domingo, 16 de novembro de 2014

Gente Nova 21 - Gustavo Rückert

Gustavo Rückert é professor de Literatura em Jaguarão, no RS, e escreve no blog: gustavoruckert.blogspot.com.br.  
O poema que segue nasceu de um desafio que fiz ao poeta.


(Salvador Dalí)

Um muro em três partes

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
por entre rachaduras e musgos
as sutilezas mais frágeis e densas
de minha própria existência

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
dois terrenos pantanosos
que na inconstância de suas formas
têm duas existências formadas
na constância do velho muro

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
entre a aspereza e a frialdade
os segredos e o calor
das confissões dos vizinhos
duas existências
duas partes à parte
de uma mesma essência

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo
descontemplo-me a dançar
na ponta dos dedos
equilibrando (me)
sobre minha frágil existência
em um segundo de delírio
entre duas consciências
perdidas
por entre rachaduras e musgos
diferentes
de um mesmo muro

Ao olhar para aquele velho muro
descontemplo-me
descontemplo-te
perco (me)
entre nós
Ao descontemplar (nos) aquele velho muro
me falta a coragem
fujo
(já nem sei se de mim ou de ti)
em desespero
e errante
vou simplesmente sendo
afinal




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