Quando leio um livro (no momento ando tomado pela dor da "Carta à Rainha Louca", de Maria Valéria Rezende), não resisto à tentação de fazer comentários à margem ou de destacar, com sublinhados, trechos que me chamem a atenção, quer pelo conteúdo, quer pelas construções estéticas, quer por mexer com alguma coisa em mim. Deixo minhas marcas naquilo que leio; não vejo as páginas de um livro, como fazem alguns, como um templo no qual entramos em silêncio, evitando máculas, marcas.
O livro, para mim, pede que eu descubra nele surpresas, achados. Ao retornar a um livro, quer para relê-lo ou apenas para relembrá-lo (os olhos percorrendo as páginas ao acaso; a mão quase carinho). Gosto de encontrar minhas cicatrizes, as páginas todas tatuadas de mim.
Uso lápis, o risco sempre podendo desaparecer caso a um possível outro dono desagradem. Eu não, eu gosto de perceber as anotações de outros nos livros que encontro escondidos em prateleiras de sebos: servem como bússolas, como indícios de rumos a tomar. Ou não. Placas indicativas nem sempre servem de guia. A desobediência pode ser caminho para novas descobertas.
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