O fato é que visitar Viamão gerou o texto "Cinco enigmas, um tesouro", que participou do Projeto Livros na Mão, coordenado pela escritora (e amiga) Marô Barbieri, e que no momento ainda não está comprometido com nenhuma editora. Vai um trechinho aí pra quem é curioso:
1. O sonho
Um raio
estoura lá para os lados dos charcos de Tarumã. O cavalo empina, talvez pelo
ruído do trovão, talvez pela chuva forte, gotas quase lâminas a machucarem seu
pelo. Gotas que também ferem o rosto do cavaleiro, que segura as rédeas firmes
e toca o animal em direção à igreja. Aquele é seu destino, lá estará seguro para
fazer o que deve fazer.
Noite
escura, céu todo fechado pelas grossas nuvens que desabam sobre Viamão. O homem
açoita o cavalo. Coração disparado, aperta contra o peito um pacote. Nem sombra
de gente alguma nas ruas de pedra. Quem afinal seria louco de sair do aconchego
dos cobertores numa noite fria como aquela? Quem além dele? Somente aqueles que
o perseguem: os homens do Serapião.
Chega à
praça, olha para trás, para os lados: ninguém. O padre, àquela hora, deve estar
no segundo sono. Melhor assim. Nada de testemunhas. Nada.
Desce
do cavalo, bate em seu lombo para que ele se vá, para que suma pelas ruas da
cidade. Que seus perseguidores se vão atrás do animal e se esqueçam dele ali na
Igreja de N.Srª da Conceição.
Empurra
a porta da igreja-fortaleza, entra. Fecha a pesada porta atrás de si e o frio
gélido do prédio santo o faz arrepiar-se. Benze-se, caminha até o altar. Um
raio explode no céu e ilumina a nave em tons coloridos, filtrados pelos vitrais.
A porta da igreja abre-se com um estrondo. O homem volta-se, deixa o pacote que
traz cair ao chão. O peso do que ele contém lasca o piso, deixa uma marca funda.
Teme.
Mas é apenas
o vento. Apenas ele. Segue em direção ao altar, não sem antes pegar o pacote.
Sabe o que tem que fazer.
Um comentário:
Li, gostei, recomendo.
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