Amigo se escreve com H, de María Fernanda Heredia, com tradução de Laura Sandroni (Nova Fronteira, 2003), fala sobre a amizade e sobre seus limites. Ser amigo e aceitar o outro nem sempre é tarefa fácil, sobretudo se este outro possui interesses diferentes dos nossos. Narrada em primeira pessoa, o livro é a história de Maria Antônia (a Ant) e H, seu amigo, que se encontram na escola, tornam-se vizinhos de rua e, por fim, amigos de confidenciar segredos. Isso, até o momento em que as expectativas da menina se frustram, quando H lhe revela estar amando e a pessoa amada não ser Ant, mas, sim, a “desprezível” Andréia.
E se a amizade de ambos amorna, é neste aparente distanciamento que Antônia descobrirá o tamanho do afeto que nutre por H e a falta que a presença dele lhe provoca. Afinal, juntos enfrentaram dificuldades escolares; juntos, trocaram e desvendaram medo; juntos, realizaram descobertas de segredos, como o revelado por H ao apresentar vó Edelmira à Antônia. A memória — ou melhor, a perda dela, o esquecimento — mostra-se o maior medo do garoto.
Tal encontro, com certeza, um dos momentos mais belos do texto de María Fernanda Heredia e que mereceria um livro inteiro: o susto do jovem diante da possibilidade do esquecimento e sua luta para permanecer — através da contação de histórias — vivo no coração e na memória de sua avó. Tarefa que destinará à Ant, antes de ir para os EUA estudar. O afastamento físico, no entanto, não será fator a reforçar a perda da memória, visto que o pedido de H sempre ecoará dentro de Antônia, evocando as lembranças dos momentos vividos.
Há, no entanto, na organização estrutural, um senão: o vocabulário elevado e as construções sintáticas que obedecem ao padrão gramatical causam certo artificialismo na linguagem da menina, embora certa passagem no capítulo final busque justificá-la ao referir que Antônia gostava de usar palavras difíceis, tais como “esteio”. Todavia, a voz que estrutura a narrativa (voz que possui uma dicção adulta) é mais que palavras não-usuais por crianças; é expressão madura de quem já viveu a experiência e, distante, avalia o que passou.
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