sábado, 20 de agosto de 2011

Meu pedaço de Porto

Apesar de alguns pesares, gosto de ter nascido em Porto Alegre, gosto de viver em Porto Alegre. Ela, embora cidade com ares de metrópole, ainda preserva um certo encanto provinciano. Há alguns bairros provincianos, que cheiram a passado (como aquele em que resido). Há algumas ruas ainda provincianas, de cavalos que pastam, de vizinhos que varem calçadas e conversam sobre a vida.
Há pessoas provincianas.
Mas de todos os cantos e recantos de Porto Alegre — não me perguntem o porquê desta escolha, talvez eu não soubesse racionalizar —, o que mais atrai meu olhar, meu sentir, é a Igreja das Dores. Sempre que passo por aquela parte mais antiga (ou histórica, como dizem alguns. Todavia, me pergunto se o resto do centro também não tem história, enfim.) me deixo encantar por aquelas escadaria brancas, encimadas pela fachada antiga, pelas torres que se alçam ao céu, feito dedos humanos a apontar para Deus.
Gosto de subir as escadas, gosto de caminhar entre os bancos, gosto de me perder em pensamentos diante do altar, diante daquelas imagens de santos ainda vestidos de veludo, ainda ornados com dourado. A Igreja das Dores é fascínio — sempre — ao meu olhar, que, ao vê-la, assume-se como estrangeiro, cioso de entendimento da atmosfera que me convida a ser parte daquele prédio, de sua história, de suas gentes.
E fico ali, meio imerso na fantasia, tentando descobrir alguma pista de que, de fato, o negro Josino andou por ali. Josino, um dos tantos escravos que auxiliou na construção da igreja e que foi enforcado diante dela, seus olhos talvez levando para sempre gravadas em si a imagem do prédio que ele mesmo ergueu. Dizem que acusado injustamente, as torres sendo prova visível de sua inocência.
Tudo é chamado: o que a igreja tem de real e o que ela suscita na fantasia que habita em mim, no meu desejo de desvendar as dobras que ocultam o sobrenatural.
Passar pela Andradas e não voltar os olhos para o templo no alto das escadas? Jamais. Minha Porto Alegre é a Porto Alegre do Gasômetro, da Redenção, do Marinha, do Guaíba, do Cais. É a Porto Alegre do Laçador também. Mas é muito mais, bem mais, a Porto da Igreja das Dores, que, vista do Guaíba, é a certeza de que uma aura de mistério a envolve. Sempre.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um na estrada

A escrita de um livro, na maioria das vezes, desconhece a publicação. Lançar-se ao trabalho de dar vida a um personagem, de construir suas dores, sempre é mistério, pois a garantia de publicação, quando ele não é um pedido de uma editora, é apenas possibilidade. Quantos livros estão guardados em gavetas ou salvo em pastas de compuadores por esse mundão a fora? Assim, quando uma história encontra guarida em uma casa editorial, um dos motivos por que ela foi escrita — ir ao encontro de leitores — se realiza.


Pois esse mês recebi o Um na estrada, minha estreia individual na editora Melhoramentos.

Livro que surgiu de um encontro inusitado (e nunca mais repetido) com um jovem homônimo do meu personagem, que me encantou com sua visão whatever da vida: não trabalhava, julgava que jamais iria trabalhar, deixava-se aproveitar as oportunidades que a vida lhe dispunha, como, por exemplo, fazer um curso de desenho sem que jamais tivesse tal habilidade, sonho, desejo. A vida, pois, me apresentava ali, sem nenhuma máscara, um personagem fascinante. Personagem que pega a estrada, na tentativa de fugir da atmosfera familiar, que não lhe premia com coisa boas. Esse o meu Davi, esse o meu solitário na estrada.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

No Espírito Santo



Por vezes, a literatura nos põe na estrada (ou no ar).
Quinta, dia 04, estive em Vila Velha, no Espírito Santo, para conversar com meus leitores do Colégio São José. Momento bacana, descontraído, em que minhas palavras literárias foram ao encontro do coração de um bando de simpáticos adolescentes. A manhã foi de troca a partir da leitura de dois dos meus livros: Meu pai não mora mais aqui e As luas de Vindor (ed. Biruta). À noite, encontro com pais e professores sobre meu livro A formação do leitor literário em casa e na escola.
Entre tantas palavras, falei que, quando resolvi ser escritor, algo que me incomodava era a possibilidade de inexistência: livros publicados e não lidos, personagens mofando nas estantes. Hoje, esse temor não é mais. Sobretudo, quando tenho a oportunidade de perceber como minhas histórias ecoam no dentro de quem as lê.
Assim, só resta agradecer a quem permite que eu exista como escritor.

E, além de encontrar tanta gente bacana, ainda conheci lugares especiais, como o Convento da Penha. Lindo. Do alto, vê-se a cidade. Plena: prédios, carros, praias e pontes.