terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Fragmento literário 2
"Mwadia efabulou: a idade das girafas pode ser medida pelas cicatrizes no pescoço. São marcas de lutas de cortejo, despiques pela fêmea desejada. É assim que o amor se escreve na pele dos amantes. No caso do burriqueiro, porém, não era a caligrafia do amor. Era uma assinatura cega de quem escreve para nunca ser lido." - p. 27
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Gente Nova 14: Felipe Stefani
Blog: http://cultuar.blogspot.com/
I
O silêncio invade...
as rotas da indagação.
Existo?
E as flautas do mar recobram o olvido.
II
E eu que amava o sonho dos pássaros,
dizia às vozes imprevisíveis
que dormiam no mar:
“Como posso sonhar,
se a exatidão em que navegam as aves
é maior que a própria vida?”
E as sombras do silêncio repetiam:
“É preciso cantar para invadir o segredo".
domingo, 26 de dezembro de 2010
2010 a mil.
Pena que muitos não enviem fotos dos eventos. Mas, alguns, como a professora Cristina Lemos, de São Leopoldo, lembram de nos mandar amostras de seus projetos. Abaixo, o link do blog que a Cris desenvolve com seus alunos. Lá há uns vídeos sobre meus livros. Valeu, Cris
http://setimahohendorff.blogspot.com/
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Caio Cronista 10: Livros são ponte.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Retratos de Caio 12
O segundo foi feito pela Carolina, minha filha. Retrato do pai com direito à declaração de amor para a mãe. Filhos são sempre elos.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Palavras 27
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Leituras e possibilidades

terça-feira, 30 de novembro de 2010
Fragmento Literário 1
Outras palavras 21 - Vinícius de Moraes
domingo, 28 de novembro de 2010
Crônica: Uma tentativa de dizer por que se escreve
A transpiração citada pelo poeta brota do trabalho, da labuta com as palavras, da briga pela frase mais adequada. Tal trabalho, no entanto, é atitude constante, que, por vezes, com o tato de histórias criadas, passa a ser mais tranquilo, menos penoso.
Escrever é, assim, um prazer, mas também árdua construção. Não apenas do texto. Do próprio escritor que, ao fazer, vai também fazendo-se.
Nasce uma história, um poema. Nascem dois, três. Outros e mais alguns. Todos exigindo paciência, carinho nas palavras, escolhas, sustos, alegrias.
Escrever é, assim, responder a duas básicas perguntas: o que contar? Como contar? Dessa fórmula, brota o texto e suas possibilidades de ir ao encontro do leitor. Afinal, é para isso mesmo que textos são escritos. Para serem ponte, elo, conexão com aqueles que mergulham em mundo criados por outros a fim de melhor entenderem o mundo e melhor se entenderem. Daí, creio, a necessidade dos livros. Daí, creio a premência de muitos escritores em desejarem ver seus poemas e suas histórias virados livros. Isso sempre é possibilidade de voo livre ao encontro do coração do outro.
Escrevemos não para não morrermos, como acreditam alguns. Escrevemos, tenho certeza, para dar vida à vida, para criar novos mundo dentro do nosso próprio mundo. Escrevemos por que estamos vivos, e a vida necessita da palavra.
domingo, 31 de outubro de 2010
Tempo de criançar
E de tanto ouvi-las, acabei também desejoso de eu mesmo contá-las, de eu mesmo vivê-las a cada livro, ou gibi, ou poema, que eu ia descobrindo entre as prateleiras da biblioteca da escola em que eu estudava.
Mergulhar nos livros era como mergulhar dentro de mim mesmo. Lá, nas páginas dos livros, eu podia ser quem eu quisesse, podia viver o que quer que fosse, podia ser herói ou vilão, cachorro ou gente, bicho ou brinquedo. A fantasia sempre se oferecendo para que eu aceitasse o convite de mais e mais aventuras dentro das palavras escritas.
Foram tantos os livros, tantas as histórias, todas elas se tatuando em mim como memória de um tempo bom, passado entre os volumes (grandes ou pequenos, feios ou bonitos, coloridos ou não) repletos de magia, cheios de palavras capazes de criar mundos reais e mundos inventados, como o País das Maravilhas, onde a pequena Alice mergulhou meio sem querer, para descobrir um lugar muito pirado, em que Rainhas loucas só sabiam ficar gritando: "Cortem-lhe a cabeça!", ou em que coelhos brancos vestiam-se com esmero e andavam sempre atrasados. Ah, e As caçadas de Pedrinho, sítio fantástico e ao mesmo tempo simples, em que o pessoal do Pica-pau amarelo vivia as mais impressionantes aventuras. Houve também o menino feito de pau que foi virando gente, o Pinóquio, e o rapaz que roubava dos ricos para dar aos pobres, o Robin Hood, ou até aquele submarino potente que singrava os mares por baixo da água no livro Vinte mil léguas submarinas.
Pois de tanto ler, de tanto provar do doce (às vezes amargo também) sabor da leitura, foi que resolvi escrever. Hoje, além de seguir gostando de ler, inventei pra mim um outro prazer: o da escrita.Sou escritor e, a cada dia que passa, acredito mais e mais que ler mexe com a gente: tanto na mente quanto no coração. Por isso leio, por isso escrevo. E adoraria que quem lesse essa minha breve crônica curtisse ler mais e mais também.
(crônica escrita para ser postada no blog da Band)
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Em Caxias
Maior alegria é que eu fiz parte, mais uma vez, dessa construção.
Mas a Feira é longa, o PROLER apenas uma de suas tantas atividades. A feira, cujo slogan é Ler é iluminar-se, vai até o dia 17 de outubro. Pela praça, ainda passarão muitos escritores, haverá muitos encontros, muitas mesas, muitos leitores em contato com a maior e mais perfeita invenção da humanidade: o livro.
Posso parecer ingênuo, sonhador, mas sei que o que sou devo ao tanto de tempo de minha vida que ganhei ao mergulhar em universos de fantasia no interior de uma biblioteca, ou debaixo de uma árvore, ou deitado em minha cama, ou. Livros não carecem deste ou daquele lugar, não precisam de bateria, não necessitam de nada mais que um coração desejoso de sonho.
Volto a Caxias na quinta. Encontro com leitores dentro do projeto Passaporte da Leitura, que quer — como todo o passaporte — romper fronteiras, propiciar descobertas, desmobilizar almas e corações.
Estive também na feira de Garibaldi, bons momentos entre professores e alunos do Colégio Madre Felicidade. E nessa semana, ainda andarei pela Feira de Gravataí. Outubro parece ser mesmo, aqui no RS, o mês dos livros nas praças e ruas.
Outras palavras 20: Paul Valéry
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Eu, verbete
Eduarda no teatro!
Gosto de ver meus personagens em novas leituras. Creio que a palavra é mesmo semente solta ao vento, caindo nos mais diferentes terrenos e em alguns germinando. Sempre que um livro ganha outras leituras, creio que se abrem mais e mais portas para que sua história possa se enraizar no coração de novos leitores ou para que novos olhares sejam jogados sobre um texto já conhecido. Que venham mais peças, filmes, HQ, jogos de PC, o que vier. Estarei com meu coração escritor-leitor aberto. Sempre!
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Outras Palavras 19 - Mário de Andrade
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Degolada em Cachoeirinha
Maria Degolada
Lenda é história que o povo conta
para assustar as pessoas,
Nem sempre são verdade, mas amedrontam
tudo aquilo que as pessoas aprontam
A Maria Degolada
é mais uma dessas lendas assombradas:
conta que uma mulher muito amada
teve a cabeça cortada.
O soldado Bruno, seu namorada,
estava muito enciumado,
queria que ela fosse só dele,
mas ela não queria casar com ele.
O resultado disso foi uma grande briga,
que acabou em desastre,
a mulher foi degolada,
depois de ser ameaçada.
O Bruno se acusou,
na delegacia se apresentou,
um copo dágua ele ganhou,
na prisão ele entrou e morto ele ficou.
Isso nos faz pensar,
que brigar não é legal,
que ninguém é de ninguém na hora de amar,
temos que respeitar o direito pessoal.
Essa lenda é do século passado,
mas infelizmente coisas assim ainda acontecem,
Então, não seja ultrapassado
e não haja tão errado.
Poema construído pela turma 41, da professora Karen - Cachoeirinha-RS
domingo, 15 de agosto de 2010
Palavras 26
domingo, 8 de agosto de 2010
Palavras 25
sábado, 7 de agosto de 2010
Gente Nova 13 - Thiago Mattos
I
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Eduarda vira peça
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Minhas Luas
Para quem desejar ler a crítica na íntegra, basta acessar o blog do Christian David, através do link: http://cndavid13.blogspot.com/2010/07/as-luas-de-vindor-indicacao-de-livro.html
sábado, 10 de julho de 2010
Caio leitor 16 - Um balé de assombramentos

Caio Riter
Escrever para adolescentes, com originalidade, não é tarefa fácil. Muitos são os autores hoje, pelos mais diferentes motivos, que se aventuram a produzir literatura juvenil. Cada um com seu estilo, cada um com suas crenças, cada um com seu universo particular de temas e de gênero. Confesso que, como leitor e como escritor, me interessam, sobretudo, tramas que contenham dramas humanos. Sim, creio que escrever para jovens não é apenas arquitetar uma trama repleta de peripécias. Algo mais precisa ser construído. Algo de extrema necessidade: personagens singulares, personagens que transponham a fronteira da invenção e tornem-se seres de carne e osso, apesar de serem feitos de verbo.
Assim, quando mergulho num universo em que elementos arcaicos, como a lenda ou o sobrenatural, se fundem com elementos atuais e propiciam a emoção ou o arrepio necessários a um bom texto, o leitor que existe em mim imerge em tal mundo, devora-o, alimenta-se dele e é levado a querer saber até onde a emoção do escritor pode levar a minha. Relação de cumplicidade.
Pois foi o que senti ao abrir as páginas de A bailarina fantasma, de Socorro Acioli, brilhantemente editado pela Biruta, num projeto gráfico digno de prêmio. A cor rosa, as imagens do Theatro José de Alencar, os desenhos em arabescos, tudo reforça o tema central e contribui para o clima de sobrenatural que permeia as duas primeiras partes da história, sabiamente dividida em três atos, como se uma grande história não apenas estivesse sendo narrada ou dançada, mas sentida.
O narrador se deixa comover, embora seja neutro em seu relato. E sua comoção contida abre espaço para os arrepios que eriçaram meu corpo as vezes em que a jovem Clara, bailarina e fantasma, aparece para a protagonista, a jovem assustada Anabela. Porém, não apenas de arrepios tal história se constrói. A emoção, necessária a qualquer texto, independente do público a que se dirige, está presente. O reencontro de Gabriel com a filha que ele julgara morta é emocionante, dá aquele aperto na garganta, traz um certo brilho de água aos olhos. Fica-se a perguntar sobre o que poderiam ter sido aquelas vidas, caso a maldade não tivesse lançado suas garras sobre o destino de Clara e de Gabriel.
Neste sentido, Socorro elabora duas histórias: a de Clara, bailarina virada assombração, cuja lenda faz parte do imaginário cearense e para a qual a autora, através de pesquisa, ficcionalizou uma verdade; e a de Anabela, jovem que tem a capacidade de ver o fantasma da bailarina e que irá ser o elo entre ela e o mundo real, a fim de que uma grande injustiça seja reparada.
Desta forma, o livro de Socorro Acioli não apenas se centra no episódio sobrenatural, que com certeza possui apelo por si só ao coração dos adolescentes (e não apenas deles), mas mergulha na dor das perdas de Anabela. Há vida, pois, nas histórias das duas jovens. Ambas enfrentaram experiências de morte, ambas desejam estabelecer novas relações para si. Aliás, a cena inicial, que é retomada no final, com Anabela enterrando, junto com animaizinhos domésticos mortos, bilhetes para a mãe falecida é de uma originalidade ímpar e de uma beleza singular.
Li com gosto A bailarina fantasma. Livro dos bons, que não subestima seu público e que vai além dele. Afinal, como disse Orígenes Lessa, o bom livro para crianças ou para adolescentes é aquele que é lido com prazer pelos adultos. O que, para mim, com certeza é uma verdade inegável.
Nas teias da Maria Degolada

domingo, 27 de junho de 2010
As luas de Vindor
A Rosana publicou resenha sobre As luas de Vindor, no blog da AEILIJ Paulista. Quem quiser conferir basta acessar: http://aeilijpaulista.blogspot.com/2010/06/um-livro-do-qual-gostei-muito_27.html
sábado, 5 de junho de 2010
Eu no Salão da FNLIJ
Redação SRZD Entretenimento 02/06/2010 17h01
O Salão Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) do Livro para Crianças e Jovens será realizado no Centro Cultural da Ação da Cidadania (Av. Barão de Tefé, 75 - Saúde - Zona Portuária) entre os dias 9 e 19 de junho. O evento reunirá 71 editoras e, como acontece todos os anos, haverá vários bate-papos com escritores e ilustradores, exposições, cursos e seminário. O coquetel de abertura fica por conta de Vera Rezende,do Buffet do Bistro.
Além dos espaços de leitura para crianças e da biblioteca para jovens, esta edição terá duas novidades: a Biblioteca para bebês e a realização do 1º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil. Este ano, o país homenageado será a Coréia do Sul, representada por duas ilustradoras - Suzy Lee e Yang Hye-Won - que vêm ao Brasil especialmente para participar do Salão.
Nomes consagrados já confirmaram presença no evento, entre eles Adriana Falcão, Ana Maria Machado, Bia Hetzel, Caio Riter, Caulos, Eliane Ganem, Fernando Vilela, Flávio Carneiro, Graça Lima, Graziela Bozano Hetzel, Guto Lins, Gustavo Bernardo, Jô Oliveira, Joel Rufino dos Santos, Karen Acioly, Kátia Canton, Luciana Savaget, Luiz Antônio Aguiar, Nilma Lacerda, Roger Mello, Rui de Oliveira, Socorro Acioli e Ziraldo.
Serviço:
Centro Cultural da Ação da Cidadania
Avenida Barão de Tefé 75, Saúde, Centro do Rio
Segunda à sexta-feira: 8h30 às 18h
Sábado e domingo: 10h às 20h
Ingresso: R$ 4
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Mergulho em palavras
Escrevo.
Leio fragmentos do já construído e gosto do caminho traçado.
Escrever tem, para mim, sempre seu tanto de razão e seu tanto de sonho.
Semana que vem estarei no RJ. No salão do LIJ. Vai ser bom.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Novas edições
Atrás da porta azul (2ª edição)
Pergunta de leitora
Tem, Bruna, tem sim. A magia de nos transportar para mundos imaginários, mundos que a gente nem imaginava que podiam existir; a magia de nos transformar em gente mais gente: criativa, imaginativa, crítica; a magia de dar forma à vida; a magia de nos enredar em suas tramas e nos fazer mergulhar em universos fantásticos. Tantas são as magias das palavras.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Mais um patronato
Ontem, na abertura, pude fazer soar o sino que aproximará livros e leitores, através de atividades e de encontros que, espero, possam atiçar no coração de muitas pessoas o desejo pela leitura, pela posse de livros, pela magia da palavra.
O carinho, a simplicidade, a alegria de meus amigos e amigas de Guaíba tem me feito me sentir em casa debaixo daquelas tendas que colorem a praça e parecem gritar para todos que passam que a festa é do livro.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Um novo tesouro
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Crespusculando
Acesse a matéria em http://www.gazeta-rs.com.br/noticia.php?id=9848
sábado, 15 de maio de 2010
Feiras aos montes
Há feiras, e feiras. Nas semanas passadas, estive em Bento Gonçalves, feira que já atingiu a maioridade em sua 25ª edição; feira que desenvolve o projeto A feira vai à escola e em que o escritor é acolhido por seus leitores em seus locais de estudo. Em Bento, estive em quatro escolas. Muitos os carinhos, muitas as atividades, várias as trocas. No final, fica aquele sonho de que alguma palavra dita, alguma palavra lida, possa ter sido semente plantada para, quem sabe um dia, o broto da transformação seja desabrochar.
Ontem também estive em Cachoeirinha, cidade que tem respirado leitura, com seu projeto Livro Lido e seus encontros de formação de professores e de bibliotecários. Sempre é bom respirar palavras. Desta vez, retornei a Cachoeirinha, para participar do II Seminário de contadores de histórias.
Não sou contador profissional, assim apenas falei de minha experiência, memória fixada, retomada, retornada, quando me debrucei sobre a feitura de meu livro A formação do leitor literário em casa e na escola (Biruta). Ao pensar em minha história de leitura, fui percebendo a importância que a brincadeira com as palavras e a contação de histórias feitas por minha mãe tiveram em mim. Adivinhas, parlendas, canções de roda, cantigas de ninar, histórias de assombração, tudo um grande terreno para que o Caio Escritor surgisse. Antes dele, o Caio Leitor.
Sobre isso, foi que falei. Sobre a atração que as histórias têm sobre nós. Qualquer história, em qualquer momento da vida. O resto, diria Shakespeare, é silêncio. Mais nada.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Palavras 24
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Caio Leitor 15 - O pastor de sombras

Ando calado, sei, sobre o tudo lido. Palavras têm seu tanto de agarramento na gente, algumas nos prendem mais, outras provocam maravilhamentos, algumas passam, e só. Livros são assim, podem tatuar marcas na alma da gente ou apenas serem distração. Prefiro os primeiros.
E um que me provocou demais foi O pastor de sombras, escrito pelo meu amigo mineiro, o Luís Giffoni. Amizade construída a partir de um encontro na Feira de Porto Alegre e que se esticou através da troca de longas cartas em papel e caneta. Hoje já não mais, a rotina da vida deixando as trocas mais para e-mails. Mas presentes em forma de livros ainda chegam (e vão) dentro de envelopes pardos. Pois foi assim que Manoel da Cruz, o protagonista de O pastor de sombras, chegou até mim.
Giffoni revive o mundo barroco no que tem de dúvida, de angústia existencial, de jogo com a fé e as contingências da vida. Um padre poderoso, um homem de verdades, que vai se revelando através de sua fé, uma fé que faz concessões em demasia e que nos oferece um retrato chocante, que lanha nossas costas com os mesmos chicotes e açoites que vertem sangue do jovem sobrinho do bispo ao tentar reativar sua fé, nublada por outros saberes, outros desejos. Livro que machuca. Ah, eu andava sentindo falta de algo assim.
domingo, 9 de maio de 2010
Andanças
Cidade de praças e águas termais, de passeios de charrete em meio a automóveis...
Lá conheci pessoas bacanas, gente que, como eu, curte as palavras, lendo-as ou escrevendo-as ou musicando-as.
Cidade de muitas praças, de montanhas, de estátua do Cristo Redentor...
No centro, bem dentro da Casa de Cultura, espaço para livros e para discussão de ideias. Entre os tantos encontros, momentos de conhecer a poesia e a música do Flávio Brasil, gaúcho de Bagé, já no há muito por Porto e a gente sem se cruzar.
Cidade de queijos, de doce de leite, de beijo de moças (o doce)...
Momento também para trocar ideias com o Scliar, sempre palavra tranquila, sempre presença afetiva, nada da vaidade excessiva que, por vezes, assola os "imortais". Sua palestra foi mergulho em sua trajetória de vida e de escrita, foi partilha.No final, dia bacana, pena tenha sido curto para o tanto que Poços oferece.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Abril de leituras e mais leituras
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Troca de ideias no blog da Aeilij Paulista
Márcia Leite pergunta, eu respondo:
Com certeza, grande desafio. Produzir uma coleção que previa duas histórias em cada livro, ambas com o mesmo tema, apenas com o diferencial de dois olhares distintos: um feminino (o seu); outro masculino (o meu), e não ser repetitivo (visto que todas as histórias deveriam ter um narrador em 1ª pessoa) foi tarefa árdua. Todavia, prazerosa. Escrever tem sempre, acho, esta aura de desafio: será que daremos conta da história que nos vai por dentro? Será que as palavras escolhidas darão conta daquilo que desejamos escrever?Confesso que quando recebi o convite, fiquei entre temeroso e atiçado. Era algo novo. Era algo a ser feito em parceria, mas não explicitamente a quatro mãos. Afinal, as escritas foram isoladas, cada um de nós tendo as premissas para a escrita, mas sem qualquer contato com a história que o outro estava produzindo. Uma sintonia mais de ideias, mais de perceber os caminhos possíveis de escrita, a fim de respeitar a criatividade sua e do outro. E isso tudo sem qualquer troca de palavras do tipo: bah, como tá a tua história? Experiência única até agora. Mas que, se possível, pretendo repetir.
Eu pergunto, Márcia Leite responde:
— Escrevemos juntos a coleção Historinhas Bem... E, como você mesma disse, foi um grande desafio produzir um texto à distância e a quatro mãos. Assim, repito a pergunta: como foi tal experiência pra você?
Fizemos uma estranha e fecunda parceria, não é mesmo? A partir de uma consigna bem limitada (tema e foco narrativo em 1ª pessoa) conseguimos fazer milagres. Meu grande desafio foi me libertar do seu fantasma, ou seja, tentar ignorar que você também estava escrevendo uma história para o mesmo livro, com um personagem que vivenciaria situações que poderiam ser semelhantes ou totalmente distintas das que eu estava construindo. Por que, se eu me deixava contaminar pelo seu fantasma, corria o risco de travar. O fato de não nos comunicarmos enquanto escrevíamos foi uma estratégia que facilitou esse descolamento. A troca só de dava quando o texto estava concluído e deixamos para nosso editor a incumbência de nos orientar. Claro que poderíamos palpitar no texto do outro se quiséssemos, mas houve uma espécie de acordo não dito que nos levou ao mesmo procedimento: os livros teriam a impressão digital dos autores em suas histórias. Assim fui perdendo o medo do fantasma do Caio Riter e a coisa deslanchou.Outro desafio, para mim, não sei se para você também, foi o de tentar. trabalhar de um jeito divertido e simples com emoções muito verdadeiras, muito sérias e por isso muito humanas.Foi uma experiência e tanto, e espero que possamos repetir outras tão prazerosas e desafiantes como essa.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Outros passos...
Cada livro novo é momento de expectativa: qual será, afinal, sua trajetória? Que caminhos traçará? Que olhares se voltarão para ele? O que meus personagens terão a dizer a quem com eles se encontrar?
O contato com o leitor sempre é momento bacana. Oportunidade de perceber o quanto minha histórias têm de sonante em corações leitores.
Pois, essa semana, já como retorno do pessoal que encontrei no sábado, recebi e-mail da Liza Caldeira, professora, sempre animada com a leitura, mãe do Henrique, garoto que ama as palavras. Nele, Liza dá conta de seu envolvimento com meu livro. Coisa boa de ler e que quero aqui partilhar com quem se interessa pela minha obra. Meu obrigado, Liza, por palavras tão carinhosas:
Caio,
primeiro parabéns pelo evento que estava maravilhoso, este contato com os autores é sempre muito bom e estava tudo bem organizado, valeu.
Teu livro simplesmente devorei no domingo de chuva, perfeito! Adorei mesmo, parabéns.
Além do texto, excelente, instigante, o tratamento visual do livro é bárbaro com aquelas cores, as ilustrações e alternância de tamanho da fonte ficou superinteressante.
Estão todos de parabéns e eu me senti mais uma vez uma privilegiada por ter na mão um livro de muita qualidade.
Um abraço, Liza
terça-feira, 30 de março de 2010
Entrevista de uma leitora
Seguem as perguntas, Lê. E minhas respostas:
1. Você já escreveu muitos livros, mas qual seu favorito?
Sim, já escrevi vários, acho que já estou atingindo a marca de 28 livros, porém escolher um apenas é algo muito difícil. Cada livro tem sua história e sua importância na minha trajetória de escritor. Gosto de muitos, de quase todos. Gosto de me envolver com meus personagens e, como não quero que nenhum de meus livros se sinta inferior aos demais ou fique triste, não posso admitir preferências. Certo?
2. O livro "Meu pai não mora mais aqui" é um livro juvenil muito interessante, onde buscou inspiração?
A inspiração foi uma história familiar de separação, além de trocas de ideias que mantive com um leitor (e agora amigo): o Tadeu. A maioria das coisas que ocorrem com meus personagens foram colhidas da vida mesmo. Com a Letícia, a história real foi mais disfarçada; com o Tadeu tudo ficou mais explicito. No início desse meu blog, conto como "Meu Pai" surgiu, tem até foto minha com o Tadeu verdadeiro. Mas foi isso. Na verdade, a vida é sempre cheia de muitos motivos literários. É só ficar atento e descobrir as histórias que estão esperando pra serem contadas.
3. Qual o seu tipo favorito de literatura ?
Não tenho um tipo favorito. Gosto de ler. Gosto que a história me envolva, me convença. Só, confesso, não curto muito textos de humor ou de comédia. O resto? Tudo vale! O bom mesmo é deixar se envolver pela magia das palavras. Quer escrevendo, quer lendo.
domingo, 28 de março de 2010
Notícia sobre o lançamento 2
Os leitores jovens ganham, neste sábado, quatro novos bons motivos para ler. É que a editora Artes & Ofícios lança, em Porto Alegre, quatro livros assinados por nomes de destaque da literatura juvenil no Rio Grande do Sul.
Em Aconteceu com Aline e Lucas (120 páginas, R$ 21), a escritora Eliana Martins trata de um tema importante: a gravidez na adolescência. Já em Whatever (128 páginas, R$ 24) o autor Leonardo Brasiliense reúne dez contos que têm como protagonista João Pedro, um jovem que atravessa seus últimos anos de escola - e, consequentemente, as pressões que esse período da vida impões.
O terceiro lançamento é O Outro Passo da Dança (176 páginas, R$ 29), do premiado Caio Riter, que narra a densa história de uma tragédia que muda a vida de três amigos. O quarto livro que chegará aos leitores neste sábado é Do Coração de Telmah (128 páginas, R$ 24), no qual o escritor Luís Dill, sempre atento às novidades tecnológicas que permeiam o universo da juventude, inova mais uma vez na forma ao estruturar o texto em 500 mensagens de twitter.
Os lançamentos ocorrem a partir das 16h, no Absoluto Café (Rua São Manoel, 341, na Capital). A entrada é franca e haverá mesa redonda com o quarteto de escritores, seguida de sessão de autógrafos.
Notícia sobre o lançamento 1
EDITORA FAZ LANÇAMENTO COLETIVO
De uma só tacada, a editora Artes & Ofícios lança hoje, a partir das 16h, no Absoluto Café (São Manoel, 341), quatro livros assinados por nomes expressivos da literatura para jovens produzida no Rio Grande do Sul. Em O Outro Passo da Dança, Caio Riter narra a densa história de uma tragédia que muda a vida de três amigos. Luís Dill inova na forma em Do Coração de Telmah, estruturando a narrativa em 500 mensagens de twitter. Leonardo Brasiliense, cuja carreira alterna contos para jovens e adultos, se dedica a investigar nas narrativas breves de Whatever a tão falada falta de sentido na vida dos adolescentes. E Aconteceu com Aline e Lucas, de Eliana Martins, é mais um título da Coleção Grilos (que já publicou livros de Dill e Riter), que aborda questões cruciais da adolescência em tramas juvenis. Neste caso, a gravidez na adolescência. Os autógrafos serão depois de uma mesa-redonda com os quatro autores. O evento tem entrada franca.
domingo, 21 de março de 2010
Um Outro Passo...
Mais um livro: três adolescentes, cada um com sua dor, com suas neuras, com seus desejos de felicidade. Busquei tramar três conflitos que se cruzam e entrecruzam, fazendo com que seus protagonistas busquem outros passos a serem dados na dança da vida. São capítulos curtos, embalados pela trilha sonora da adolescência, que quer ser diferença, que quer encontrar caminhos próprios para o viver.
Livro novo sempre se entrega ao devoramento e à crítica daqueles que o leem. Assim, espero meus leitores no Absoluto Café (Rua São Manoel, 341) para troca de ideias sobre o escrever. No dia também ocorrerá um curso para quem interessar, com oficinas sobre leitura e mesa-redonda sobre literatura infanto-juvenil, coordenada por Mara Jardim.
Maiores informações através do fone: 33110832, com Cláudia, Divulga Leitura.
Os convites seguem abaixo:
domingo, 14 de março de 2010
Retratos de Caio 11
Outras palavras 18 - Dias Gomes

terça-feira, 9 de março de 2010
Contadores de histórias...
Programação
MARATONA DE HISTÓRIAS INFANTIS – Durante todo o dia haverá sessões de contação de histórias para alunos de escolas e público em geral .
As escolas interessadas em participar do evento deverão fazer agendamento.
Rodadas de historias:
9h: Três tigres com Mario Pirata
9h30- Os Amigos de Elvira com Paulo Bocca
10h: Leo e Albertina com Fabia Barbosa e Adriana Medeiros
10h30- É verdade: um causo de pescador com Monika Papesku
14h: Historia populares para crianças com Grupo Quem conta um conto .
14h30- O baile das portas com Marô Barbieri.
15h: Pra lá e pra cá com Caio Riter.
15h30- Liliput de sorvete e chocolate com Hermes Bernardi Junior.
Local: Sala A2B2 – 2º andar da CCMQ
Ingresso: R$ 5,00 por rodada - Ingresso por turno: R$ 10,00
Ingresso Maratona de historias ; R$ 20,00
Historias para adultos das 17h às 18h30 – Sala C2
Espaço livre para contadores de historias .
OFICINAS:
Do concreto ao abstrato no teatro de bonecos, formas e objetos.
com o Grupo Camaleão Teatro de bonecos.
Do boneco concreto ao abstrato na contação de histórias. Uma previa apresentação de teatro de bonecos, já trazendo uma referencia do concreto até o abstrato. Sensibilidade dos materiais, o que eles por si representam. Construção de uma idéia e a transformação da idéia para a historia. Construção dos personagens e do ambiente ou cenário onde vive o personagem. Construção do agente que fará o desenvolvimento da historia.
Ensaio. Apresentação para os colegas e afinação das ações com as intenções da historia. Apresentação para o grande grupo.
Ministrante: Tânia de Castro e João Vasconcelos
Horário: 9h as 12 e 14h às 17h
Inscrição: R$ 30,00
Local: Sala Pé de Pilão na Biblioteca Lucilia Minssen
O corpo também conta historia com Celso Sisto .
O uso do corpo na arte de contar histórias . Exercícios para melhorar a plasticidade corporal. A exploração do texto e do corpo, mediados pela emoção.
Ministrante: Celso Sisto.
Horário: turma da manhã das 9h as 12h ou turma da tarde 14h as 17h
Inscrição: R$ 25,00
Local: Sala Lili Inventa o Mundo – 5ª andar
PAINEL: “ O PODER E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS”
18:30- – O Fio da palavra narrativa : A formação dos contadores de historias do projeto Fio da palavra (PUC-RS), com Celso Sisto
18:50- Diversidade cultural na área de contação de histórias com Sandra Remedi
19:10- Leitura & Contação com Marô Barbieri
19h30-Contar Historias na Escola Não é Historia de Terror com Paulo Bocca
19h50- A contação de historias como ritual com Lívia Petry
20:10- A contação de historia como espetáculo com Hermes Bernardi
Coordenação geral: Marilia Sauer Diehl – Diretora da Biblioteca Lucilia Minssen
20:30 – Confraternização e entrega dos certificados
Local: Sala A2B2 – 2º andar Casa de Cultura Mario Quintana.
Inscrição do Painel: R$ 15,00. e R$ 10,00 para estudantes .
Haverá certificado de participação.
Reservas e inscrições do evento na biblioteca ou através de deposito bancário na conta da Associação Amigos da Biblioteca Lucilia Minssen : Banrisul – Agencia 0839 – conta nº 41.852295.0-0
sexta-feira, 5 de março de 2010
Um presente poético

Encontro com Chico
(para Caio)
Junto dos amigos
Foi pelo correio
Que o menino Chico
Chegou a meu seio.
Tão logo eu o vi
Bem notei-lhe os traços:
Tinha o riso e o peito
Prontos para o abraço.
Ê, turminha arteira!
Ê, infância enorme!
Depois o mundão
Põe-nos uniforme!
Bem mais sábio, o Chico
– que simplicidade –
Abraçou a vida
E a maior verdade.
Sorte nossa haver
Por aí “tios Pedros”
Pra plantar sementes
De contar segredos...
(Valquíria Gesqui Malagoli)
domingo, 28 de fevereiro de 2010
No Catálogo de Bolonha/2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Contando histórias
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Dia 23, Reinações
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Outras Palavras 17 - Rodrigo Lacerda

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Caio cronista: sete
A rua de minha infância era comprida. Dos dois lados, casas muito iguais, com sua única janela frontal. Acavalado no portão, eu ficava a inventar sonhos para cada uma das pessoas que passavam, a maioria descida do ônibus cuja parada, lá na esquina — esquina que me parecia tão distante —, despejava-os, cansados, apressados, tristes, falantes, em mais um dia de retorno.
A rua da minha infância abrigava um tanto de guris como eu: o Mano, o Feio, o Altair e o André, o Lindomar. Minha rua acolhia também o Mário. A casa dele tinha muro e portão de ferro, e ele era garoto de quase não saídas para as brincadeiras de rua, que ficava observando detrás da fronteira de tijolos.
Mas o Mário tinha o que nenhum de nós possuía: um forte-apache. Grande, colorido, cheio de cavalos, de soldados e de índios, com suas tendas, com seus arcos prontos a dispararem flechas contra a fortaleza que protegia os homens brancos e fardados.
O Mário tinha, guardada em uma enorme caixa de papelão, esta enorme possibilidade de aventuras; aventuras como aquelas que passavam nos filmes da sessão da tarde. E poucos eram os escolhidos para transpor o portão de ferro, para dividir com o Mário a fantástica aventura de dar vida àqueles bonecos de plástico.
Eu era um deles.
E havia algo de sagrado naquela escolha. Havia algo de epifânico, pois nem sempre o Mário atendia ao meu convite de brincar de forte-apache. Creio que, para o meu amigo, aquele brinquedo não representava o que representava pra mim. Afinal, ele era o dono; a ele cabia a liberdade do desejo. Brincar ou não brincar dependia apenas de uma palavra sua e de um abrir de caixa. Caixa sempre de surpresa, embora o que seria visto já fosse conhecido. O maravilhamento estava, hoje penso, nas possibilidades que cada parte do forte-apache suscitava: os muros, a torre de vigia, as bandeiras, os soldados, as montarias, a carruagem, as tendas indígenas, os próprios índios, o fogo-de-chão. Aos poucos, no mover dos elementos, uma história de guerra ia se desenrolando e a fantasia só tinha fim quando a mãe do Mário o chamava.
Era o toque de recolher.
E eu me ia, portão fechado atrás de mim, com o desejo calado na garganta: Mário, tu me empresta o forte?
Nunca pedi.
Ao voltar para casa, prendedores de roupas e pedaços de pau tomavam a forma do meu forte, não tão perfeito e bonito como o do Mário.
Mas meu.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Retratos de Caio 10
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Entre o prazer e o labor da adaptação
Abaixo, fragmento de minha versão para o romance do polêmico Oscar Wilde, ainda no prelo, mas com previsão de publicação para os próximos meses.
Deitado no divã, Henry Wotton podia ver o jardim através da porta aberta do ateliê. Um ou outro pássaro jogava a sombra de seu voo sobre as cortinas das janelas. Apenas isso. No mais, o zumbido monótono das abelhas tornava mais terrível ainda o silêncio daquela tarde. Os ruídos de Londres chegavam vagamente aos ouvidos do rapaz.
No centro do ateliê, sobre um cavalete, havia um retrato: um jovem de corpo inteiro e de extraordinária beleza. Diante dele, à pouca distância, estava Basil Hallward, o artista que pintara tal retrato e que, ao observar a beleza de sua obra, não conseguia conter um sorriso de prazer.
Ainda com o riso nos lábios, Basil se levantou, fechou os olhos e cobriu as pálpebras com as mãos, como se quisesse aprisionar dentro de si algum sonho do qual não quisesse despertar.
— È lindo esse retrato, Basil. O melhor que você já pintou. Com certeza.
O pintor permaneceu estático, mãos sobre os olhos. As palavras do amigo pareciam não provocar qualquer efeito sobre ele.
Henry repetiu:
— Belo retrato. Digno de ser exposto ao público.
— Não penso em expor este quadro — disse Basil, retirando as mãos do rosto e abrindo os olhos.
— Como não? — falou Henry. O amigo pintava sua maior obra e lhe dizia que não a divulgaria em nenhuma exposição. — Mas por quê? Vocês pintores são mesmo esquisitos: lutam pela fama e, quando têm a possibilidade de experimentá-la, a atiram fora. Um retrato como esse iria colocar você em destaque. Provocaria inveja nos jovens pintores. E nos velhos também.