não poderá figurar na exposição mais do que um texto de cada autor.

13. Da premiação:

13.1. Serão outorgados certificados a todos os selecionados, e estes terão seus textos expostos e ilustrados na Exposição Reinações 13 anos: a palavra e a imagem, não havendo qualquer ônus aos escritores selecionados.

13.2. Cada autor terá seu miniconto ilustrado bidimensionalmente por alunos do Instituto de Artes da Universidade Federal do RS, sob coordenação da professora e ilustradora Laura Castilhos, e, posteriormente, selecionados para compor, junto com os minicontos, a Exposição Reinações 13 Anos: a palavra e a imagem, comemorativa aos 13 anos de atividades da Reinações: Confraria da Leitura de Literatura Infantojuvenil.

14. O resultado do concurso será divulgado em abril de 2020 em evento da Confraria Reinações.

15. Não haverá, em nenhuma hipótese, devolução dos textos concorrentes.

15. As decisões da comissão julgadora são irrecorríveis.

17. Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos em conjunto pelos organizadores do concurso e pelos jurados.

18. Mais informações por meio da Página da Reinações no Facebook e, ainda, pelo  e-mail caioriter@gmail.com

Porto Alegre, 26 de fevereiro de 2020.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Azuis desmaiados

       Meu pai tinha olhos azuis e eu os herdei. Somos sete filhos e, dos sete, apenas dois têm olhos azuis. Eu sou um deles. Todavia, os meus azuis não trazem em si o brilho e a cor presente nos olhos de meu pai. Tenho olhos azuis desmaiados. Eles só são perceptíveis caso eu esteja com roupa azul ou preta. Aí o azul realça e as pessoas me olham e dizem: "Nossa, você tem olhos azuis".
         "Desde que nasci", costumo responder.
Lembro que quando guri isso era motivo de decepção. Ficava me perguntando de que adianta ter algo que o senso comum julga ser bonito se ninguém (ou poucos) nota? Tem-se um tesouro e não se pode aproveitá-lo.
          Durante muito tempo fui assim: alguém que acreditava não ser possuidor de beleza qualquer, apesar de algumas pessoas costumarem elogiar minha inteligência, minha liderança, minha escrita, minha criatividade, meus cabelos crespos e, de vez em quando, meus olhos azuis desmaiados.
          Vivia quando adolescente, uma realidade que sempre julguei pouco afável a mim. Hoje creio que era algum probleminha de autoestima, não sei. Na verdade, na maioria das vezes, eu não gostava daquele cara que me olhava do espelho. Poxa, ele podia ter cabelos lisos, podia ter menos espinhas naquele rosto tão claro, podia ao ir ao sol ficar bronzeado e não avermelhado, podia não ficar vermelho (o rosto pegando fogo) ao sentir vergonha, podia ter olhos azuis bem azuis. E eu ficava querendo tanto poder que, por vezes, era incapaz de perceber o que tinha, o que era.
          A vida na adolescência tem um tanto de abismo entre o ser e o querer ser. Um dia, esta distância abissal diminui. 
É certo, diminui.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Nasce uma coleção

          Em 2012, publiquei um de meus livros para a infância que mais sucesso fez no coração da gurizada. Mas não só, na verdade. Foi livro que trouxe outras alegrias: recebeu algumas distinções literárias e premiações importantes como Troféu Ofélia Fontes (FNLIJ), Prêmio Revista Crescer, White Ravens, sendo finalista do Jabuti e participando de algumas seleções, tais como o PNBE. Além disso, tornou-se o meu livro mais traduzido. Hoje, "Sete patinhos na lagoa" está disponível para crianças em quatro diferentes idiomas: francês, japonês, espanhol e coreano.


             Aí, um dia, conversando com a Eny Maia, editora da Biruta, que publicou este meu livro, ela me perguntou se eu não tinha algum outro original semelhante. Respondi mais ou menos assim: "Ter não tenho, mas posso escrever". E motivado por esta conversa, escrevi "Três porquinhos na floresta". Depois, imaginando como seria se uma girafa se tornasse astronauta, escrevi "Cinco girafas no espaço". E fomos nos dando conta de que havia surgido uma coleção. 





             E este ano nasce o quarto membro do grupo: "Quatro galinhas em alto-mar". Sempre achei galinhas bichos por demais bonitos. Elas têm um certo ar aristocrata em seu andar bípede. São bonitas, cantam, circulam como se estivessem acima do bem e do mal. Assim, fiquei pensando o que ocorreria se quatro galinhas-irmãs fossem convidadas para irem a uma festa de aniversário em alto-mar. Todos sabemos que este tipo de ave não nada. Ou será que na imaginação pode nadar? 




terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Sobre artesania e inspiração

      Sempre me entendi como um escritor-artesão. 
     O filósofo Dufrenne distingue o processo de escrita em duas possibilidades, tendo por base a concepção do escritor sobre o seu próprio ato de escrever. Ele fala em poeta-artesão e poeta-inspirado. 
     O inspirado é aquele que acredita que a escrita se dá no próprio ato de escrever, ou seja, para tal escritor, não há a necessidade de planejamento; os personagens e a trama vão se construindo conforme as ideias vão se apresentando. Assim, quando o escritor escreve, ele não está preocupado com nada além da própria ação do escrever. Meu professor (e depois meu amigo e colega na FAPA) Lauri Maciel, contista e romancista, quando conversávamos sobre o processo de produção literária, sempre me dizia que, ao iniciar um texto, tinha uma ideia muito vaga (às vezes nenhuma ideia) sobre a história que iria escrever. Era, pois, um escritor inspirado. Já ouvi (e muitas vezes duvidei deles) escritores dizendo que seus personagens ganham vida à revelia do destino que foi traçado para eles. "Meus personagens, por vezes, me surpreendem", afirmam alguns escritores. Eu, confesso, sempre achei muito estranha tal postura. Me perguntava: Como pode um personagem decidir seus caminhos, se ele é uma criação do autor? O autor deve ser o domador, deve conduzir seu personagem para aquele fim que lhe é destinado. Afinal, sempre me entendi como um escritor-artesão.
       O artesão é aquele, na tradição de um Flaubert, que busca planejar sua escrita. A ideia vem (não curto a palavra inspiração) e o escritor irá testar as possibilidades daquele conflito, organizando-o racionalmente, definindo personagens, peripécias, desfecho. Aí, sim, após tudo previamente acertado, iniciará a escrita, conduzindo seus personagens ao destino que lhes foi traçado pela razão do escritor, a fim de provocar no leitor o efeito que determinou, na concepção do texto, que o leitor experimentaria. Eu me filio (ou filiava) a tal vertente. Fiz oficina literária com o Luiz Antonio de Assis Brasil e sempre admirei sua capacidade de pesquisa exploratória de um tema e de um personagem, preocupando-se não apenas com "o que contar", mas sobretudo com "o como contar".
      Minha escrita sempre buscou isso: ter um tanto de racionalidade nas escolhas, elaborar um planejamento, um "esqueleto", como costumo dizer, que será enchido de carnes no processo da escrita. Carnes necessárias para que o esqueleto, aquele previamente pensado, adquira sua forma definitiva. E aí a escrita e a reescrita (quantas vezes forem necessárias) se farão presentes.
      Mas, como disse no início destas breves reflexões, sempre me entendi como um escritor-artesão. Sempre. Até o momento em que li o livro do Stephen King, "Sobre a escrita". Nele o escritor fala que parte de uma situação e o restante se faz no próprio ato de se fazer. Sem planejamento, sem outras intenções que não apenas contar uma história. Achei bastante desafiador, bastante questionável, sobretudo ao ler alguns títulos do autor, tais como "Carrie, a estranha" e "Misery". Não consigo ver neles tramas nascidas ao acaso, sem o burilamento necessário para que o texto feche e provoque em mim o que eles provocaram.
       O fato é que, no dia 1º de janeiro, enveredei, motivado pela leitura de "Palácio da Lua", de Paul Auster, que me sugeriu um personagem, a escrever um livro juvenil sem qualquer planejamento. Pouco sabia eu do Francisco, apenas seu drama principal, seu conflito maior. Pois comecei a escrever, de forma manuscrita (estava na praia e quando viajo não levo note: acho pesado, dependente de tomadas e etc), sem saber ao certo quem era meu protagonista e o que ele revelaria a mim durante o ato da escrita. O texto agora se aproxima do fim. E é meu primeiro romance totalmente escrito de forma manuscrita. Páginas e páginas, papel e caneta, eu dando voz ao Francisco, ao mesmo tempo que vou conhecendo-o, entendendo-o, percebendo suas dores e seu modo de enfrentá-las. Experiência diferente, ímpar, inusitada. Não sei se melhor ou pior do que o modo como sempre me debrucei sobre meus textos anteriores. Não sei. Só sei que o Francisco está presente, não sai de mim. Não sai, não sai, não sai.
       E tem sido bom.



Prêmios e distinções


A formação do leitor literário em casa e na escola – Editora Biruta
Catálogo de Bolonha - 2010
Finalista Prêmio AGEs-Livro do Ano – 2010

Meu pai não mora mais aqui – Editora Biruta
Selecionado para o PNBE - Governo Federal - 2008
Selo Altamente Recomendável-FNLIJ - 2009
Catálogo de Bolonha-Itália - 2009
Indicado ao Prêmio Jabuti - 2009
Finalista do Prêmio Açorianos - 2009
Finalista do Prêmio AGES - Livro do Ano – 2009
Selecionado para o Programa de Modernização de Bibliotecas – Fortaleza-CE – 2012

O rapaz que não era de Liverpool - Edições SM
Selecionado para o Programa de Modernização de Bibliotecas – Fortaleza-CE - 2012
Prêmio Orígenes Lessa - FNLIJ - 2007
Altamente recomendável - FNLIJ - 2007
White Ravens - Alemanha - 2007
Catálogo de Bolonha - Itália - FNLIJ – 2007
Finalista do Prêmio AGES-Livro do Ano-2007
Prêmio Açorianos de Literatura - 2006
1º Prêmio Barco a Vapor - Edições SM – 2005

Eduarda na barriga do dragão - Artes e Ofícios
Catálogo de Bolonha-FNLIJ - Itália – 2007

Coleção Historinhas Bem... - Escala Educacional
Prêmio Açorianos - PMPA – 2009

Teiniaguá, a princesa moura encantada - Scipione
Catálogo de Bolonha-FNLIJ - Itália - 2007
Selecionado para o PNBE – Governo Federal – 2008

Debaixo de mau tempo - Artes e Ofícios
Acervo básico - FNLIJ - 2006
Prêmio AGES Livro do Ano – 2006

Atrás da porta azul - Artes e Ofícios
Prêmio AGES Livro do Ano – 2005
Programa Minha Biblioteca SP - 2019


A cor das coisas findas - Artes e Ofícios
Cantinho da leitura, Governo de Goiás - 2005
Finalista do Prêmio Livro do Ano - AGES – 2004
Prêmio Açorianos de Literatura - 2004
Selecionado para o Kit-Escolar – BH – 2011

A dobra do mundo - WS Editor
Finalista do Prêmio Açorianos de Literatura – 2004

O menino do Portinari – Escala Educacional
Selecionado para Kit Escolar - Prefeitura de Belo Horizonte-MG – 2008

Viagens ao redor de Felipe - Editora Projeto
Finalista do Prêmio João-de-barro - Belo Horizonte-MG - 2008
Selecionado para o PNBE – Governo Federal – 2011

O outro passo da dança – Artes e Ofícios
Finalista Prêmio AGEs – Livro do Ano – 2010
Bolsa de Tradução – Biblioteca Nacional – 2010
Selecionado para o Kit-Escolar Contagem-MG – 2010
Selecionado para o PNBE - Governo Federal - 2012
Selecionado para o Programa de Modernização de Bibliotecas – Fortaleza-CE – 2012
Leitura Obrigatória para Ingresso na Fundação Liberato Salzano - 2019

As luas de Vindor – Editora Biruta
Finalista do Prêmio AGEs-Livro do Ano – 2011
Catálogo de Bolonha – FNLIJ - Itália – 2011

Pedro Noite – Editora Biruta
Selecionado para o Programa de Modernização de Bibliotecas – Fortaleza-CE - 2012
Catálogo de Bolonha – FNLIJ - Itália – 2011
Prêmio Os 30 Melhores Livros Infantis – Revista Crescer – 2012
Selecionado para o PNBE – Governo Federal - 2013

Um na estrada – Melhoramentos
Finalista do Prêmio Brasília de Literatura – Bienal do Livro - 2012
Selecionado para o PNBE- Governo Federal – 2012

A filha das sombras - Edelbra
Finalista do Prêmio Jabuti - 2012
Selecionado para o PNBE - Governo Federal – 2012

Eu e o silêncio de meu pai – Editora Biruta
Finalista do Prêmio Açorianos – 2012
Selecionado para o PNBE - Governo Federal – 2012
Leitura Obrigatória – IFMG - 2017

Sete patinhos na lagoa - Editora Biruta
Prêmio Ofélia Fontes - O Melhor para Crianças - FNLIJ - 2014
Prêmio Os 30 melhores Livros Infantis - Revista Crescer - 2013
Selecionado para o Projeto Biblioteca Itaú-Crianças – 2013
Selecionado para o PNBE – Governo Federal – 2013
Catálogo de Bolonha – FNLIJ – 2014
Selecionado para o KIT BH - 2014
Selo Altamente Recomendável – Livro para crianças – FNLIJ – 2014.
Catálogo White Ravens - Alemanha - 2015

Vento sobre terra vermelha - 8Inverso
Finalista do Prêmio Jabuti – 2013

Vicente em palavras - Editora Lê
Finalista do Prêmio Jabuti – 2013

Bia e Nando – Editora Compor
Catálogo de Bolonha – FNLIJ - 2014

Historinhas bem Apaixonadas - Editora Escala Educacional
Selecionado Programa Livros na Escola - 2013 - Governo de Minas Gerais

Tantos Barulhos - Edelbra Editora
Selecionado pelo PNAIC-Governo Federal- 2014
Selecionado pelo Itaú Cultural, projeto bibliotecas – 2015
Programa Minha Biblioteca SP - 2019


Apenas Tiago - Editora Positivo
Catálogo de Bolonha - FNLIJ 2015
Selo Altamente Recomendável para Jovens - FNLIJ 2015

Duas vezes na floresta escura - Editora Biruta
Catálogo de Bolonha - FNLIJ 2015

Futurações - Editora Projeto
Catálogo de Bolonha - FNLIJ 2015
Acervo Básico da FNLIJ -  2015
Programa Minha Biblioteca SP - 2019
PNLD Literário - 2020

Cecília que amava Fernando – Editora da Cidade (1ªed.) Edelbra (2ªed)
Prêmio Açorianos de Criação Literária – 2015
Prêmio Ages Livro do Ano – Juvenil – 2017
Prêmio Ages Livro do Ano – O mais votado – 2017
Finalista do Prêmio Jabuti – 2017
Programa Minha Biblioteca SP - 2019

Três Porquinhos na Floresta – Editora Biruta
Catálogo de Bolonha – 2017

Cinco enigmas, um tesouro – Editora Brinquebook
Catálogo de Bolonha – 2017
Acervo Básico FNLIJ – 2018

Antes do alvorecer – Editora do Brasil
Selo Seleção Cátedra UNESCO (PUCRJ) – 2018

Cinco girafas no espaço – Editora Biruta
Selecionado PNLP - 2018

Problema que bicho tem – Editora Edelbra
Programa Minha Biblioteca SP - 2019
Finalista Prêmio AGES: Livro do ano – 2019
Finalista Prêmio Açorianos - 2020

Uma casa para dez – Editora do Brasil
Programa Minha Biblioteca SP - 2019
Selo Seleção Cátedra UNESCO (PUCRJ) – 2019
Prêmio AGES - Livro do Ano - infantil - 2019

Três dias e mais alguns
Finalista Prêmio Biblioteca Nacional - 2020
Finalista Prêmio Jabuti - 2020

Um Reino todo quadrado - Editora Paulinas
Selecionado para o Programa de Leitura de Recife - 2020