Adote
a leitura
A
leitura está em crise. A sentença é forte, sabemos. Todavia, tal crise não é
motivada pela ausência de leitores. Não.
Se é fato que o Brasil não
é, por excelência, um espaço de formação de leitores, é certo que, durante
muitos anos, professores, escritores, mediadores de leitura, contadores de
histórias, ilustradores, entre tantos outros profissionais da área, uniram esforços
para promover mais e mais leitura em nosso país, em nosso estado, em nossa
cidade. É fato também que muitas administrações públicas investiram nesta
ideia, criando projetos como o Autor
Presente, coordenado pelo IEL há mais de 40 anos, e o Adote um escritor, criado pela Smed e pela CRL, que em 2017
completa 16 anos.
Porém, os tempos são outros.
Tempos de acreditar que a
Cultura e a Leitura são produtos de segunda linha; são custo e não
investimento. Carecem os gestores públicos, aqueles que aceitaram cargos para
coordenarem ações educativas e culturais, da certeza de que, com arte, se
constroem novas relações. A leitura, sabemos, possibilita o encontro consigo e
com o outro, aprimora experiências pessoais e permite que nos identifiquemos
com a dor alheia, além de permitir a inserção na cultura, condição máxima para
a cidadania. Penso que, talvez, aqueles que desentendem (ou fingem desentender)
o papel fundamental de projetos de leitura na formação cidadã estejam servindo
a um plano maior: afastar o leitor do livro. Afinal, não permitindo que os
livros invadam as vidas das pessoas, assim como Ray Bradbury tematizou em Farenheit 451, abrem-se caminhos mais
fáceis para a dominação e para a perpetuação de preconceitos.
Os tempos são outros: tempos
de vazio de bibliotecas, tempos em que a propagada “crise” ataca a cultura e a
educação, leva à míngua projetos de leitura fundamentais (e já tradicionais)
para a cidade e para o estado, como o Adote
um Escritor e o Autor Presente,
dificultando o encontro entre leitores e escritores, tendo como ponte os
livros, e suas histórias, e seus poemas. Apresentar os livros a quem pouco
acesso tem a eles é, a meu ver, função primordial de qualquer gestor público,
de qualquer pessoa que acredita no futuro, no sonho, na capacidade de investir
no humano. Assim, se sepultarmos tais projetos de leitura, estaremos tornando
as mentes e os corações mais áridos, mais secos, mais insensíveis, menos
humanos. Estaremos criando tempos mais sombrios.
Livros são sempre tempo de
construção. Nessa medida, é importante que projetos de leitura, como os
citados, sejam revigorados e não sucateados como tem ocorrido nos últimos
tempos.
Que a leitura seja adotada,
amada, promovida. Que todas as administrações pudessem se inspirar em exemplos
como o de Morro Reuter, cidade que vive e respira literatura. Sempre.
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