domingo, 31 de maio de 2020

Isolados

        Pensei que estes tempos de isolamento pudessem ser muito produtivos. Estar em casa seria momento para dar conta de projetos pensados, projetos em andamento ou até mesmo para revisões em projetos de escrita já prontos.
          Mas não.
         Vivo um tempo não tempo. Um tempo que passa rápido e que me ocupa com coisas que até então não me ocupavam tanto: a preparação de aulas exige mais, bem mais; a oficina literária é agora online, as lives e os encontros em alguma plataforma virtual (e como há) abundam, o whats o tempo todo repleto de mensagens. A vida está exigindo outra organização, outro modo de olhar para ela. 
           E muitos só a veem pela janela.
          A casa, aquela que até então para muitos era apenas passagem ou dormitório, passa agora a ser território que se oferece ao visitante. Tornamo-nos turista de espaço que julgávamos conhecido e vamos descobrindo (ou redescobrindo) nosso próprio canto. Se a vida exigirá de nós outro olhar, nossa casa também se oferece como novidade.
         Como sairemos disso tudo é difícil responder. Uns afirmam que seremos melhores; mais cuidadosos com o outro, capazes de ressignificarmos a vida. Não sei. Na verdade, duvido um pouco. Ou muito. Ao ver tantas pessoas desrespeitando o isolamento, tanta gente sem máscaras nas ruas, uma multidão a não cuidar o afastamento social, me torno Tomé. E aí parece ecoar aquela frase clichê de que a humanidade não deu certo. 
           Não desejaria o pessimismo, mas uma tristeza enorme me toma ao olhar para o Brasil, ao olhar para os rumos que a política tomou ao eleger pessoas desqualificadas não só para a vida social, como para ditar os caminhos para uma Nação. 

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