sábado, 23 de fevereiro de 2008

Caio leitor 2: Um menino no buraco

O menino que caiu no buraco, de Ivan Jaff, (Edições SM, 2004) é um texto que foge daquelas soluções fáceis a que estamos acostumados quando nos deparamos com um livro infanto-juvenil cujo título aponta para uma trama de aventura. Todavia, a história dispensa mistérios, segredos, aventuras perigosas. O maior perigo encontra-se no próprio mergulho, ao acaso, no buraco. E mergulhar naquele buraco perdido e disfarçado no meio de um campo que não promete riscos é metáfora da adolescência, tanto que o autor opta por não nominar seu personagem, chamando-o apenas de menino, o que contribui para a universalização da narrativa.
Adolescer é adoecer, é buscar possibilidade de compreensão de si mesmo, é conflituar-se. Isto é o que ocorre na aventura do menino no interior do buraco. Buraco quase poço, com poucas possibilidades de libertação, sem espaço sequer para que o corpo possa descansar de forma cômoda, sem chance de que um grito possa atrair salvação. O menino está no interior da terra, sofre, machuca-se em sua luta para atingir a abertura do buraco, por onde observa o tempo passar, o sol se pôr, a noite vir. Precisa enfrentar seus medos e descobrir, sozinho, uma forma de voltar à tona, de emergir da própria terra, como se tivesse de realizar um novo parto. Terra, ventre original.
E, utilizando apenas o material de que dispõe, o menino escalará as paredes do buraco, não sem antes machucar-se, não sem antes repensar a relação paterna. Estar no buraco é ocasião para amadurecimento. Assim, ao sair, vai ao encontro do pai e consegue estabelecer nova relação
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