domingo, 28 de abril de 2013

Encontro com o Pedro

Hoje, saindo do cinema com Laine, após curtir Django Livre e a atmosfera tarantina, cruzo por uma mulher e uma criança e escuto quando ela diz: Olha, Pedro, é o Caio Riter.
Parei, voltei-me a eles. A mãe nos apresentou, disse que o Pedro é fã dos meus livros e queria muito me conhecer. Olhos de brilho, sorriso na face, nós dois no encanto do encontro já ocorrido no tanto de palavras partilhadas sem que nunca tivéssemos nos visto. Daí esse milagre que a literatura propõe: a gente tão longe, tão desconhecidos e, no trocar de palavras literárias, tão cumplicemente próximos.
Esta, talvez, a mágica.
Lembrei, depois, voltando para casa, do tanto de encanto que meus escritores preferidos me provocam. Lembrei do atmosfera de sacralidade que, por vezes, me vejo envolvendo-os. Parece que dirigir-me a eles pode provocar alguma fagulha de criação que, justo naquele momento de interrupção, estava surgindo. Lembrei também de quando me iniciava nos caminhos da leitura e da literatura e cruzava com o Quintana pela rua da praia, ou via ao longe, na Feira do Livro, um ou outro autor amado.
Os caminhos de aproximação entre leitor e escritor são sempre espaço de talvez. E, quando a certeza se dá, tudo adquire mais e mais cumplicidade. Por isso, quando acontecem momentos com o que vivi com o Pedro, quero mais é ser parada, ser olhar no olho, ser palavra. Saber-me lido é presente maior.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Palavras...

O que somos é mesmo e apenas palavras. Pronunciadas, escritas, digitadas, sussurradas, gritadas, silenciadas. Elas é que ficam, elas é que nos constroem, elas é que materializam a vida. Delas viemos, nelas permaneceremos.

sábado, 20 de abril de 2013

Lygia: a jardineira das palavras.


Lygia: a jardineira das palavras.
 
 
Espero que fique alguma coisa - Lygia Fagundes Telles
                                                                                        
            Para aquele que aprecia mergulhar em universos ficcionais, sem dúvida a descoberta de um grande livro ou de um grande autor é como labor de jardineiro, que vai jogando sementes sobre terra fértil, regando-as com esmero, ansioso por ver o broto rebentar a terra, mas sempre na expectativa de qual o presente que recolherá. Os botões são sempre surpresas, promessas de imagens únicas. Cada flor é, e sempre será, flor singular, por mais que possa desaparecer no todo do jardim.
            Penso em jardins, em flores, — mesmo correndo o risco do clichê — quando penso nas palavras. Estas, como aqueles, são sempre surpresas. Abrir um livro é estender uma ponte entre aquele que lê e aquele que deixou brotar no papel seus mundos inventados.
            Penso em botões, em flores, sempre que penetro no universo de Lygia Fagundes Telles.
            E que universo:
            Um gato que já viveu várias vidas, agnóstico e com memória; uma jovem que se encontra consigo mesma num universo onírico; um esqueleto de anão que se vai reconstruindo com o auxílio de um préstito de formigas; autoridades reunidas em um seminário cujo objetivo é destruir os ratos ou, quem sabe, um milagre em noite de Natal sobre uma barca que atravessa um rio. Todas situações de forte apelo emotivo e estético, todas flores construídas pela mesma jardineira das palavras: Lygia Fagundes Telles, que, no mês de maio, recebeu o prêmio Camões, o mais importante prêmio literário de língua portuguesa. A Lygia de contos e romances. A Lygia de vários prêmios literários, no Brasil e no exterior. A Lygia cujo texto mergulha nas profundezas do eu. A Lygia que apela ao fantástico.
            Herança, segundo a própria autora, do hábito de ouvir histórias que lhe eram narradas por uma pajem. Todas narrativas que envolviam mortos-vivos, lobisomens e tantas outras criaturas do além. “Pois bem: eu comecei contando para as outras crianças as histórias que ouvia. Mas sempre mudava um pouco o que tinha escutado”, diz Lygia.. Depois, passou a inventar suas próprias histórias. E percebeu que, ao contá-las, o temor desaparecia. Ela agora era a senhora da palavra. Concedia às personagens o destino que queria. E não era incomum mudar, de uma contação para outra, algum detalhe. Ao que a platéia protestava: “Não era assim! A caveira tinha outro nome!”. Isto, antes mesmo de aprender a escrever. Quem sabe nestas cenas infantis a semente que geraria a plantadora de histórias outras.
            Estreando na literatura em 1938, com o livro de contos Porão e Sobrado, financiado pelo próprio pai e hoje considerado pela autora como “contos ginasianos”, Lygia, a cada livro publicado, foi firmando seu nome como um dos mais importantes da literatura contemporânea. Autora de quatro romances (Ciranda de Pedra, de 1954, Verão no Aquário, de 1963, As Meninas, de 1973, e As Horas Nuas, de 1989) e de diversos livros de contos, sendo o conto Pomba enamorada considerado por José Saramago como “uma verdadeira obra-prima”. Lygia, em 2000, nos entregou Invenção e Memória, livro de contos que, numa linguagem sem excessos, funde reflexões pessoais, experiências de vida e ficção. O que é verdade e o que é invenção nestes relatos, a própria autora, em entrevistas, diz não saber. Foi coletando pedaços de memórias e reconstruindo-as num jogo sedutor, em que as fronteiras do real são invadidas pelo fantástico. Assim, seu universo memorialístico nos brinda com contos, como Potyra, em que, através do olhar de um vampiro, o processo de colonização brasileiro é posto em xeque, ou como A chave na porta, em que o sobrenatural funde presente e passado, ou ainda, com A dança com o Anjo, em que o sobrenatural mergulha a protagonista (ou a autora) numa atmosfera redentora.
Arquiteta da palavra, artífice na construção de mundos ficcionais, Lygia Fagundes Telles mostra-se, muitas vezes, insatisfeita com seu labor e, sempre que republica seus contos, lança novo olhar sobre eles, buscando a palavra perfeita, a fim de que o efeito seja, ainda mais, concentrado:  jardineira em seu labor de poda. Um de seus contos mais vezes publicado é Venha ver o pôr-do-sol, em que duas de suas temáticas, o amor e a morte, são abordadas, com maestria, conduzindo o leitor a um desfecho surpreendente, em que se percebe forte intertextualidade com a narrativa de Edgar Allan Poe. Aliás, em 2004, Lygia apresentou Meus contos preferidos, e, em 2005, lançou Meus contos esquecidos, antologias em que apresenta, mais uma vez, suas escolhas em relação à própria produção contística, numa espécie de balanço ou de testamento literário.
Mergulhar em seus mundos ficcionais é certeza de enredamento, é certeza de encontro com o inusitado, é certeza de colher flor singular no jardim da Literatura. O fantástico, conforme Fábio Lucas, transcorre “como se os fantasmas aparecessem para corrigir a realidade que não conduz ao prazer”. Surge para oferecer uma possibilidade de encontro, já que a solidão e uma intensa sensação de inadequação espacial e emocional abatem-se sobre as personagens lygianas, que sofrem e se angustiam, vítimas de situações desencontradas. Estão perdidas, soltas, sem pai nem mãe, imersas numa realidade que lhes é hostil, como, por exemplo, nota-se no romance As Horas Nuas: Rosa Ambrósio, atriz decadente, lutando para manter-se íntegra, quando tudo ao seu redor se esboroa.
Em 2002, com organização de Suênio Campos de Lucena, A Rocco publicou Durante aquele estranho chá, cujo subtítulo Perdidos e Achados fornece breve idéia do que vai pelas páginas. São crônicas, retalhos de memórias ou fragmentos publicados em jornais e revistas, ou inéditos, em que Lygia Fagundes Telles, pelo viés do sensível, traça rico painel da vida literária brasileira, referindo suas andanças pelo Brasil para falar de Literatura, bem como as afinidades e contatos com vários autores, dentre eles Monteiro Lobato, Hilda Hist e Oswald de Andrade. O mais tocante, talvez, seja a crônica que inaugura o volume, Onde estiveste de noite?, em que a autora, na noite da morte de Clarice Lispector, recebe a visita de uma andorinha perdida. Presságio da libertação da amiga.
Sobre o prêmio Camões, disse estar tão desligada de tudo, tão envolvida com suas coisas, que nem sabia. “Mas recebi com muita emoção, porque indica que uma escritora do Terceiro Mundo está transpondo barreiras”. Postura de preocupação mais com a escrita do que com a celebridade, a mesma demonstrada ao completar 90 anos. Não fez grandes comemorações. Preferiu celebrar os 40 anos de publicação do romance As Meninas, em que, através do retrato de três jovens, desnuda de forma crítica e sem condescendências um terrível momento brasileiro: a ditadura militar. Lygia não quer mais nada a não ser “cumprir seu ofício com seriedade e paixão”. Não teme a velhice nem a morte. Se há um medo é o do encontro com certas doenças, as quais ela denomina de “humilhantes”. Classificada por Ignácio de Loyola Brandão como “uma pessoa adorável”, de fato a escritora é um exemplo de simpatia e serenidade, como demonstrou em sua passagem por Porto Alegre, em 1999, por ocasião da feira do Livro. Membro da Academia Brasileira de Letras, prestes a lançar um livro infantil Eu, o gato, animal sempre presente em suas narrativas, Lygia revela ainda ter muitas cartas na manga. Em recente entrevista, disse estar às voltas com um novo romance. Nós, leitores, agradecemos. Só nos resta entoar um parabéns pelo prêmio e desejar que Lygia faça cem anos. Ou mais. Afinal, muitas flores ainda querem ser plantadas.
 
 
 
 
 

 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Crônica: Uma biblioteca de sonho


Uma biblioteca de sonho
 
                Uma biblioteca para os gaúchos. Uma biblioteca que seja ponto de encontro para a cultura: discutindo-a, produzindo-a, consultando-a, maravilhando-se com ela. Porto de chegada, mas também de partida. Esse é o sonho apregoado pelo poeta Armindo Trevisan em seu artigo Uma biblioteca estadual à altura do Rio Grande?, publicado em Zero Hora. E, quando um ícone da cultura literária fala, convém que escutemos, convém que pensemos sobre o dito.
            Há anos o Rio Grande do Sul merece uma biblioteca que dê conta de sua grandeza. Somos um povo que pensa e produz leitura e literatura; somos o estado da Jornada Literária de Passo Fundo, da Feira do Livro de Porto Alegre e de tantas outras espalhadas pelo Rio Grande, de projetos como o Adote um escritor, o Autor Presente, o Livro Lido, o Passaporte da Leitura, entre vários outros que buscam promover a troca entre escritores e leitores. Somos o estado que tem cidades que erigiram monumentos ao livro: Morro Reuter e Passo Fundo. Somos o estado que fomenta a literatura através de planos governamentais, através de concursos literários, sendo o Moacyr Scliar, que recentemente premiou o gaúcho Altair Martins, o de maior destaque atualmente. Somos o estado em que, segundo pesquisa recente, a média de leitura é a maior do país. Somos um estado leitor. Há, pois, muitos motivos para que nos orgulhemos de tais façanhas. Urge, então, que uma maior assegure, ainda mais, nosso respeito ao livro.
            O poeta clama por uma biblioteca à altura da grandeza de nosso estado e quero fazer eco ao seu pedido. Quem sabe o retorno ao prédio que, durante anos, consagrou os livros e a leitura, ali, pertinho do Theatro São Pedro, que tanto incentivo tem recebido do poder público e do privado, possa assegurar que a literatura é algo de valor em nosso estado. Lembro-me da magia que entrar na biblioteca pública causava em meu coração adolescente, quando eu me iniciava na pesquisa escolar. Estar naquele local, que tanto saber anunciava, era momento quase sacro. Livros, creio, têm mesmo esta aura. Livros, creio, necessitam de um espaço para eles; espaço que dê conta de sua grandiosidade. Com certeza, o Rio Grande merece; e os escritores também.
            O poeta Trevisan sonha. Quem sabe mais pessoas possam se unir ao seu sonho, e ele, assim, não mais sonho, irá se construindo como realidade.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sete patinhos andando por aí.

Na Band News, matéria falando de alguns lançamentos da Editora Biruta, enfoca o meu livro Sete Patinhos na Lagoa. História de sete irmãos que são vítimas da fome do terrível Jacaré Barnabé. Mas, quando tudo parece perdido, o riso torna-se salvador. Abaixo o link:

http://bandnewstv.band.uol.com.br/colunistas/coluna.asp?idc=218&idn=653883&tt=bandnews-literatura---com-maia-prado&tc=editora-biruta-acaba-de-lancar-tres-livros-infantis