Chuva
no dentro
Somos, acho mesmo,
seres de saudades. Vamos fazendo-nos gente pelos encontros, pelas presenças, pelos
afetos construídos ao longo do caminho, pelas palavras pronunciadas ou pelas
silenciadas. Todavia, nos tornamos gente também pelos buracos que a ausência
nos provoca. A dor da falta é ferida nunca cicatrizada. Por mais que nos
pensemos curados daquela lembrança, por mais que pensemos que a criatura amada
que se foi é apenas e mera lembrança, a falta se faz presença com uma dor tão
forte, que nada mais nos resta senão ouvir o eco do vazio que nos vai por dentro.
Aí
se chora.
Como
agora. Choro a falta do não dito, choro a ausência do não ocorrido, choro a
saudade do que nunca existiu. Mas que eu gostaria que tivesse existido: aquela
palavra jamais dita, aquela conselho jamais ouvido, o toque no cabelo que nunca
aconteceu, o colo sempre esperado e nunca recebido, o sorriso desejado.
Aí
se chora.
Chora-se
a certeza de que tudo teria sido possibilidade de diferença, caso o sofrimento
da despedida tivesse sido acalmado pela presença do que não houve; o mesmo tudo
que agora lateja, queima, marca para sempre o existir.
Aí
se chora.
E
o choro é apenas a falta da falta, o desejo do nunca havido.
Saudade
é doença sem cura. Por mais que achemos que o oco da ausência foi coberto pela
terra do tempo, um vento forte descobre tudo e traz de volta a falta, que
lateja, lateja e chove lágrimas em nós.
2 comentários:
Caio, e não se deve conter as lágrimas assim como não se pode prescindir da chuva.
Brilhante!
Abraços, Rubem
bEM NeSSAS. é ASSIM... mesmo Qdo NÃO CAIO NO chorO. abRAçO
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