Muitas crianças têm medo de pequenos, médios ou grandes seres. Os pequenos são os insetos, as abelhas. Os médios são os gatos e cachorros. Os grandes, o hipopótamo, o leão ou a girafa. O maior receio é levar uma picada dolorida ou uma mordida de um cachorro nervoso. Então, a primeira surpresa que o livro de Caio Riter, Eduarda na barriga do dragão, nos revela, é que a menina não levou uma mordida: ela simplesmente mora na barriga do dragão.Parece que a garota escolheu um mundo só seu para viver. Ela não aparenta ter pavor de habitar aquele lugar tão misterioso e, quiçá, perigoso. Enquanto o dragão está quietinho, ela se sente segura, protegida, até procura não fazer barulho para manter o bicho dormindo. Porém, quando ele abre a boca e o mundo exterior se revela, ela fica assustada porque vê coisas terríveis como gente brigando, guerras e até sangue.Muito da beleza desta história está no fato de sugerir como uma criança pode criar um mundo próprio para sobreviver a alguma situação com a qual ela tenha dificuldade em lidar. Eduarda procura, talvez, o lugar mais remoto possível para se esconder, um local onde ninguém irá encontrá-la se ela ficar bem quietinha. Ali pode pensar, criar amigos e descobrir a força que irá levá-la de volta ao mundo real em segurança.Naqueles momentos de escuridão, em um curioso contraste com toda luz que um dragão pode produzir, a garota começa a criar pequenos poemas e volta a se lembrar de como é gostoso o vento em seus cabelos ou a chuva em seu rosto. A luz surge de dentro para fora, em vários sentidos, e uma delicada surpresa fica reservada para o final.O fato de o dragão jamais aparecer por inteiro é um grande achado da ilustradora Elma. Ele permanece misterioso, um bichão tão grande que a criança não tem idéia de seu tamanho. Às vezes apenas um dente nos recorda que a garota vive quietinha no fundo da barriga do monstrão. As cores e o traço são usados de forma sempre lúdica. As ilustrações completam perfeitamente a história uma vez que, por elas, podemos acompanhar a evolução dos sentimentos de Eduarda. De uma menina que aparenta estar receosa, na primeira ilustração, encontramos, na última vez em que podemos ver o seu rosto, um sorriso largo, inspirador.Um belo e delicado livro para todos que, um dia, precisaram criar o seu próprio mundo. Ou o seu próprio dragão...
Trevo da Leitura: Ciclo de leituras e resenhas promovido pela Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil.
Resenhade Manuel FilhoAEI-LIJ/SP
Trevo da Leitura: Ciclo de leituras e resenhas promovido pela Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil.
Resenhade Manuel FilhoAEI-LIJ/SP
Um comentário:
Legal, Caio. É sempre legal ter um livro resenhado, melhor ainda quando é uma resenha elogiosa dessas. Abraços, Christian.
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