domingo, 7 de dezembro de 2008

Caio cronista 2

Feiras de livros: pra que mesmo?

Caio Riter

Pergunta que anda sendo inquietação é se feiras de livros formam leitores. Podem, mas não bastam, creio. As feiras atraem, muitas vezes, não pelos livros ou pela possibilidade de encontro com antigos afetos literários ou de descoberta de novas histórias e de novos autores. Chamam através de outros convites. E estes, várias vezes, nada têm a ver com leitura: apresentações escolares (de dança, de coreografias, de teatro...), banda municipal, show de algum grupo de talentosos jovens pagodeiros, funkeiros, e outras, e tantas, atrações similares. Penso, penso e penso. No entanto, confesso que minha limitação intelectual não consegue, na maioria das vezes, estabelecer nexos entre tais apresentações e a formação de leitores.
Dia destes, abri o jornal e li matéria que convidava para a feira do livro de uma cidade da Grande Porto Alegre. Falava um pouquinho sobre o patrono, e depois eram listadas as atrações. Todas apresentações musicais. Dos mais variados estilos. Nada de escritores, nada de sessões de autógrafos, nada de mesas-redondas ou de seminários envolvendo a leitura, nada de contações de histórias, nada de livros. Claro que acredito (quero acreditar, pelo menos) que tais atividades existiam. Todavia, a pessoa que elaborou o release da feira talvez tenha julgado que estes nada não se constituíam fortes atrativos para o público. Os shows, sim.
Ora, se tal pensamento de fato existe, porque, então, fazer uma feira do livro? Quantos autores revelam — eu mesmo — que vão a feiras e enfrentam sessões de autógrafos esvaziadas? Quantos? Certa vez, fui a uma feira. Era final de uma tarde de domingo. Espaço lotado de adolescentes. A organizadora chegou até mim e disse: “Viu como a feira está cheia? É não é por causa da banda Xis, não.” Que mais pude eu fazer, senão concordar. Todavia, olhando para as mãos daquele amontoado de gente, não consegui detectar uma sacolinha sequer com um livro dentro. Nada. Ora, se não era pela banda, e tampouco pelos livros, que motivo atraía aqueles seres para o meio das bancas sem público numa tarde de fim-de-semana? Até hoje, busco a resposta.
E a vida é isso mesmo: uma constante interrogação. Todavia, para algumas questões, creio, já temos respostas. Para outras, ainda estamos atrás. O que sei é que atrair as pessoas para a feira, através de produtos alienígenas à leitura não é caminho. O que sei é que as feiras de livros devem ser culminância — quer em cidades, quer em escolas — de um projeto de leitura anterior. Projeto que promova, de fato, o contato com o livro, que contribua com a formação de leitores, que seja espaço de discussão qualificada sobre os textos lidos, que abra um leque de interpretações, que faça do leitor alguém atuante na construção de significados, que possibilite o surgimento de bibliotecas particulares, a fim de que o leitor sempre que queira possa retornar ao livro. Projetos com tais objetivos são vitais. E necessários.
Há, felizmente, gente que pensa como eu. Projetos como o Adote um escritor (Porto Alegre), Livro lido (Cachoeirinha), Passaporte da Leitura (Caxias), Vento de Letras (Osório), entre outros, buscam a formação dos leitores, que, quando vão à feira, já leram, já debateram os livros dos autores com os quais terão contato. A Feira, nessa perspectiva, torna-se a festa do livro. Mas festa para quem foi convidado, aceitou o convite e, para isto, preparou-se com antecedência.

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