Apesar de alguns pesares, gosto de ter nascido em Porto Alegre, gosto de viver em Porto Alegre. Ela, embora cidade com ares de metrópole, ainda preserva um certo encanto provinciano. Há alguns bairros provincianos, que cheiram a passado (como aquele em que resido). Há algumas ruas ainda provincianas, de cavalos que pastam, de vizinhos que varem calçadas e conversam sobre a vida.
Há pessoas provincianas.
Mas de todos os cantos e recantos de Porto Alegre — não me perguntem o porquê desta escolha, talvez eu não soubesse racionalizar —, o que mais atrai meu olhar, meu sentir, é a Igreja das Dores. Sempre que passo por aquela parte mais antiga (ou histórica, como dizem alguns. Todavia, me pergunto se o resto do centro também não tem história, enfim.) me deixo encantar por aquelas escadaria brancas, encimadas pela fachada antiga, pelas torres que se alçam ao céu, feito dedos humanos a apontar para Deus.
Gosto de subir as escadas, gosto de caminhar entre os bancos, gosto de me perder em pensamentos diante do altar, diante daquelas imagens de santos ainda vestidos de veludo, ainda ornados com dourado. A Igreja das Dores é fascínio — sempre — ao meu olhar, que, ao vê-la, assume-se como estrangeiro, cioso de entendimento da atmosfera que me convida a ser parte daquele prédio, de sua história, de suas gentes.
E fico ali, meio imerso na fantasia, tentando descobrir alguma pista de que, de fato, o negro Josino andou por ali. Josino, um dos tantos escravos que auxiliou na construção da igreja e que foi enforcado diante dela, seus olhos talvez levando para sempre gravadas em si a imagem do prédio que ele mesmo ergueu. Dizem que acusado injustamente, as torres sendo prova visível de sua inocência.
Tudo é chamado: o que a igreja tem de real e o que ela suscita na fantasia que habita em mim, no meu desejo de desvendar as dobras que ocultam o sobrenatural.
Passar pela Andradas e não voltar os olhos para o templo no alto das escadas? Jamais. Minha Porto Alegre é a Porto Alegre do Gasômetro, da Redenção, do Marinha, do Guaíba, do Cais. É a Porto Alegre do Laçador também. Mas é muito mais, bem mais, a Porto da Igreja das Dores, que, vista do Guaíba, é a certeza de que uma aura de mistério a envolve. Sempre.
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Um comentário:
Olá! Caio,
Estou divulgando o ENCONTRO DA
CONFRARIA REINAÇÕES - POA (SETEMBRO/2011)no meu blog.
Sou CRISTINA SÁ do blog:
http://cristinasaliteraturainfantile
juvenil.blogspot.com
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