sábado, 15 de setembro de 2012

Às vezes, me faço crônica e chovo.


Chuva no dentro
 
 
 

Somos, acho mesmo, seres de saudades. Vamos fazendo-nos gente pelos encontros, pelas presenças, pelos afetos construídos ao longo do caminho, pelas palavras pronunciadas ou pelas silenciadas. Todavia, nos tornamos gente também pelos buracos que a ausência nos provoca. A dor da falta é ferida nunca cicatrizada. Por mais que nos pensemos curados daquela lembrança, por mais que pensemos que a criatura amada que se foi é apenas e mera lembrança, a falta se faz presença com uma dor tão forte, que nada mais nos resta senão ouvir o eco do vazio que nos vai por dentro.
            Aí se chora.
            Como agora. Choro a falta do não dito, choro a ausência do não ocorrido, choro a saudade do que nunca existiu. Mas que eu gostaria que tivesse existido: aquela palavra jamais dita, aquela conselho jamais ouvido, o toque no cabelo que nunca aconteceu, o colo sempre esperado e nunca recebido, o sorriso desejado.
            Aí se chora.
           Chora-se a certeza de que tudo teria sido possibilidade de diferença, caso o sofrimento da despedida tivesse sido acalmado pela presença do que não houve; o mesmo tudo que agora lateja, queima, marca para sempre o existir.
            Aí se chora.
            E o choro é apenas a falta da falta, o desejo do nunca havido.
           Saudade é doença sem cura. Por mais que achemos que o oco da ausência foi coberto pela terra do tempo, um vento forte descobre tudo e traz de volta a falta, que lateja, lateja e chove lágrimas em nós.

2 comentários:

Rubem Penz disse...

Caio, e não se deve conter as lágrimas assim como não se pode prescindir da chuva.
Brilhante!
Abraços, Rubem

Márcio Ezequiel disse...

bEM NeSSAS. é ASSIM... mesmo Qdo NÃO CAIO NO chorO. abRAçO