E se a amizade de ambos amorna, é neste aparente distanciamento que Antônia descobrirá o tamanho do afeto que nutre por H e a falta que a presença dele lhe provoca. Afinal, juntos enfrentaram dificuldades escolares; juntos, trocaram e desvendaram medo; juntos, realizaram descobertas de segredos, como o revelado por H ao apresentar vó Edelmira à Antônia. A memória — ou melhor, a perda dela, o esquecimento — mostra-se o maior medo do garoto.
Tal encontro, com certeza, um dos momentos mais belos do texto de María Fernanda Heredia e que mereceria um livro inteiro: o susto do jovem diante da possibilidade do esquecimento e sua luta para permanecer — através da contação de histórias — vivo no coração e na memória de sua avó. Tarefa que destinará à Ant, antes de ir para os EUA estudar. O afastamento físico, no entanto, não será fator a reforçar a perda da memória, visto que o pedido de H sempre ecoará dentro de Antônia, evocando as lembranças dos momentos vividos.
Há, no entanto, na organização estrutural, um senão: o vocabulário elevado e as construções sintáticas que obedecem ao padrão gramatical causam certo artificialismo na linguagem da menina, embora certa passagem no capítulo final busque justificá-la ao referir que Antônia gostava de usar palavras difíceis, tais como “esteio”. Todavia, a voz que estrutura a narrativa (voz que possui uma dicção adulta) é mais que palavras não-usuais por crianças; é expressão madura de quem já viveu a experiência e, distante, avalia o que passou.
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