segunda-feira, 24 de março de 2008

De onde nascem as histórias?

A pergunta-título é recorrência em encontros com leitores, em momentos de oficina literária ou em qualquer outra situação em que alguém fica sabendo que escrevo. Há sempre grande fascínio e curiosidade pela atividade de escrever. Este fascínio, muitas vezes, quer apenas desvendar a origem daquilo a que chamamos de inspiração, que — em seu universo de sombra e magia — parece exigir decifração. E, quando me perguntam de onde vêm as histórias, minha resposta é simples (e verdadeira!): Histórias vêm da vida, brotam da experiência. Mas não necessariamente de algo vivido ou experimentado por mim. Não, ficção não é realidade, mas alimenta-se dela. Por vezes, uma frase, uma cena ou uma pessoa podem ser o convite deflagrador para a problematização do viver.
Bem, aí, quando esse pedaço de real começa a latejar em mim, neste momento, percebo que há uma história a ser contada. O primeiro passo é buscar quem está por trás desta história que pede narração: Quem é o protagonista? Que relações humanas ele mantém? Que sonhos possui? O que o atormenta? Destas perguntas iniciais, nasce o tudo.
Afinal, diálogos, cenas, coadjuvantes orbitam em torno daquele que protagonizará o drama que merece ser escrito por mim. E a vida, com suas experiências, minhas e de outros, vai fazendo com que eu mergulhe na interioridade de meu personagem, a fim de conduzi-lo em sua trajetória até o ponto que antevi e ao qual quero que ele chegue. E como tenho contato com muitos adolesentes em minha prática docente, e como escrevo textos que problematizam o adolescer, muitas vezes colho da vida algumas palavras ou personagens, como, por exemplo, uma frase trocada com o Lucas Rossi (um adolescente atípico), via msn, em que ele se dizia sem vocação para ser adolescente, por causa de sua preferência em conviver com adultos. Ao dizer isso, meu amigo referia-se aos adolescentes mais comuns, aqueles meio tipificados. (Tal frase, é claro, acabou sendo vertida em ficção num texto recém-concluído).
Eu, nas histórias que invento, sempre cedo o protagonismo a estes adolescentes especiais, pois quero que meus leitores possam experimentar um outro discurso, um outro modo de adolescer. Assim que surgiram o Renato, de Debaixo de mau tempo, ou o Alexandre, de O tempo das surpresas, ou a Teresa, de O menino do Portinari, ou, ainda, a DJ e o Marcelo, de O rapaz que não era de Liverpool.

Nenhum comentário: