segunda-feira, 6 de abril de 2020

Quarentena e Arte: breves comentários

       
      Os tempos são de isolamento social. É importante ficar por casa sempre que possível, evitando saídas desnecessárias a fim de que o mal seja menor. Isolar-se, neste momento, significa não participar de aglomerações. Nada de cinema, de teatro, de show, de visitas a museus. A arte será consumida em nossa solidão. Teremos que aprender a conviver conosco mesmos e também com aqueles que vivem com a gente e com os quais, por vezes, esquecemos de interagir. 
     E se a Arte não pode ser consumida presencialmente, muitos artistas têm disponibilizado peças, livros, shows, músicas, de forma virtual e gratuita. Porém, artistas precisam sobreviver, precisam receber por seu trabalho ou ficarão desassistidos, como a cigarra, aquela da célebre fábula, que, em um momento de inverno, em que as formigas se isolaram em sua quarentena. Assim, urge que surjam ações governamentais para que artistas possam se manter ativos nestes momentos de isolamento social, mas não de paralisia artística.

II
         É preciso que nos reorganizemos. O próprio mercado editorial tem feito alguns recuos. No meu caso, por exemplo, estou vivendo algumas diferentes posturas das editoras com as quais trabalho (ou com as quais trabalharia). Algumas recuam, outras aguardam, outras ainda ousam: estas percebem que na crise deve-se ser ousado e não paralisar a vida e a arte. 
             Uma das editoras com as quais trabalho, por exemplo, adiou a impressão de um novo livro que estava prestes a sair. Ficará aguardando tempos melhores, porém sua edição segue adiante. Outra editora me solicitou um original: reeditará meu "Um menino qualquer", que já teve duas edições, a primeira pela WSEditor, a segunda pela Planeta, sendo brinde do MacLanche Feliz. Bom, quando um texto se mostra sempre novo, terá possibilidade de agradar a novos leitores. Outro evento, porém, foi o cancelamento de uma publicação. Editora nova com a qual eu iria lançar um texto desistiu da publicação. Entristeço, claro, todavia entendo. Há tempo para novas parcerias, há tempo para recuos. 

III
            E eu escrevo. Que mais posso? Por vezes surge um poema desgarrado. No mais, digito meu novo original juvenil, que tem como título "O sobrevivente" (confesso que sempre quis um livro com um título assim, simples, curto, apenas um artigo e um substantivo). Digo digitar, pois o fiz todo de forma manuscrita, recuperei um tempo de juventude em que meu material de escrita era papel e caneta. Foi bom, a atmosfera e a estrutura me exigiram a escrita mais automática, mais desenhada, fluida.


Um comentário:

Maura Coradin Pandolfo disse...

"É preciso que nos reorganizemos". Neste momento da tua reflexão, fica claro que cada um tem uma visão distinta para lidar com o momento atual: muitos enfatizam a economia, esquecem a saúde; outros dizem que cultura não enche barriga; outros afirmam que morrerão; há, ainda, quem ache que tudo não passa de uma grande bobagem. Mas há quem retira o "s" da crise e cria: meios de se reinventar para dar aula, para ler, para exercer sua profissão dentro das suas casas, para, inclusive, dar uma chance à convivência, à paciência e a tudo o que mundo parece nos pedir. Obrigada, Caio, por alimentar nossos corações com tua literatura, tão importante neste momento, embora muitos afirmem o contrário.