domingo, 13 de abril de 2008

Caio Leitor 6: O tênue véu de Seda

Seda, do italiano Alessandro Baricco, é uma história de amor. Mas não daquelas de encontros e desencontros clichês. Amor que é amor no próprio ato da doação, amor mesmo, amor para além do próprio ato de amar.
Dicção ímpar, formada de capítulos e frases curtas que narram a história de Hervé Joncour, comerciante que, ao ir ao Japão em busca de ovos de bicho-da-seda,mergulha num universo exótico, habitado por uma mulher que ele pouco vê, com quem nunca trocou palavras,mas cuja sedução o escraviza. No final, a revelação do amor maior de Heléne, sua esposa. Amor capaz de simular a outra ser, a fim de conceder felicidade ao homem amado. Hervé, na verdade, busca longe aquilo que estava o tempo todo a seu lado. Descoberta tardia. A aldeia destruída, Heléne morta, flores azuis sobre o túmulo: "E, cuidadosamente, parou o tempo por todo o tempo que assim o desejou."(p.41)
Hervé vive a nostalgia do sonho ou do não experienciado: toques, gestos, todos através de intermediários — como a xícara de chá, a japonesa que a outra lhe entrega, o bilhete em ideogramas que não consegue ler sozinho. Hervé, no entanto, deseja o distante. Inventa uma paixão na distância e é incapaz de perceber o grande amor que está próximo, bem ali, nos sentimentos e no corpo de Heléne. O sonho deixa de ser vivido pela incapacidade da percepção de que ele já é real.
No final do livro, Heléne se revela como mulher e como grande personagem. Ela, a seda: leve toque na vida de Hérve. Tão leve que ele é incapaz de percebê-la na superfície da pele.
(Seda, Alessandro Baricco, Cia das Letras, 2007)

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