domingo, 9 de março de 2008

Caio e os escritores 3: Maria Carpi

Conheci, num primeiro momento, as palavras poéticas de Maria Carpi, quando recebi de um amigo o livro Caderno das águas (WSEditor). Bastou mergulhar em sua lírica, repleta de elementos naturais que se abrem a belas imagens e a um vasto universo simbólico, para ser paixão literária. Após, lá por 1998, eu desempenhando a função de professor substituto na UFRGS, ao ministrar a disciplina de Poesia Brasileira, julguei que seria interessante que os alunos pudessem conversar com alguém que fazia da poesia não apenas uma tarefa, mas a própria vida.
Maria vive poeticamente.
E, lá no Instituto da UFRGS, ao nos conhecermos. Simpatia mútua instantânea. E eu, além de poder considerar a Maria parte da minha galeria de afetos, passei a acompanhar sua poesia. Para mim, uma das melhores poéticas atualmente produzidas no Brasil. Porém, por vezes, pouco conhecida. Poesia que busca a origem da palavra, a origem do viver, à medida que parece não interessar à Maria Carpi apenas a arquitetura lírica, mas sobretudo a reflexão sobre a vida. Poesia e filosofia irmanadas nos versos que a voz de Maria canta, e recanta.

Seguem abaixo alguns versos seus, retirados do livro A migalha e a Fome, Editora Vozes, 2001, p.16.

Há coisas que são pensamentos
que sangram. Pensamentos
sem pálpebras, como um olho

de azeite na água. Astro
que não voga as sombras,
astro com árvores sepultas.

Os ramos inclusos. As folhas
inclusas, dobradas. A fruta
inerte. Sem tinta visível no papel.

Há um pensamento que não vinha.
Há poemas que são figos
que não suportam embalagem. (...)

(foto: Cíntia Moscovich, na noite de entrega do Prêmio AGES-Livro do Ano-2006)

Nenhum comentário: