Meu pai tinha olhos azuis e eu os herdei. Somos sete filhos e, dos sete, apenas dois têm olhos azuis. Eu sou um deles. Todavia, os meus azuis não trazem em si o brilho e a cor presente nos olhos de meu pai. Tenho olhos azuis desmaiados. Eles só são perceptíveis caso eu esteja com roupa azul ou preta. Aí o azul realça e as pessoas me olham e dizem: "Nossa, você tem olhos azuis".
"Desde que nasci", costumo responder.
Lembro que quando guri isso era motivo de decepção. Ficava me perguntando de que adianta ter algo que o senso comum julga ser bonito se ninguém (ou poucos) nota? Tem-se um tesouro e não se pode aproveitá-lo.
Durante muito tempo fui assim: alguém que acreditava não ser possuidor de beleza qualquer, apesar de algumas pessoas costumarem elogiar minha inteligência, minha liderança, minha escrita, minha criatividade, meus cabelos crespos e, de vez em quando, meus olhos azuis desmaiados.
Vivia quando adolescente, uma realidade que sempre julguei pouco afável a mim. Hoje creio que era algum probleminha de autoestima, não sei. Na verdade, na maioria das vezes, eu não gostava daquele cara que me olhava do espelho. Poxa, ele podia ter cabelos lisos, podia ter menos espinhas naquele rosto tão claro, podia ao ir ao sol ficar bronzeado e não avermelhado, podia não ficar vermelho (o rosto pegando fogo) ao sentir vergonha, podia ter olhos azuis bem azuis. E eu ficava querendo tanto poder que, por vezes, era incapaz de perceber o que tinha, o que era.
A vida na adolescência tem um tanto de abismo entre o ser e o querer ser. Um dia, esta distância abissal diminui.
É certo, diminui.
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