sábado, 21 de junho de 2014

Ainda sobre o escrever e o emocionar

Uma resposta a um comentário no Face me fez pensar mais sobre o escrever, sobre a necessidade da emoção, que deve estar presente no processo da escrita e também no da leitura. Abaixo, o que pensei lá:

"...em meu mestrado e em meu doutorado, também estudei bastante, também li bastante, também mergulhei nos caminhos da literatura, mas não apenas dela. Sempre acreditei que as ciências humanas são suportes interessantísimos para se entender um texto literário. Todavia,  não vejo a concepção do escrever eivada pela teoria acadêmica. Tento separar tais searas, a fim de que o Caio-escritor não se deixe levar pelo Caio-teórico e mate o que, para mim, é essencial em um texto: a emoção. Jamais disse (talvez meus comentários não tenham sido bem compreendidos) que o modo de dizer deva ser menosprezado. Se eu pensasse assim, não teria escrito "Vento sobre terra vermelha" ou "A dobra do mundo". Não. A linguagem esteticamente elaborada é importante. Mas não é ela que faz um texto ser literário ou não. É a capacidade que ele tem de ser comunicante, de ir ao encontro do outro, de tornar-se universal (e aí modismos, ou questões de estilo, de escola ou, simplesmente, de tempo ou de cultura, tornam-se nada diante da capacidade de falar à emoção de quem lê). O bom texto, a meu ver, é comunicante, em primeiro lugar. Por isso sempre defendi, em minha prática, em minhas palestras, em minhas oficinas, as duas esferas necessárias para se compor literatura: o que dizer? como dizer? Porém, o que percebo em alguns autores, por vezes, é o excesso de hermetismo na linguagem. Um texto vazio do principal, um texto que se envolve apenas e consigo mesmo. O leitor, o outro, é coadjuvante. E aí, acho, está a questão: como o escritor pensa a literatura e pensa-se como escritor. A literatura (como toda Arte, no meu ver ingenuo, talvez) é abertura. Um artista, que se volta apenas para o fazer, que não olha para o que o cerca, que não pensa que um texto (e aí entramos em questões que envolvem a Teoria da Comunicação) necessita de uma função social para que se consolide como texto, não faz literatura. Borges diz que a literatura sobrevive, apesar da linguagem. Neste sentido (numa interpretação livre, talvez) o que fica não são as palavras. É mais. É a capacidade que um texto tem de falar com o altero, de provocar, de instigar, de "dramatizar" a vida. EM TEMPO: Não pretendia debate algum. (embora julgue-os extremamente instigantes, a fim de me fazerem pensar meu modo de ver meu ofício, e de me ajudarem a perceber com maior clareza as minhas convicções). Mas, ressalto, não acredito que uma linguagem pobre ou frágil sustente um texto, assim como não creio que o virtuosismo linguístico tenha tal poder. Ambos são pífios, se não conseguirem emocionar. Amo Mia Couto, curto Raduan e Rosa, pelo tanto que eles conseguem dizer e também pelo modo como eles dizem este tanto. Assim, como curto autores que apresentam mundos possíveis a partir de uma linguagem menos elaborada, como Lygia Fagundes Telles ou Paul Auster."

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