sábado, 31 de agosto de 2013

Duas São Francisco

Em minhas andanças por Minas Gerais, colhi um tanto de imagens de igrejas. Duas, entre tantas, me encantaram: por homenagearem um mesmo santo; por serem muito distintas em suas concepções. Em Ouro Preto, a Igreja de São Francisco é imponente, majestosa, apesar de ter sido construída já na época da decadência da mineração; em Belo Horizonte, às margens da Pampulha, a Igreja de São Francisco, projetada por Oscar Neimeyer, traz pinturas de Portinari, é linda em sua simplicidade. Nas duas, a aura sacra, o desejo de encontro se faz presença.



terça-feira, 27 de agosto de 2013

Palavras 38


AMIZADE - Há amigos que surgem no de repente e se tornam presença, pensar de que sempre foi assim. Todavia, afeto intenso some feito vento que não sabe se reter. E o pouco é que fica, o nada de um tanto que foi tudo.

domingo, 25 de agosto de 2013

Palavras 38






AMIZADE -  Há amigos sazonais: vêm, tornam-se presença viva, necessária, e se vão. Alguns para nunca mais. Já outros viram permanência, ficam, incorporam-se. Há ainda os que não são presença física, mas sempre lembrança boa: os contatos fortuitos - quando ocorrem - trazem de volta o vivido, como se nada de afastamento houvesse ocorrido. Hiatos, às vezes, de anos se transformam em um "nos vimos ontem".

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Homenagens vividas

Sou patronável.
Para quem não conhece o neologismo, já tão arraigado na cultura porto-alegrense, vai aqui breve explicação: patronável é o candidato a patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. São dez os patronáveis. Dentre eles, a comunidade do livro escolherá o novo patrono.
É bom ser patronável.
Aliás, é boa toda a homenagem. 
Sobretudo, quando ela vem enquanto o homenageado pode usufruí-la. Quando ele pode perceber o tanto de carinho que sua obra suscita, quando ele pode se ver presente no próprio ato da celebração. Ah, estas sim as homenagens valiosas.
Sou patronável. 
Colho este ano um pouco do carinho dos amigos a tecerem votos de sorte. E vejo na indicação um respeito da setor livreiro por mim e pela minha obra. E fico a acreditar que, de fato, sou escritor. Que meus livros e personagens habitam o coração de meus leitores. Que, de alguma forma (que pode ser pífia, não sei, não consigo precisar) faço diferença. E isso é bom. Essa a maior homenagem, sempre. Sentir-se parte do sonho que sempre se buscou construir.
Homenagens como esta, ou como as que tenho recebido como patrono de várias cidades do interior (a mais recente foi em Lindolfo Collor), ou como o apadrinhamento de bibliotecas (há duas com meu nome, na escola Dom Bosco, em Morro Reuter, e na Vinicius de Moraes, em Porto Alegre. Homenagens vividas, estas as que valem.
Detesto homenagens póstumas. Para que servem, afinal? Memória, lembrança, tentativa de imortalidade? Prefiro sentir viva no peito a emoção de ser presença. O resto, como já disse Shakespeare, é silêncio.

sábado, 10 de agosto de 2013

Crônica

Pai, entre o ter e o ser.

Eu tive um pai, disse-me a mulher que amo, e suas palavras foram eco no dentro de mim. Eu também já tive um pai. E o tempo pretérito que se agarrou à frase foi incômodo, não por ser pronunciada em tempos de proximidade destas datas instituídas pelo comércio, mas que, paradoxalmente, cumprem o papel de trazer à lembrança aqueles que aqui estão e que tiveram parte em nosso existir. Incômodo maior pelo fato de instituir fins. Todavia um fim sempre presença: lembrança maior daqueles que se foram, daqueles que não são mais presença física, não são mais toque de telefone para saber como os rebentos estão, não são mais silêncio à meia-luz, não são mais brilho nos olhos com o sucesso dos filhos, não são mais.
Você tem um pai, eu respondi, talvez querendo convencer a mim mesmo da certeza desta pertença. Ele apenas não está mais aqui. Mas é. É no que deixou de exemplo; é no que permite de lembrança positiva, sincera, afetuosa; é no que foi de parceiro, sem jamais esquecer que ser pai implica não apenas concordâncias, mas, sobretudo, apontamento de caminhos, interdições, limites; coisas muitas vezes não compreendidas no momento próprio do ocorrido.
Meu pai se foi, assim como da Laine, como o de tantas pessoas, um dia ele se foi. Contudo, sua partida deixou presença. Foi-se sem ir-se.
E o pai que se foi é dor maior em mim, maior que a ausência materna. E isso passei a entender após me tornar pai. A sintonia se estabelece. Eu mesmo querendo ser aquele que desejaria ter tido e que só hoje, apartado na ausência e na distância, entendo. Entendimento de que cada um é apenas, e somente, aquilo que pode ser, aquilo que consegue ser. Tive, hoje sei, o pai que meu pai conseguia ser, dentro de suas limitações, de seus impedimentos, de suas querências. Um pai que ainda ressoa em mim. Um pai que me dita caminhos possíveis de ser pai, quer pelo que foi (é) para mim, quer pelo que deixou de ser.

Eu sou pai, digo para mim mesmo, e este dizer me invade de uma alegria tão plena, tão completa, que passo a entender o que um dia devo ter sido pro meu pai. Eu sou pai, repito, e esta certeza me impele, sempre, a me sentir responsável por duas vidas, a me sentir amado por duas vidas nascidas de parte de mim. E isto é bom. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Ecos de meu primeiro livro

Hoje, recebi e-mail de uma professora que anda à cata de meu primeiro livro publicado: "O palito diferente". Livro já em extinção, eu mesmo só fiquei com um exemplar. Ele não foi editado novamente e, embora de tempos em tempos o procure na rede, nada encontro. Bacana isso de um livro construir fascínios nos leitores. Para quem o curte, fiz uma nova versão, publicada pela Paulinas com o título de "Um reino todo quadrado". Basicamente a mesma história, apenas o final é díspar e os elementos simbólicos também. Mas, mesmo assim, leitores querem "O Palito". Coisa estranha, e mágica, coisa sem resposta, só mesmo o encanto que alguns textos causam na gente e que a gente não consegue explicar. Ou consegue. Sei lá.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A paciência me falta

Confesso. 
Confesso que ando sem paciência. Ela se faz de rogada e, por vezes, jura que me abandonará. Eu até que a entendo. Difícil tê-la diante do tanto que se vê, que se ouve, que se lê. Me impressionam pessoas que não têm olhos de ver. Me assustam pessoas que são incapazes de espiar por sobre o muro e perceber que há um outro mundo sendo gestado: ficam imóveis, meros ventríloquos a repetirem o que aqueles que acreditam apenas que o poder deve ser delas, que defendem o próprio umbigo, que propagam seus interesse como se verdade fosse. Mas não é. É apenas a verdade que eles apregoam como verdadeira. Há outra, uma mais consistente, uma que encontra eco nos olhares daqueles que sempre foram violentados pelo poder. Agora, o protagonismo se agiganta. E isso apavora os que sempre mandaram a partir da sua lógica exclusivista, sectária.
Que estes criem inverdades, até entendo. Porém, minha paciência se esgota, quando percebo que os mais explorados, os sempre explorados, aceitem ser marionetes nas mãos de quem sempre os humilhou em seus direitos. E gritem contra si mesmos, e lutem a favor de quem os oprime.
Confesso.
Confesso que fico pasmo, fico enojado. Sofro.
E hoje quero permitir que a paciência se aparte de mim.