Maria vive poeticamente.
E, lá no Instituto da UFRGS, ao nos conhecermos. Simpatia mútua instantânea. E eu, além de poder considerar a Maria parte da minha galeria de afetos, passei a acompanhar sua poesia. Para mim, uma das melhores poéticas atualmente produzidas no Brasil. Porém, por vezes, pouco conhecida. Poesia que busca a origem da palavra, a origem do viver, à medida que parece não interessar à Maria Carpi apenas a arquitetura lírica, mas sobretudo a reflexão sobre a vida. Poesia e filosofia irmanadas nos versos que a voz de Maria canta, e recanta.
Seguem abaixo alguns versos seus, retirados do livro A migalha e a Fome, Editora Vozes, 2001, p.16.
Há coisas que são pensamentos
que sangram. Pensamentos
sem pálpebras, como um olho
de azeite na água. Astro
que não voga as sombras,
astro com árvores sepultas.
Os ramos inclusos. As folhas
inclusas, dobradas. A fruta
inerte. Sem tinta visível no papel.
Há um pensamento que não vinha.
Há poemas que são figos
que não suportam embalagem. (...)
(foto: Cíntia Moscovich, na noite de entrega do Prêmio AGES-Livro do Ano-2006)
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