Hoje fiz sagu.
Para quem desconhece, sagu é um doce a base de suco de uva ou de vinho. Doce muito peculiar aqui no Rio Grande do Sul, costumeiramente comido acompanhado por um creme de baunilha.
Fiz o sagu. Fiz o creme.
Fiz o doce a pedido de uma das filhas.
Hoje fiz sagu.
Fazer sagu para a família, ler um livro, ir ao teatro ou ao cinema, encontrar amigos, escrever, rir, amar... Estas têm sido minhas formas de resistência mediante o tanto de notícias trágicas, quer aquelas como as proporcionadas pela Vale, quer as determinadas pelo atual governo. Atacam a previdência, atacam as empresas públicas, destroem a natureza, perseguem índios, negros, mulheres, trans, perseguem qualquer voz que possa se insurgir contra atos tão medievais perpetrados por governantes publicamente envolvidos com atos de corrupção. E tudo soa normal: as ruas calam, as praças calam, panelas calam, bandeiras calam. Há os que percebem a burrada feita; há os que seguem a gritar contra a corrupção, defendendo corruptos.
Difícil se torna a luta, quando os atacados se unem ao feitor; quando os que estão sendo despossuídos de seus direitos, se entendem como parcela beneficiada da população.
Tudo muito torpe, tudo muito triste.
A arte, o afeto, os amigos, meu sorriso no rosto é algo que não me podem usurpar. Minha palavra é minha: podem calá-la enquanto voz, jamais poderão domar o pensamento.
A arte liberta.
A arte questiona.
A arte possibilita o sonho.
É necessário, pois, fazer sagu. Comer sagu.
No pouco, resisto.
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