segunda-feira, 25 de março de 2019

De novo, falo de bibliotecas

Bibliotecas são espaços necessários, sempre. E são necessárias por se mostrarem como espaço de possibilidades: um leitor é mais que uma pessoa, é vários, é tudo o que as histórias e os poemas lhe possibilitam: é homem, mulher, bicho; é robô, planta, herói intergaláctico, é o que quiser e poder ser.
Livros são convite ao sonho.

Ah, e tudo anda tão sombrio, tão triste, tão pouco esperançoso. Pessoas têm seus direitos roubados; barragens enchem vidas de lodo, de barro, de morte; casas são derrubadas, queimadas; e o eco de vozes a incentivarem o feio, o desumano ecoam aos muitos ventos.

Uma escola é invadida por jovens; jovens que trazem nas mãos armas e não livros. 
Armas ameaçam, amedrontam, ferem, matam.
Livros acolhem, divertem, constroem, empatizam, inventam sonhos.

Bibliotecas são espaços necessários, cada vez mais. Sobretudo por oferecerem a fantasia grátis. Livros nada mais exigem do que o desejo de lê-los. Desejo que eu tive um dia.

Meus pés, ainda pequenos, ainda desconhecedores do mal do mundo, mas já suspeitando que ele existia, entraram um dia em uma biblioteca pública. E os livros se ofereceram a mim, a mim que tão pouco sabia do viver, a mim cuja vida se reduzia a uma rua. Pois foi na biblioteca de minha escola e, depois, em tantas bibliotecas públicas que me descobri leitor.


Encontro com leitores na Biblioteca Popular do Arquipélago, da qual sou padrinho.

Bibliotecas são espaços necessários, sim. E se a biblioteca é popular, mais ainda sua existência se torna vital. Hoje, as bibliotecas em minha cidade correm risco de vida. No Estado em que vivo, as bibliotecas escolares correm risco também: Há quem acredite que lugar de professor é na sala da aula, pensam que bibliotecas não são lugares de formação do humano. 
É tão estranho que homens e mulheres que se dedicam à vida pública possam não perceber o óbvio: viver entre livros é alimentar a capacidade de sonhar e de sobreviver à hostilidade do real. 



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