domingo, 5 de maio de 2013

Autógrafos

Por vezes, releio autógrafos recebidos e fico me sentindo íntimo e parte da história daquele que o escreveu. Fico querendo que o escritor saiba de mim, que entenda a sintonia que julgo haver e este sentir. Mas sou, sei, apenas um leitor. Alguém que mergulha em mundos verbais, que julga que as palavras urdidas, não as da trama ou as do poema, mas as do autógrafo foram escritas apenas, singularmente, para mim, o leitor. Leitor que, embora o encontro com o escritor possa ser sempre distância, é muita presença.
Estranha, aliás, essa sensação de proximidade que eu sinto em relação aos autores que amo. E não apenas aqueles dos quais tenho livros com dedicatórias, não. Sempre penso que o autor possa saber de mim, de minha existência, embora saiba que este saber é fantasioso. As palavras têm seu potencial de aproximação. Um autor, quando escreve, talvez desconheça a força que opera no dentro de quem o lê. Esta a magia que faz do outro, alguém distante, ser próximo, pulsante, e o livro ali, o elo, o portal que remete o leitor ao mundo do seu escritor.
O autógrafo? Crença de que foi único. Ele mesmo a ser o mapa ao coração do leitor. Marca para sempre do encontro.

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