sábado, 2 de fevereiro de 2013

Caio Leitor 18: O man e o brother

 
O man e o brother: contos de dor e de prazer
 Caio Riter
A literatura para jovens, creio, tem seguido algumas estradas distintas. Todas, é certo, pretendem ir ao encontro de juvenis corações. Todavia, o que cada uma delas acrescentará ao coração do viajante que enveredar pelos caminhos da fantasia que a leitura propõe já é outra discussão.
Ao se observar o catálogo das melhores editoras brasileiras e, também, as listas de indicações escolares, percebe-se que há livros para todos os gostos: aventura, mistério, intimismo, fantástico. Existem livros que fazem pacto com a adrenalina: histórias repletas de peripécias de tirar o fôlego puxam o jovem para dentro do texto e só o devolvem, quando a aventura acaba, o mal é vencido, a harmonia retorna. Outros livros enveredam pelo universo interior do adolescente, dissecando problemáticas existenciais: o amor, o conflito com os pais, situações de perda (morte, separação), a primeira transa, a primeira menstruação. Enfim, todo o universo de situações que fazem parte do amadurecimento e que estão sempre pulsando no coração de quem é jovem (talvez não apenas nos corações juvenis).
O fato é que, hoje, a literatura juvenil apresenta-se rica em nuances. Oferta histórias muitas, oferece caminhos diferentes e ricos no incentivo à imaginação, à fantasia e, também, ao olhar sobre si mesmo, na busca de entendimento do mundo que nos cerca.
Assim, foi com prazer (e também com um tanto de dor) que enveredei pelos recortes de uma juventude meio perdida, meio sem perspectivas, que Dilan Camargo, em seu livro de estreia na narrativa juvenil O man e o brother (Editora 8Inverso) oferece. São dez contos, dez histórias curtas, em que os protagonistas, todos jovens desfavorecidos socialmente, vivem situações-limite. Suas dores são expostas sem piedade, todavia são filtradas pela criação de uma linguagem artisticamente elaborada, em que se percebe o cuidado do autor em fazer de seus breves contos retratos pungentes do viver, sem, contudo, abrir mão de fazer arte, de produzir literatura. Desta forma, os leitores não só se depararão com a dor dos personagens, como poderão se deleitar com o estilo da linguagem.
Em As filhas do pedreiro, o leitor é colocado diante do sofrimento de um pai diante da perda da filha. É no concreto armado em que ela perdeu a vida que ele irá fixar a cruz que lembrará sua maior dor. Já em Pela ciclovia, Dilan estabelece uma relação intertextual com a Bíblia, ao narrar a via crucis de um garoto que roubou uma bicicleta. Todavia, diante da ordem da mãe, uma mulher cheia de princípios, ele mesmo deverá carregar a bicicleta nas costas até a delegacia, a fim de devolvê-la. Esses apenas exemplos do universo que o autor arquiteta: personagens marginais ou marginalizados, cada um com a sua dor, cada um experimentando aprendizagens que, caso não os façam amadurecer, no mínimo, os farão ver o mundo sob outros olhares. Algo que, com certeza, o leitor, após a leitura destes pungentes contos, fará também. Afinal, não é gratuita a citação inicial da Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias, cujos versos afiançam que o choro não adianta, visto que “a vida é luta renhida: viver é lutar”.

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