sexta-feira, 28 de julho de 2017

Artigo: Adote a leitura



Adote a leitura


            A leitura está em crise. A sentença é forte, sabemos. Todavia, tal crise não é motivada pela ausência de leitores. Não.
Se é fato que o Brasil não é, por excelência, um espaço de formação de leitores, é certo que, durante muitos anos, professores, escritores, mediadores de leitura, contadores de histórias, ilustradores, entre tantos outros profissionais da área, uniram esforços para promover mais e mais leitura em nosso país, em nosso estado, em nossa cidade. É fato também que muitas administrações públicas investiram nesta ideia, criando projetos como o Autor Presente, coordenado pelo IEL há mais de 40 anos, e o Adote um escritor, criado pela Smed e pela CRL, que em 2017 completa 16 anos.
Porém, os tempos são outros.
Tempos de acreditar que a Cultura e a Leitura são produtos de segunda linha; são custo e não investimento. Carecem os gestores públicos, aqueles que aceitaram cargos para coordenarem ações educativas e culturais, da certeza de que, com arte, se constroem novas relações. A leitura, sabemos, possibilita o encontro consigo e com o outro, aprimora experiências pessoais e permite que nos identifiquemos com a dor alheia, além de permitir a inserção na cultura, condição máxima para a cidadania. Penso que, talvez, aqueles que desentendem (ou fingem desentender) o papel fundamental de projetos de leitura na formação cidadã estejam servindo a um plano maior: afastar o leitor do livro. Afinal, não permitindo que os livros invadam as vidas das pessoas, assim como Ray Bradbury tematizou em Farenheit 451, abrem-se caminhos mais fáceis para a dominação e para a perpetuação de preconceitos.
Os tempos são outros: tempos de vazio de bibliotecas, tempos em que a propagada “crise” ataca a cultura e a educação, leva à míngua projetos de leitura fundamentais (e já tradicionais) para a cidade e para o estado, como o Adote um Escritor e o Autor Presente, dificultando o encontro entre leitores e escritores, tendo como ponte os livros, e suas histórias, e seus poemas. Apresentar os livros a quem pouco acesso tem a eles é, a meu ver, função primordial de qualquer gestor público, de qualquer pessoa que acredita no futuro, no sonho, na capacidade de investir no humano. Assim, se sepultarmos tais projetos de leitura, estaremos tornando as mentes e os corações mais áridos, mais secos, mais insensíveis, menos humanos. Estaremos criando tempos mais sombrios.
Livros são sempre tempo de construção. Nessa medida, é importante que projetos de leitura, como os citados, sejam revigorados e não sucateados como tem ocorrido nos últimos tempos.
Que a leitura seja adotada, amada, promovida. Que todas as administrações pudessem se inspirar em exemplos como o de Morro Reuter, cidade que vive e respira literatura. Sempre.

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