Conheci o Assis Brasil através da leitura de seus romances, antes de ter o prazer de conviver com ele nas atividades da Oficina Literária da PUC. Narrativas fortes, contundentes. Carreira que venho acompanhando desde que Cães da Província, primeiro livro lido, quando eu ainda cursava Jornalismo, me tomou por completo. Livro bom é assim, aquele que nos envolve de tal forma que não podemos abandoná-lo antes do ponto final, que, de fato, não finaliza. Livro bom ecoa no dentro da gente. E a obra desse amigo e mestre tem feito isso comigo: seus personagens tornam-se presença constante. Lembro que com As virtudes da casa foi assim: a história de Isabel, Jacinto e Micaela, vista sob diversos ângulos, me fez ser desejo de mais leitura. Tanto que, durante atividades do mestrado, escrevi o artigo Uma casa sem virtudes: a desmitificação do gaúcho em Luiz Antonio de Assis Brasil, publicado na Ciência & Letras 28 (2000, FAPA), em que analiso o processo de desconstrução da figura mítica do gaúcho que Assis problematiza neste romance, que, para mim, junto com Música Perdida, são dois marcos na literatura produzida por Assis.
O Assis é um gentleman. Pessoa incapaz de palavras indelicadas. Já fui seu leitor (e ainda o sou), oficinando (trago muitos de seus conselhos presos aos ouvidos até hoje) e correspondente (trocamos durante certo tempo cartas, em que discutimos o processo de criação: dúvidas, anseios, caminhos). Na época, Assis produzia sua série Um castelo no Pampa. Eu sedento de aprendizagem e, ousado, arriscando um ou outro palpite, sendo, ainda, depois de escritor publicado, entrevistado por este querido amigo em seu programa Letras Nossas (Canal 15, UNITV).
A palavra certeira, o sentimento na medida exata, os personagens dotados de verdade e de universalidade renderam a Assis Brasil diferentes (e respeitáveis) prêmios. Dentre eles, destacam-se Prêmio Erico Veríssimo, Prêmio Jabuti e o Portugal Telecom.
Abaixo, segue fragmento de seu romance Música Perdida (L&PM, 2006):
Precisaria de outra existência, uma nova existência, para repor tudo como antes, quando Bento Arruda Bulcão era alguém interessado nele, Joaquim José, em seu futuro, na sua arte, aquele homem que teria tantas coisas importantes para fazer na vida para além de preocupar-se com jovens desmiolados.
Caminhou até a exaustão, andou por vielas, até que se viu em frente à estalagem. Ficou mais dois dias em Vila Rica, num pânico branco, sem comer, nem beber, nem dormir.
O suicídio é a forma mais cruel de permanecer dentre os vivos. (p.143)
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