Iniciei o ano mergulhado em Paul Auster e seu "Noite do Oráculo".
Curto a literatura metaficcional. A trama engendrada por Auster, cria uma série de camadas de leitura e de escrita. Afinal, Sid, o protagnista, é um escritor recém-saído de uma crise que quase o vitimou. Após adquirir um caderno azul, numa pequena e estranha papelaria, ele retoma a vontade de escrever. E se a crise é literária, ela também é emocional. Sidney encontra-se numa encruzilhada em busca da compreensão do mundo que o cerca e, para isso, a ficção acaba, de certa forma, apresentando-se como possibilidade de entendimento. Escrever, nesse sentido, pode ser futurar.
No desvendar da palavra (e da vida), o protagonista problematiza as fronteiras tênues que separam invenção e real, além de reconstruir-se como ser de vontades, como pessoa que quer ser feliz. As respostas desimportam. As palavras, afinal, é que nos constroem, nos fazem.
Neste sentido, aquele que escreve tem o poder de vaticinar, de prospectar o amanhã, não apenas de memorizar o que passou. Escrever é tornar a vida possível. Assim, literatura e vida, palavra e existência se fundem num sentido existencial, essencial, necessário. Aquele que escreve torna-se deus, já que obra o futuro. É, pois, o próprio oráculo.
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